Todo motorista já usou o celular como parceiro de direção — seja para traçar rotas no Waze, pedir uma corrida por apps de mobilidade ou conferir o consumo do carro com algum aplicativo. Mas o que pouca gente imagina é que esse mesmo aparelho, que já foi essencial no dia a dia ao volante, pode esconder um segredo valioso quando vai para o lixo. Cientistas descobriram que dentro de celulares, computadores e até micro-ondas usados, existe ouro — e agora desenvolveram uma forma surpreendente e ecológica de recuperá-lo. A revelação veio de um laboratório na Suíça e envolve até um ingrediente comum da cozinha: o soro de leite.
Pontos Principais:
- Celulares usados em apps como Waze e Uber contêm pequenas quantidades de ouro.
- Cientistas da ETH Zurich criaram uma técnica sustentável para extrair ouro com soro de leite.
- A “esponja” feita de proteínas filtra o ouro com até 91% de pureza a partir de placas dissolvidas.
- A técnica não é caseira, mas pode revolucionar a reciclagem eletrônica e reduzir impactos ambientais.
Quer saber como isso tudo se conecta com o universo automotivo e por que reciclar corretamente seus eletrônicos pode até impactar a indústria de peças e conectividade nos carros? Acompanhe essa história que mistura tecnologia, sustentabilidade e uma pitada de ciência aplicada — com muito mais valor do que parece à primeira vista.
Uso de ouro em eletrônicos e o impacto do descarte

Grande parte dos dispositivos eletrônicos modernos utiliza ouro em suas estruturas internas. Isso se deve à condutividade e à resistência à oxidação do metal, características essenciais para conexões estáveis em placas de circuito e componentes sensíveis. Telefones celulares, computadores, televisores, micro-ondas e outros equipamentos contêm pequenas quantidades do metal.
O uso disseminado gera um paradoxo: apesar de ser valioso, o ouro vai parar no lixo quando os aparelhos são descartados. O volume global de resíduos eletrônicos é expressivo. Apenas em 2023, foram produzidas cerca de 53 milhões de toneladas desse tipo de resíduo. Descartar esse material de forma inadequada representa um prejuízo ambiental e econômico significativo.
O problema do descarte eletrônico não se limita à perda de materiais como ouro. Também envolve riscos à saúde pública e à poluição do solo e da água, em razão da presença de metais pesados como chumbo e mercúrio. Com isso, torna-se urgente desenvolver formas sustentáveis de reaproveitamento dos componentes presentes nos dispositivos.
Técnica com soro de leite e processo de filtragem
Pesquisadores da ETH Zurich anunciaram uma alternativa inédita para recuperar ouro a partir de placas de circuito eletrônico. A proposta envolve um ingrediente comum na indústria alimentícia: o soro de leite. Por meio de uma modificação química das proteínas presentes nesse subproduto, os cientistas obtiveram um material poroso capaz de filtrar ouro.
O procedimento se baseia em quatro etapas principais. A primeira é a transformação do soro em uma espécie de esponja com microestruturas porosas. Em seguida, placas eletrônicas são dissolvidas com o uso de ácido, liberando os metais contidos nelas. Após a dissolução, a esponja é introduzida para capturar exclusivamente o ouro, separando-o de outros elementos.
Na etapa final, o ouro retido passa por um processo de purificação que gera partículas sólidas com até 91% de pureza. De acordo com os responsáveis pela pesquisa, foi possível extrair aproximadamente R$ 170 mil em ouro a partir de apenas 10 placas de circuito eletrônico, o que demonstra o potencial econômico da tecnologia.
Aplicação industrial e limitações domésticas
Apesar de utilizar um ingrediente aparentemente simples, o método não deve ser reproduzido fora de ambientes laboratoriais. Isso porque o processo envolve manipulação de ácidos corrosivos e exige controle de temperatura e pressão que não podem ser realizados com segurança fora de equipamentos especializados.
A proposta dos cientistas é criar alternativas para centros de reciclagem industrial, com foco na redução dos impactos ambientais causados pelo descarte eletrônico. A meta é ampliar a recuperação de metais preciosos e promover o reaproveitamento de recursos, evitando a extração de novos materiais da natureza.
Com o avanço da tecnologia e a crescente produção de resíduos eletrônicos, a tendência é que soluções como essa ganhem espaço em políticas públicas e modelos de economia circular. O aproveitamento de subprodutos como o soro do leite reforça a possibilidade de conectar setores industriais distintos na busca por soluções sustentáveis.
Desafios da implementação em larga escala
Um dos principais entraves para a aplicação global da técnica é a viabilidade econômica e logística. A coleta e triagem de equipamentos eletrônicos ainda é limitada em muitas regiões, dificultando o acesso a placas de circuito que poderiam ser reaproveitadas. Outro ponto é o custo de adaptação das usinas de reciclagem para adotar processos com controle químico rigoroso.
Além disso, há a necessidade de regulamentação e certificação das novas tecnologias, para garantir que a extração seja segura e não gere novos tipos de poluição. O uso de ácidos e reações químicas precisa ser acompanhado por mecanismos de neutralização e descarte correto de resíduos secundários.
Mesmo com esses obstáculos, o estudo da ETH Zurich apresenta uma perspectiva concreta para mudar a forma como o lixo eletrônico é tratado. O foco está em tornar viável uma cadeia produtiva que não apenas reduza os impactos ambientais, mas também gere valor econômico a partir de resíduos subestimados pela indústria.
Importância da conscientização sobre o descarte
Enquanto tecnologias industriais são desenvolvidas, a população em geral pode colaborar com medidas simples. A principal delas é encaminhar equipamentos antigos para pontos de coleta especializados, como centros de reciclagem de eletrônicos mantidos por prefeituras, empresas ou instituições de pesquisa.
Evitar o descarte de celulares, computadores e outros dispositivos no lixo comum reduz os danos ambientais e aumenta a possibilidade de recuperação dos materiais. Também é importante acompanhar políticas públicas que incentivem o reaproveitamento de resíduos e a logística reversa, temas cada vez mais debatidos em fóruns internacionais.
A educação ambiental e o acesso a informações sobre o destino dos resíduos eletrônicos são fundamentais para ampliar o alcance dessas soluções. Embora a tecnologia com soro de leite ainda esteja em fase de desenvolvimento, iniciativas individuais de descarte consciente já contribuem para construir um sistema mais sustentável.
Fonte: Nsctotal e Gizmodo.
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