
No total, somando antes e depois do confinamento, foram 33 meses de espera – quase três anos – até o habemus papam mais demorado da história. Conheça a história da escolha de um papa que demorou 1006 dias pra terminar
O Jornal Nacional esteve na Praça São Pedro, no Vaticano, para a cobertura do conclave. As últimas cinco eleições de um papa não demoraram mais que três dias. Mas nem sempre foi assim. Mais de 700 anos atrás, os cardeais precisaram de torturantes 1.006 dias para escolher um pontífice. E foi por isso que surgiu o conclave.
A equipe do Jornal Nacional deixou Roma, pegou uma chuva bíblica, mas por uma história que vale a pena. O Jornal Nacional dirigiu uma hora da capital da Itália até a cidade de Viterbo, o Vaticano de antigamente. Viterbo foi sede do Estado pontifício. Terra de um dos maiores e mais bem preservados bairros medievais da Europa. De comida da boa e de um conclave um tanto bizarro.
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Faz tempo. O ano era 1268. O Papa Clemente IV tinha morrido. Os cardeais, então, se reuniram no Palácio Papal de Viterbo, em uma sala preservada até hoje, uma grande sala. Mas os cardeais não chegavam em um consenso de jeito nenhum, principalmente italianos e franceses. Passaram-se dias, semanas, meses. A demora foi tão absurda que dois cardeais morreram de velhice.
Aí os moradores encontraram uma solução não muito santa. O povo fechou a porta, trancou os cardeais. Foi daí que veio a palavra “conclave” – trancados “a chave”. Mas para os moradores irritados – que pagavam pela manutenção do Palácio – não bastava só isso. O povo arrancou o telhado do Palácio para os cardeais escolherem logo um papa. Era inverno na Europa. Disseram que era para o Espírito Santo entrar na sala com mais liberdade para agilizar as coisas.
Viterbo, o Vaticano de antigamente
Jornal Nacional/ Reprodução
A última cartada dos moradores foi diminuir as refeições dos cardeais. O povo cortou vinho e carne, deixou só água e pão. Funcionou. No total, somando antes e depois do confinamento, foram 1.006 dias de espera – 33 meses, quase três anos – até o habemus papam mais demorado da história.
O padre José – cearense íntimo de Viterbo, vive na Itália há coisa de 30 anos – explicou que, na época, a queda do Império Romano ainda causava efeitos:
“E a igreja, nesse sentido, se fazia como guardiã, não somente do ponto de vista espiritual mas também do ponto de vista político. E o povo começou a ter realmente angústia e dizer: mas quem vai nos proteger? Chegou um momento que se disse: ‘Basta. A gente não consegue mais. Vocês têm que se decidir’”.
A arqueóloga do Palácio de Viterbo mostrou para o Jornal Nacional o único documento do primeiro conclave da história. O pergaminho diz na frase final que os cardeais tomaram a decisão em um palácio “discoperto” – sem teto. Os carimbos – a assinatura da época – dos 16 cardeais que, sob uma pressão de não se esquecer, elegeram o italiano Teobaldo Visconti, o Papa Gregório X.
A arqueóloga Elena explicou que a demora foi um marco tão constrangedor para a Igreja que resultou nas primeiras regras do conclave – perto das que a gente conhece hoje.
A partir de quarta-feira (7), concentrados, confinados – e sob o teto -, os cardeais não devem demorar a escolher o novo papa. Viterbo ensinou: uma porta bem trancada faz milagre.
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