‘Rezem por nós’: cardeais fazem última reunião antes do conclave


Duração média dos últimos 10 conclaves foi de pouco mais de três dias, e nenhum durou mais de cinco. Votação demorada indicaria falta de consenso sobre os rumos da instituição. Cardeal Agostino Marcheto caminha em Roma, na Itália, para reunião pré-conclave, em 6 de maio de 2025.
Marko Djurica/ Reuters
A menos de 24 horas para o início do conclave que elegerá o novo papa, os 252 cardeais da Igreja Católica chegaram na manhã desta terça-feira (6) ao Vaticano para a última reunião antes do início do processo secreto de eleição.
Nesta manhã, os cardeais, que atravessam ruas de Roma em direção ao Vaticano, cercado de jornalistas, fiéis e turistas, mostraram-se mais fechados que nos dias anteriores.
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Também nesta terça, os 133 cardeais votantes começarão a se instalar na residência de Santa Marta, no Vaticano, para o início do conclave.
Cardeais Gerhard Ludwig Mueller, Giuseppe Versaldi e Lorenzo Baldisseri atravessam rua a caminho da última reunião dos clérigos antes do conclave, em 6 de maio de 2025.
Dylan Martinez/ Reuters
Novos podem atrasar
Operários preparam a Capela Sistina para a realização do conclave, em Roma, em 28 de abril de 2025
Vatican Media via AP
Se os cardeais da Igreja Católica não tiverem escolhido um novo papa até o terceiro dia do conclave, que começa na quarta (7), então as coisas não estarão saindo como planejado.
Conclaves curtos, encerrados em poucos dias, projetam uma imagem de unidade, e a última coisa que os cardeais de vestes vermelhas querem é dar a impressão de que estão divididos e que a Igreja está à deriva após a morte do Papa Francisco, no mês passado.
“No máximo três dias”, previu com confiança nesta semana o cardeal salvadorenho Gregorio Rosa Chavez, antes da votação secreta que ocorrerá na Capela Sistina.
A duração média dos últimos 10 conclaves foi de 3,2 dias, e nenhum durou mais de cinco. As duas últimas eleições — em 2005, quando o Papa Bento XVI foi escolhido, e em 2013, quando Francisco emergiu vencedor — foram concluídas em apenas dois dias.
O conclave ocorre ao longo de quantas rodadas de votação forem necessárias até que um candidato obtenha uma maioria de dois terços, o que desencadeia a fumaça branca que anuncia ao mundo que um novo papado começou.
“Claramente, quanto mais votações há, mais difícil a situação se tornou. Mas os sinais indicam que eles querem avançar rapidamente”, disse Giovanni Vian, professor de história do cristianismo na Universidade Ca’ Foscari de Veneza.
Alguns dos 133 cardeais esperados na Capela Sistina na quarta-feira são considerados “papáveis” — possíveis papas — há anos. Outros só ganharão destaque durante as atuais reuniões diárias, conhecidas como congregações gerais, nas quais os cardeais discutem o futuro da Igreja.
Quando Francisco morreu, a maioria dos observadores do Vaticano via o cardeal italiano Pietro Parolin e o prelado filipino Luis Antonio Tagle como os principais favoritos, com uma série de outros possíveis candidatos logo atrás.
Cardeais se reúnem durante procissão com o corpo do papa Francisco, em 23 de abril de 2025
Alessandra Tarantino/AP Photo
Escolhas sérias
A votação inicial, na tarde do início do conclave, frequentemente serve como uma espécie de teste informal, em que diversos nomes são amplamente mencionados.
Alguns desses votos são simbólicos, oferecidos como gestos de respeito ou amizade antes que a votação mais séria comece no dia seguinte, quando a força dos favoritos pode ser avaliada.
A partir do segundo dia, são realizadas duas votações pela manhã e duas à tarde. De acordo com as regras do conclave, se ninguém for escolhido após os três primeiros dias, os cardeais devem fazer uma “pausa de oração” de um dia antes de continuar.
Logo ficará claro se há um candidato viável à frente ou se será necessário recorrer a um nome de consenso.
“Se não tivermos um novo papa rapidamente, isso mostrará que o impulso pelos favoritos se esgotou muito rapidamente”, disse o padre jesuíta e comentarista do Vaticano, Thomas Reese.
“Também reforçará o fato de que há muitos cardeais ali dentro e que eles simplesmente não se conhecem muito bem”, acrescentou.
O Papa Francisco nomeou cerca de 80% dos cardeais eleitores, muitos deles em dioceses distantes, numa tentativa de fortalecer a Igreja em áreas onde antes tinha pouca presença.
Isso significa que será o primeiro conclave para a grande maioria dos participantes e que muitos dos que estarão sentados sob os famosos afrescos de Michelangelo terão tido pouca oportunidade de se conhecer previamente.
Isso pode abrir espaço para os chamados “grandes eleitores”, que surgiram discretamente em anos anteriores para promover candidatos nas reuniões pré-conclave e depois influenciar opiniões à medida que o contorno da votação se define.
Conclave para escolher o novo Papa começa na quarta-feira
Juramento de sigilo
Todos os cardeais negariam fazer campanha para uma eleição que acreditam ser guiada pelo Espírito Santo. Mas, embora nenhuma discussão seja permitida durante as sessões de votação, os cardeais são livres para trocar ideias durante as refeições em Santa Marta, a residência do Vaticano onde a maioria estará hospedada.
Eleitores habilidosos podem identificar um candidato de consenso capaz de atrair votos de todos os lados, disse o historiador Vian.
Quando os cardeais se reuniram para seu segundo conclave de 1978, após a morte repentina do Papa João Paulo I, Franz Koenig, de Viena, mobilizou os cardeais de língua alemã, e John Krol, polonês-americano, os prelados dos EUA, para apoiar o pouco conhecido polonês Karol Wojtyla, que se tornou o Papa João Paulo II em três dias.
Com o foco aparentemente nas disputas doutrinárias antes do conclave, o alemão Gerhard Mueller tem dado entrevistas diárias a jornais mobilizando os tradicionalistas, enquanto diversas vozes, incluindo o canadense Michael Czerny, têm defendido a visão moderada de Francisco.
Os cardeais juram sigilo sobre o andamento das votações, mas relatos detalhados frequentemente surgem depois.
Em seu livro de 2019, “A Eleição do Papa Francisco”, Gerard O’Connell relata como Jorge Mario Bergoglio, cardeal argentino que não era considerado papável, chamou atenção graças a um discurso poderoso dirigido aos seus pares antes do conclave de 2013.
O’Connell afirmou que 23 cardeais receberam ao menos um voto na primeira votação, com Bergoglio ficando em segundo lugar. Ele assumiu a liderança na segunda votação e se distanciou ainda mais na terceira, para desgosto dos apoiadores do favorito italiano, Angelo Scola.
Numa aparente tentativa de atrapalhar Bergoglio, espalhou-se um boato na hora do almoço do segundo dia de que ele só tinha um pulmão e talvez não estivesse fisicamente apto para liderar a Igreja. Ele deixou claro que apenas uma pequena parte de um pulmão havia sido removida e, na quinta votação naquela mesma tarde, ele foi eleito papa.
Em 2005, o cardeal Joseph Ratzinger era o favorito ao entrar na Capela Sistina e liderou desde a primeira votação. Venceu com folga na quarta rodada, tornando-se Bento XVI.
Mesmo que seja impossível prever como será desta vez, os cardeais esperam por um resultado igualmente tranquilo.
“Não entraria em pânico se não tivermos um papa até o final do segundo dia, mas se ainda não houver fumaça branca ao final do terceiro dia, aí começamos a ficar preocupados”, disse Reese.
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