Elenor Schneider: “O dia muitas vezes é curto”

Milhares de estudantes passaram pelas salas de aula do professor Elenor José Schneider, nos mais diversos níveis de ensino, em especial nos cursos de graduação e de pós-graduação em Letras e Literatura. Foram cerca de cinco décadas de dedicação ininterrupta à educação. Aposentado desde 2017 de sua atuação junto à Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), hoje ocupa a sua rotina pessoal e familiar em torno de quê? Da leitura!

Sua identificação com o estímulo ao hábito de ler entre seus alunos é tamanha que em 2024 foi escolhido para ser a personalidade incentivadora da leitura na 35ª Feira do Livro de Santa Cruz do Sul. As enchentes do final de abril e de maio, justamente o período em que o evento aconteceria, motivaram o cancelamento da programação.

A 35ª edição finalmente será realizada entre os dias 1º e 8 de agosto deste ano. E Schneider tem seu nome mantido para a homenagem. Em entrevista exclusiva à Gazeta, comenta que mantém tantos livros na fila para serem lidos que o dia sempre passa rápido demais.

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Entrevista

Elenor José Schneider
Professor, personalidade incentivadora da leitura da 35ª Feira do Livro de Santa Cruz do Sul

  • O senhor havia sido agraciado com a mesma honraria pela Feira do Livro em 2024, mas as enchentes levaram ao cancelamento do evento. Que memória fica daqueles dias?
  • A enchente não inundou apenas as vilas, as cidades, mas também inundou nossos corações. Observando angustiado a assustadora crescente subida das águas, nem comparecei à abertura da feira. Os sinais eram graves. Por dias, acompanhei de cima os acontecimentos e sofri junto a tantas pessoas que perderam não apenas bens materiais, mas também vidas. Logo as escolas cancelaram aulas, tudo estava parado. Não havia condições mínimas de manter a edição da feira. Sem demora, até livreiros ficaram retidos na cidade. Não havia clima para mais nada, ninguém compareceria à praça. Foi frustrante para os organizadores, que tanto haviam se empenhado para oferecer uma excelente programação, porém naquele momento o que mais importava era a vida.
  • O senhor entende que a literatura, a leitura, a arte podem nos auxiliar no esforço de mudar o quadro dos contratempos climáticos e da degradação ambiental?
  • Evidentemente que sim, no entanto para isso precisam chegar às pessoas. A literatura, a música, a dança, todas as formas de arte apaziguam a alma e nos ensinam a conviver melhor com as pessoas e com todo o ambiente que nos acolhe e que permite sermos mais respeitosos, equilibrados e felizes. Penso que a literatura, por exemplo, poderia cortar mais fundo nessa questão, assim como já faz quando aborda, por exemplo, os graves problemas sociais. Enquanto houver resistência e negacionismo, estamos simples e tristemente andando para trás.
  • Até que ponto a degradação ambiental está relacionada, na avaliação do senhor, com a degradação em outras áreas da sociedade?
  • O desrespeito à natureza é o primeiro e mais seguro caminho para não respeitar o ser humano. Tudo se enquadra num egocentrismo e numa ignorância inexplicáveis. Eu jogo lixo em qualquer lugar, os outros que o recolham, o problema é deles. Quem lê minha coluna na Gazeta, já se deparou várias vezes com meu inconformismo e meu sofrimento por ver gerações se sucederem e, em vez de se darem as mãos e cuidar da casa comum, abraçam o discurso e a prática da destruição. Como educador, nesse sentido, me sinto bastante fracassado.
  • Como está a expectativa de, agora em 2025, poder finalmente ter esse contato estreito com leitores e o público em geral na Feira do Livro?
  • Tentarei dar uma contribuição positiva e que minimamente frutifique. Se do meio de um grupo de pessoas sair um ou despertarem mais leitores, já terá valido a pena. Continuo acreditando no incentivo à leitura, na crença de que aprender a ler é aprender a viver. E uma questão que todos os professores, de todas as áreas, deveriam ter como mantra: falar dos livros que estão lendo, que leram, que pretendem ler. Isso forma leitores.
  • O senhor dedicou-se ao ensino por praticamente meio século. Após a aposentadoria, com que projetos tem se ocupado?
  • Um fantasma que assombra muitas pessoas que se aposentam é cair no vazio, no nada. A vida até então significou apenas trabalho, parece que nada mais existe por fazer. Eu me ocupo escrevendo, lendo muito, fazendo religiosamente exercícios físicos, gosto de cultivar hortaliças, mantenho contato com muitas pessoas através das redes sociais, acompanho as andanças e estripulias da política brasileira e estrangeira, me entristeço quando vejo a vergonha das emendas parlamentares, me angustio com os preocupantes rumos que alguns políticos belicosos estão desenhando para logo mais. Enfim, o dia às vezes é pouco, é curto.
  • Que recado deixaria para os leitores dessa entrevista em relação à importância do contato com os livros?
  • Uma das frases que mais me dão paz é quando encontro ex-alunos e ouço, sem que titubeiem: este me ensinou a ler, a gostar de ler. Há poucos dias, chegando na academia, uma moça estava saindo e se virou para a professora: este me ensinou a ler. Atrás disso, há questão importante: às vezes, os alunos leem enquanto estão na escola, na universidade, e depois abandonam completamente o exercício. Ler é uma decisão pessoal. Se for firme, se se fundamentar na fé de que a leitura me ensina, me transforma, me diverte, me questiona, então sempre terá espaço na casa do leitor.

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