
Após participar de uma missão internacional sobre saneamento ambiental e gestão de resíduos sólidos em Itália e Portugal, a senadora Professora Dorinha (União Brasil) fez um balanço exclusivo à Gazeta do Cerrado sobre os aprendizados obtidos na viagem e revelou articulações para que soluções sustentáveis e acessíveis também cheguem ao Tocantins e aos municípios do estado.
A missão ocorreu entre os dias 27 de abril e 7 de maio, como parte do Benchmarking Internacional Saneamento e Resíduos Itália–Portugal, promovido pela Lavoro Solutions, com o apoio institucional de órgãos como o Ministério da Integração Nacional e a Agência Nacional de Águas (ANA). Dorinha representou o Senado como presidente da Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo (CDR).
Diagnóstico e choque de realidade
Segundo a senadora, a experiência foi transformadora. “Confesso que voltei com a cabeça muito mexida. Só quem visita empresas públicas e privadas que tratam o lixo, o chorume e a água como eu visitei, entende a gravidade do nosso atraso”, relatou. “Lá, a coleta seletiva começa na escola. E é preciso ensinar que não basta separar o lixo: é preciso limpar a embalagem, garantir o reaproveitamento real”, enfatizou.
Dorinha visitou centros de tratamento que utilizam tecnologias de ponta, como esteiras inteligentes que separam automaticamente o lixo, sensores que identificam embalagens biodegradáveis e compostagem em larga escala. “O que chega ao aterro é o mínimo do mínimo, porque tudo que pode ser aproveitado é reutilizado. É uma cadeia de sustentabilidade que dá certo”, pontuou.
Lixões, chorume e saúde pública
Durante a entrevista, a senadora fez duras críticas à continuidade dos lixões no Brasil e no Tocantins. “Já prorrogamos todos os prazos possíveis. Não existe mais justificativa para manter lixão a céu aberto. E o problema não é só ambiental — é de saúde pública. O chorume que escorre desses locais contamina o lençol freático, causa doenças e, em muitos casos, está sendo indevidamente misturado ao esgoto tratado”, alertou.
Ela citou experiências de Goiás e de municípios tocantinenses onde a prática irregular de descarte continua a colocar vidas em risco. “Doenças de pele, queda de cabelo, contaminação de água potável. A população está adoecendo por negligência ambiental”, lamentou.
Soluções práticas e consórcios municipais
Com base nas experiências vistas no exterior, a senadora pretende fomentar, no Tocantins, a criação e o fortalecimento de consórcios municipais para gestão integrada do lixo. “Vi casos bem-sucedidos em Portugal onde os consórcios permitem a implantação de sistemas mais eficientes. Nenhum município pequeno consegue resolver isso sozinho”, explicou.
Dorinha citou os consórcios do Vale do Araguaia e da região metropolitana de Palmas como referências e anunciou que vai buscar recursos do Fundo de Desenvolvimento da Infraestrutura de Saneamento (FIDIS) e do Ministério da Integração para apoiar projetos no estado. “Vamos trabalhar para trazer técnicos do ministério e montar planos com base nas experiências mais viáveis, respeitando as realidades de cada município”, disse.
Tecnologias acessíveis para comunidades vulneráveis
Outra frente que será articulada é o uso de tecnologias simples e acessíveis para garantir água potável em assentamentos, aldeias indígenas e comunidades rurais. “Vi equipamentos compactos, de baixo custo, capazes de purificar de 70 a 150 litros de água por hora. São ideais para áreas remotas do Tocantins”, afirmou. Ela mencionou ainda a possibilidade de incluir esses itens no “cardápio de soluções” da Codevasf.
A senadora também mencionou o potencial da indústria do biogás, observada em diversas cidades visitadas. “São soluções que reduzem a conta de energia e ainda geram renda. Precisamos investir nisso”.
Educação e responsabilidade compartilhada
Para Dorinha, a mudança começa pela conscientização: “O papel da educação é central. É nas escolas que começa a cultura da coleta seletiva, da responsabilidade ambiental. A solução do lixo não é apenas técnica — é também pedagógica.”
Ela destacou ainda a corresponsabilidade de empresas na logística reversa: “Quem produz uma embalagem precisa ser responsável por tirá-la do meio ambiente. Lá, na Europa, se a empresa não recolher, ela é multada. Aqui, precisamos avançar nesse debate.”
Benefícios para o Tocantins
Ao final da entrevista, Dorinha reforçou que a missão já rende frutos. “Voltamos com um novo olhar, com alternativas reais e viáveis. Agora, quero sentar com o governador, com os prefeitos e com o Ministério para pensar soluções conjuntas. Temos consórcios funcionando, temos recursos disponíveis, só falta articulação.”
A senadora reafirmou que seu mandato continuará ativo em temas estruturantes. “Enquanto parlamentar e presidente da Comissão de Desenvolvimento Regional, vou trabalhar pela regularização dos resíduos sólidos, pela aplicação correta dos recursos e pela proteção da saúde da população”, concluiu.