Trecho da BR-010 no norte do TO acumula vítimas e população denuncia situação precária

Uma curva perigosa, buracos que desafiam a habilidade de qualquer motorista e uma ponte estreita e deteriorada. Esse é o cenário de um trecho da BR-010 em Goiatins, no norte do Tocantins, que dá acesso a municípios como Barra do Ouro, Itacajá e Campos Lindos — uma região estratégica para o agronegócio, mas negligenciada quando o assunto é infraestrutura. No centro desse abandono, está a travessia sobre o Rio Aldeia Grande, conhecida pela população como “Ponte da Morte”.

A estrutura precária já custou vidas, interrompeu sonhos e se tornou um monumento ao descaso. Com sinalização deficiente, desalinhada em relação ao eixo da rodovia e há décadas sem manutenção adequada, a ponte transformou-se em armadilha letal. Três mortes recentes escancaram a gravidade da situação: Anielly Ribeiro Figueredo, de 27 anos, vítima de um acidente de moto em 2024; o seminarista Luciano dos Santos Dantas, de 37 anos, em abril de 2022; e o produtor rural Laury Luiz Camera, de 54, em janeiro de 2023.

Dor antiga, promessa adiada

“Desde que me entendo por gente, essa ponte está assim”, desabafa Thalissa Heloísa, que perdeu o pai em um acidente no local. Ela ecoa a revolta de muitos outros moradores: “Quantas famílias precisam chorar para que alguém faça algo?”.

O trecho continua oferecendo risco iminente. No último domingo, 4, o morador Evercino Neres visitou o local e se disse alarmado: “É um convite ao desastre. Só taparam buracos, mas a ponte continua sendo uma sentença de morte”.

Em uma publicação nas redes sociais, o perfil @goiatinstemhistoria ironizou a lentidão das autoridades: “Brasília foi erguida em cinco anos, mas aqui, décadas se passam sem um metro de concreto que garanta segurança”. A postagem viralizou, levando o debate para além das fronteiras da cidade.

Omissão em cadeia

A responsabilidade é compartilhada por diversos entes: DNIT, deputados federais, senadores, Governo do Tocantins e a Prefeitura de Goiatins. Todos são alvos de críticas por parte da população, que cobra ações concretas. “Cadê o amor pela cidade prometido nos palanques?”, questiona um morador, indignado com a inércia dos representantes políticos.

“O DNIT informa que em todo o país as pontes e os viadutos sob jurisdição da autarquia estão sendo inspecionadas e aquelas que necessitam de obras mais urgentes estão tendo seus processos priorizados. A autarquia já realiza o monitoramento da estrutura em tela, de forma a verificar a necessidade de manutenção mais urgente, bem como para inspecionar as condições da sinalização e, se necessário, efetuar a complementação da Obra de Arte Especial (OAE).”

Enquanto isso, a Prefeitura de Goiatins, que deveria liderar a pressão junto ao Governo do Estado e à bancada federal, não apresenta planos concretos nem articulações efetivas.

Medo, revolta e insegurança

A situação afeta diretamente o desenvolvimento da região. O trecho da BR-010 deveria ser corredor do agronegócio, mas hoje afasta até potenciais visitantes. “Como falar em turismo se a entrada da cidade é uma roleta-russa?”, desabafa Kevia Brito, moradora da região que já perdeu amigos na ponte.

A cada novo acidente, a população revive a dor e a revolta. “Estamos isolados não só geograficamente, mas politicamente. Somos esquecidos, ignorados”, comentou um agricultor em um grupo local.

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