“Nunca quis me esconder”, diz Kayete, no último episódio do podcast ‘Cidade das maravilhas’


Multiartista relembra dificuldades do começo da carreira e projeta futuro melhor, com acolhimento às diversidades. Nascida e criada em Belo Horizonte, filha de pais que vieram do Norte de Minas, Kayete descobriu, aos 19 anos, que queria ser drag queen, fazer show nas boates. Hoje aos 51, comemorou 30 anos de carreira em apresentação em um palco nobre de teatro, no Cine Brasil Vallourec, no Centro da cidade.
Ela se recordou do começo.
“A Walkyria La Roche já fazia sucesso, Nayla e Marilu Barraginha também. Tinha um bar chamado Blitz Bar, com shows glamourosos no Centro da cidade, era show-arte, grandes divas internacionais e com isso fui me descobrindo apresentadora e mestre de cerimônias”, contou.
Kayete está no podcast Cidade das Maravilhas
Reprodução/TV Globo
“Era bem no começo dos anos 1990, vira e mexe a gente ouvia na noite notícias de espancamento. A gente queria se libertar, mas tinha muito medo do que poderia acontecer. A Boate Fashion, na Claudio Manoel, um quarteirão acima da Afonso Pena, foi a primeira boate que eu entrei e pensei: “Meu Deus! Tem mais gente como eu!”; Era aquela bichinha sofrida, feia, vinda lá da Zona Norte, canela fina, vi pela primeira vez que era possível existir de verdade”.
Sobre o Blitz, ela guarda boas lembranças.
“Ficava na Rua São Paulo, quase chegando ali perto da Bias Fortes. Era uma delícia, simples, mas tinha uma escadaria, que as bichas quase quebravam a perna.”, contou.
Ela começou em uma rádio comunitária na Vila São José e depois foi para o Sistema Globo de Rádio.
“Fiz uma vez na boate uma noite em homenagem a uma cantora chamada Sade. Foi um clássico, eu cantando Smooth Operator. Nayla Brizard fazendo Maria Bethania. As drags caricatas que faziam show de humor. Era um celeiro de resistência, que a gente podia fazer o que não podia fora dali. Era uma válvula de escape. Era um lugar onde a gente podia existir. Era duro sair do bar, chegava na porta e tinha que soltar as mãos da pessoa com quem você estava. Isso era muito duro”, disse.
A carreira no teatro começou com um espetáculo chamado “As barbeiras”; foi um sucesso. As três pessoas em cena tinham formação teatral, mas sofreram muito preconceito.
“Foi um fenômeno, mas um fenômeno. As pessoas aplaudiam de pé. Registro de vídeo desse começo não tem, porque as bicha era muito pobrinha, as bicha vivia de vender vale-transporte na Praça Sete”, disse.
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