Lições do papa

Francisco se foi. Enquanto as atenções mundiais se voltam para a despedida do papa, cresce a expectativa em torno do dia em que a fumaça branca sair pela chaminé da Capela Sistina confirmando a escolha do novo líder da Igreja Católica. Será conservador? Terá perfil progressista? A resposta para essas e outras questões vai demorar algum tempo para ser conhecida.

No momento, em meio à expectativa e comoção, surgem dia após dia informações a respeito de quem foi o argentino Jorge Mario Bergoglio e as marcas que ele vai deixar. Entre os vaticanistas, as análises quanto aos 12 anos de pontificado indicam uma guinada em relação a temas que sempre foram tratados com reserva pela Igreja e fiéis. Quando autorizou padres a abençoarem relacionamentos de casais do mesmo sexo, Francisco falou com um público que historicamente sentiu o peso da discriminação. Foi, naturalmente, criticado e respondeu. Em uma entrevista à revista católica Credere, ele disse: “Ninguém fica escandalizado se eu der minhas bênçãos a um empresário que talvez explore pessoas, e isso é um pecado muito grave. Mas ficam escandalizados se eu as der a um homossexual”.

Ao tocar em questões ambientais e concentração de riqueza, dar espaço às mulheres, aos divorciados e abordar temáticas relacionadas às guerras, conquistou uma simpatia que poucos tiveram e mostrou, ao seu modo, que mesmo que ainda exista muito a se avançar, deu os primeiros passos para quem sabe, no futuro, uma maior inclusão valorizando o ser humano em sua essência. Não serão mudanças que ocorrem da noite para o dia e ainda há muito a ser feito em todos os campos, começando pela igreja e pelas pessoas que fazem parte dela. Mas a semente foi plantada e o futuro vai mostrar como ela vai se desenvolver.

Foi, como disse o teólogo e historiador Gerson Leite de Moraes, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie, uma voz muito forte que soube dar recados aos “poderosos e pretensos tiranos”. E muitos desses recados foram passados ao vivo em viagens ou reuniões para tratar de temas que trazem inquietação sobre o presente e o futuro da humanidade. O último foi o encontro com o vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, um dia antes de morrer. Quando todos esperavam uma conversa sobre as questões migratórias americanas, quase sem forças, Francisco presenteou Vance com um terço, uma gravata com o brasão do Vaticano e ovos de Páscoa para seus filhos. Foi algo singelo, humano, mas acolhedor.

Ao dar voz a temas sensíveis, o finado papa deixou lições que independem de crença. Ao demonstrar a simplicidade franciscana e promover gestos que poucos conseguiram, mostrou que ainda pode haver esperança em um mundo no qual está cada vez mais difícil acreditar no que nos rodeia.

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