Quem é Júlio Cesar de Arruda? General exonerado por Lula após o 8 de Janeiro depõe ao STF no processo de tentativa de golpe

O Supremo Tribunal Federal iniciou nesta quinta-feira (22/05/2025) a oitiva de testemunhas de defesa no processo que investiga uma tentativa de golpe de Estado envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro. Entre os convocados está o general da reserva Júlio Cesar de Arruda, que chefiava o Exército no momento dos ataques às sedes dos Três Poderes e foi exonerado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva dias após os eventos de 8 de janeiro de 2023.

Pontos Principais:

  • General Júlio Cesar de Arruda depõe ao STF como testemunha de Mauro Cid.
  • Arruda foi exonerado por Lula após resistência a ordens do novo governo.
  • Depoimento detalha atuação do Exército nos eventos de 8 de janeiro de 2023.
  • Outros sete militares também prestam depoimento como testemunhas de defesa.
  • O julgamento busca esclarecer a atuação do núcleo militar na tentativa de golpe.

Arruda foi uma das oito testemunhas indicadas pelo tenente-coronel Mauro Cid, que atuava como ajudante de ordens de Bolsonaro à época. Cid firmou acordo de delação premiada e tem colaborado com as investigações conduzidas pela Procuradoria-Geral da República. A presença de Arruda entre os nomes de defesa levanta expectativa sobre o conteúdo do depoimento, especialmente no que diz respeito à atuação do Exército antes, durante e depois da tentativa de subversão institucional.

General Júlio Cesar de Arruda depõe ao STF como testemunha de Mauro Cid. Ele foi demitido após resistir a ordens do governo Lula logo após o 8 de Janeiro - Foto: Divulgação/ALMT
General Júlio Cesar de Arruda depõe ao STF como testemunha de Mauro Cid. Ele foi demitido após resistir a ordens do governo Lula logo após o 8 de Janeiro – Foto: Divulgação/ALMT

O depoimento ocorre no contexto de um julgamento que mira o chamado “núcleo militar” da suposta trama golpista. Além de Arruda, outros sete militares, entre generais, capitães e um sargento, estão agendados para prestar depoimento nesta mesma data, conforme previsto na ação penal em curso no STF.

Contexto da exoneração de Arruda

Júlio Cesar de Arruda foi nomeado interinamente para comandar o Exército em 28 de dezembro de 2022, durante o período de transição entre os governos Bolsonaro e Lula. A sua permanência no cargo, no entanto, durou apenas 21 dias. A decisão de retirá-lo da função foi tomada pelo presidente Lula após episódios de resistência interna no comando da força terrestre.

Entre os fatores que influenciaram a exoneração está a postura de Arruda diante da indicação de Mauro Cid para comandar uma unidade de elite do Exército, o 1º Batalhão de Ações e Comandos, com sede em Goiânia. Apesar do novo governo discordar da nomeação, o então comandante manteve a decisão, que foi revertida logo em seguida por seu sucessor, o atual comandante Tomás Paiva.

Outro ponto de tensão foi a atuação do general em relação aos acampamentos montados por apoiadores de Bolsonaro diante de quartéis do Exército. Segundo integrantes do governo federal, Arruda resistiu à desmobilização desses grupos, mesmo após os atos violentos ocorridos na Praça dos Três Poderes. Sua conduta também foi criticada por impedir a prisão imediata de manifestantes envolvidos nas ações de 8 de janeiro.

Detalhes do depoimento ao STF

O depoimento de Arruda ao STF é considerado estratégico dentro da defesa de Mauro Cid. A expectativa é que o general aborde sua percepção dos fatos relacionados à movimentação de tropas, à presença de militares nos atos e à dinâmica do Exército naquele período. Como ex-comandante, ele pode oferecer esclarecimentos sobre decisões tomadas internamente que tiveram impacto direto nos desdobramentos da crise institucional.

Além de Arruda, sete outros militares serão ouvidos como testemunhas de defesa. Entre os convocados estão quatro generais, um coronel, dois capitães e um sargento. A inclusão de oficiais de diferentes patentes tem como objetivo apresentar uma visão ampla da cadeia de comando e da conduta adotada pelas forças armadas.

A audiência desta quinta-feira marca o início da fase de depoimentos das testemunhas de defesa no processo. Nos dias anteriores, o Supremo já havia colhido os relatos de nomes indicados pela acusação, incluindo os ex-comandantes da Aeronáutica e do Exército, que confirmaram conversas com Bolsonaro sobre a possibilidade de anular o resultado das eleições de 2022.

Repercussões políticas e institucionais

A convocação de militares de alta patente como testemunhas de defesa reacende o debate sobre a participação de setores das Forças Armadas nos eventos investigados. Embora o governo atual busque evitar a generalização de responsabilidades, declarações de figuras como Arruda são vistas como peças-chave para a compreensão da relação entre o antigo governo e os comandos militares.

O episódio também reforça o esforço do STF em apurar com rigor todas as conexões possíveis entre os atos golpistas e integrantes das estruturas formais de poder. A inclusão de testemunhas militares que tiveram papel relevante durante o período em análise permite ao tribunal ampliar o escopo das investigações sem recorrer a julgamentos genéricos ou imputações coletivas.

Do ponto de vista institucional, o depoimento de um ex-comandante do Exército em um processo de tentativa de golpe é um evento inédito no Brasil democrático pós-1988. A forma como o Judiciário e os militares lidam com esse tipo de convocação pode estabelecer precedentes sobre a responsabilidade e a transparência exigidas dos altos comandos em momentos de crise.

Outros desdobramentos da investigação

O avanço do processo no STF ocorre paralelamente a outras frentes de investigação que envolvem figuras do antigo governo, como o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele também indicou Arruda como uma de suas testemunhas na mesma ação penal, o que reforça o papel central que o general pode desempenhar na reconstituição dos acontecimentos.

A delação de Mauro Cid, por sua vez, continua a produzir impactos. Informações reveladas em sua colaboração já levaram a prisões preventivas, ações de busca e apreensão e reforçaram os indícios de que havia um plano articulado para contestar, de forma ilegal, o resultado das eleições presidenciais. Documentos e mensagens digitais apreendidos reforçam essa linha de apuração.

As oitivas previstas para os próximos dias devem continuar lançando luz sobre a extensão e a natureza do envolvimento militar na tentativa de ruptura institucional. O Supremo Tribunal Federal pretende concluir esta fase de instrução ainda nas próximas semanas, abrindo caminho para as etapas finais do julgamento.

Fonte: Oglobo e Cartacapital.

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