Idea que levou papa Francisco no Brasil não era da Fiat e mantém amassados; que fim levou?

A morte do papa Francisco ressuscitou o Idea que transportou o pontífice quando ele visitou o Brasil, em 2013. Deixada em paz em algum dos galpões da fábrica da Fiat em Betim (MG) até agora, a minivan teve que tomar banho e se produzir para atender aos inúmeros pedidos de foto que tem recebido desde a última segunda-feira, 21.

Seu encontro com o pontífice não poderia ter sido mais aleatório. Alegando não ter necessidade de luxos, Francisco dispensou os modelos mais requintados que a Fiat lhe ofereceria – Freemont, Linea e Bravo – durante sua visita à Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro. Ele queria algo mais simples, como um Idea basiquinho – o que a empresa não tinha disponível imediatamente.

Fiat Idea que serviu ao papa Francisco em 2013 ganhou um banho antes da foto (Foto: divulgação).

Recorreram, então, a uma locadora de automóveis, que depressa colocou à disposição do papa um Idea Attractive 1.4 prata, hodômetro marcando cerca de 24 mil quilômetros rodados, pinçado de um pátio qualquer, em meio a centenas de outros Idea Attractive 1.4 exatamente iguais. O monovolume foi lançado aqui em 2005, dois anos depois do surgimento na Itália; em 2016, saiu de linha.

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E assim, sentado no banco traseiro, Francisco via melhor a cidade e deixava que ela o visse. E ela teve mesmo uma ótima chance de vê-lo de perto: naquele 22 de julho de 2013, o papa desembarcou no Aeroporto do Galeão e deu de cara com um engarrafamento que o estancou na Avenida Presidente Vargas. Incrédulos, os que passavam por ali partiram pra cima do Idea na ânsia de estabelecer algum tipo de contato com o papa. Daí que surgiram os amassados na carroceria, ostentados hoje como uma espécie de troféu.

Fiéis acabaram amassando Idea no contato com o papa (Foto: divulgação)

Bem, depois disso não restou outra alternativa para a Fiat senão comprar o “Idea do papa“ da locadora. Carregar histórias como essa é um dos caminhos para garantir assento no acervo de clássicos da Stellantis (por razões óbvias dominado por modelos da Fiat). Outro é representar algum marco, tecnologia ou vanguardismo.

Papa Francisco já sentou nesse banco aí (Foto: divulgação)

É o caso de um 147 preto e branco, placas FO-0292, que, embora pertença ao Ministério da Fazenda, fica na Stellantis, lá em Betim – afinal, foi de onde saíra no dia 5 de julho de 1979, vangloriando-se de ser o primeiro carro do mundo movido a álcool produzido em série.

O 147 já estava nas ruas há três anos quando ganhou um novo motor 1.3 movido a etanol, o que prontamente lhe rendeu o apelido de “Cachacinha”. Com a crise do petróleo ardendo, a Fiat foi a primeira a aderir ao Pro-Álcool, o programa que estimulava o uso do combustível vegetal. E prontamente o 147 se tornou uma espécie de garoto-propaganda da campanha. Foram cerca de 120 mil unidades até 1987, e uma delas é a do acervo, chassi 147A0224805.

São aproximadamente 50 exemplares, que à sua maneira contam trechos da trajetória da marca italiana no Brasil, onde estreou em 1976, aos 77 anos, com o 147. Da família que iniciou a prolífica e simbiótica relação da Fiat com o mercado nacional, há ainda um L branco 1978 e um Oggi CSS – este, raríssimo.

Empolgada com o título na estreia do Campeonato Brasileiro de Marcas e Pilotos, em 1983, a Fiat resolveu substituir o campeão 147 pelo recém-lançado Oggi na temporada seguinte. Assim nasceu a série Confort Super Sport, que sob o capô tinha o motor 1.3 da versão CS elevado para 1.415 cm3 (1.490 cm3 no carro de corrida), além de receber taxa de compressão mais alta e cabeçote retrabalhado – tudo para chegar a 78 cv e 11,4 kgfm de torque. Suspensão, direção e câmbio também foram temperados. A Fiat nunca mais levou o Brasileiro, mas criou um dos esportivos nacionais mais raros, que soma aproximadamente 300 unidades.

Da fase mais recente, Uno Turbo e Punto T-Jet retratam a habilidade da Fiat em produzir esportivos genuínos e acessíveis. Ou sedãs velozes, como Tempra Ouro 16V e Marea Turbo, também membros desse seleto grupo. E o Uno Grazie Mille prata que está lá, número 2.000, é a última unidade produzida no mundo da primeira geração do compacto lançado em 1984.

Todos mereciam um casulo mais aconchegante – como Volkswagen e Renault já providenciaram para seus carros históricos.

Em um espaço de 1.430 m² na Ala 5 da fábrica da Anchieta, a Garagem Volkswagen – que deve abrir um programa de visitas ainda este ano – concentra relíquias como a última Kombi e o primeiro Polo produzidos no Brasil, o Fusca conversível de 1997 feito especialmente para celebrar a segunda e definitiva despedida do modelo e o Vemp, “Veículo Militar Protótipo”.

O acervo da Renault, alocado no Complexo Ayrton Senna, em São José dos Pinhais (PR), é composto por carros que foram guardados ao longo dos 22 anos da empresa no país. Tudo começou com Alain Tissier, ex-vice-presidente da Renault no Brasil, um dos raros executivos da indústria automotiva cientes da importância de se perpetuar o legado e a história de uma fabricante de automóveis.

Por lá estão a primeira unidade produzida da minivan Scenic, um Clio V6 de corrida, um Gordini e até mesmo uma réplica do Voiturette, construída em 1998 em comemoração aos 100 anos do primeiro veículo da marca.

Essa coleção, contudo, só pode ser apreciada pelos funcionários da Renault.

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