Onde vai ser o final da Europa League? Onde assistir e hora do jogo Tottenham x Manchester United

A final da Liga Europa 2024/25 entre Manchester United e Tottenham, disputada no estádio San Mamés, em Bilbao, vai muito além das quatro linhas. O palco da decisão, casa do Athletic Club, se tornou um símbolo político e cultural do movimento separatista basco, em uma região onde o futebol convive com a resistência por autonomia. Entre bandeiras vermelhas e brancas, o estádio se transforma em vitrine da identidade do País Basco, ou Euskal Herria, cuja luta por independência da Espanha se estende há séculos.

Enquanto os clubes ingleses entram em campo por um título europeu, a população basca continua reivindicando um troféu mais antigo e complexo: o direito à autodeterminação. A região, que compreende áreas da Espanha e do sudoeste da França, carrega uma língua única e milenar, reprimida durante a ditadura de Franco e agora reavivada nas escolas, praças e arquibancadas. A presença de bandeiras do País Basco em cada jogo do Athletic Bilbao é a expressão mais visível dessa resistência.

O próprio clube basco é um dos símbolos dessa cultura. O Athletic se recusa a contratar jogadores que não tenham vínculos com a região, e essa política virou símbolo de identidade. Casos como o do goleiro Vicente Biurrun, nascido em São Paulo, mas de família basca, mostram como o clube define sua formação com base em raízes e pertencimento. O San Mamés, portanto, representa mais do que um estádio: é uma casa política, cultural e esportiva.

Historicamente, o País Basco enfrentou repressão violenta, especialmente durante o regime de Francisco Franco, entre 1939 e 1975. Foi nessa época que o idioma basco foi proibido e cidades como Guernica foram bombardeadas. A imagem dessa violência ficou eternizada na pintura de Pablo Picasso, “Guernica”, que denunciou os horrores da guerra e da ditadura. Esse passado ainda ecoa nas reivindicações políticas atuais, mesmo após a redemocratização da Espanha.

O grupo ETA, que marcou a luta separatista com ataques violentos desde 1959, encerrou suas atividades apenas em 2018. Apesar do fim do terrorismo, as bandeiras da independência continuam erguidas, e o País Basco segue buscando caminhos institucionais para ampliar sua autonomia. Hoje, o ensino da língua basca é garantido, e a identidade regional é promovida abertamente, mas a ferida da repressão ainda marca a memória coletiva.

Esse contexto se torna ainda mais visível quando o futebol oferece uma vitrine internacional, como ocorre nesta final europeia. A escolha do San Mamés para o confronto de hoje não é neutra: ela expõe um território que, embora faça parte da Espanha, não se reconhece totalmente como espanhol. É o mesmo fenômeno que ocorre com a Catalunha, cuja tensão separatista também se manifesta nos gramados e nas arquibancadas, especialmente por meio do Barcelona.

Com uma população que valoriza fortemente suas tradições, o País Basco é uma das regiões mais culturalmente coesas da Europa. O futebol, nesse cenário, atua como meio de expressão política e de afirmação. A presença de Iñigo Martínez, zagueiro basco que defende o Barcelona, vestindo ora a bandeira da Catalunha, ora a do País Basco, ilustra o entrelaçamento das lutas regionais dentro do universo esportivo espanhol. Em um jogo de título europeu, a disputa por reconhecimento segue viva – mesmo que fora das quatro linhas.

Fonte: Gazetaesportiva e Ge.

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