A bênção derradeira

O papa Francisco encerrou sua trajetória pedindo mais uma vez o fim da violência na Ucrânia, em Gaza e outras regiões conflagradas do mundo. Em sua última aparição pública na Praça de São Pedro, Jorge Bergoglio desejou “feliz Páscoa” a uma multidão de fiéis. E, em uma cadeira de rodas, ele escutou um membro do clero ler o que seria a sua derradeira “Bênção Urbi et Orbi”.

Um trecho diz: “Quanto desejo de morte vemos em tantos conflitos que ocorrem em diferentes partes do mundo! Quanta violência vemos com frequência também nas famílias, dirigida contra as mulheres ou as crianças! Quanto desprezo se sente por vezes em relação aos mais fracos, marginalizados e migrantes!”

Desejo de morte. Eu realmente gostaria, como disse o papa, de voltar a ter esperança de que a paz é possível. Mas não é fácil assistir a um documentário como 20 Dias em Mariupol, vencedor do Oscar no ano passado.

Um grupo de jornalistas fica sitiado na cidade de Mariupol durante a invasão russa em 2022. No decorrer de 20 dias, registram o assassinato de civis em bombardeios incessantes. Também mostram a atitude das autoridades russas, as quais afirmam, por exemplo, que “nenhum civil morreu na Ucrânia”.

A cada nova cena de 20 Dias em Mariupol, a fé na humanidade desmorona um pouco mais. Só Deus sabe se resta alguma coisa no final.

Um outro documentário oscarizado fala a respeito da Palestina. Filmado ao longo de cinco anos, No Other Land mostra a destruição de um vilarejo árabe na Cisjordânia para a construção de um centro militar israelense. Casas são derrubadas, famílias são despejadas sem perspectivas de realocação.

Obviamente, alguns condenaram o filme por ser “antissemita”, pois hoje em dia criticar a política do governo Netanyahu (que não goza de unanimidade nem em Israel) é “antissemitismo”. Uma tolice que insulta a inteligência e é só mera conveniência para quem está no poder.

“Não podemos estacionar nosso coração nas ilusões deste mundo nem fechá-lo na tristeza; temos de correr, cheios de alegria”, exortou o papa Francisco na sua despedida. Ele que manteve um diálogo crítico com governos de todo tipo, de diferentes linhas ideológicas, como se espera de um líder mundial.

Então que fique seu exemplo, nestes tempos em que, lembrando Voltaire, ainda “temos religião de sobra para odiar e perseguir, e pouca para amar e socorrer”.

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