Organização criminosa ligada ao PCC no Tocantins foi identificada após transferências de Pix para laranjas e empresas suspeitas de lavar dinheiro

Suspeito de participar de organização criminosa é preso pela polícia na Operação Asfixia — Foto: Divulgação/PCTO

A rede de lavagem de dinheiro de um braço do PCC no Tocantins foi descoberta após a identificação de altos valores repassados por pessoas e até empresas por meio de transferências eletrônicas como o Pix. Ao todo, a polícia acredita que o grupo tenha movimentado R$ 20 milhões nos últimos dois anos.

Na manhã desta terça-feira (4), durante a operação ‘Asfixia’, foram cumpridos 15 mandados de prisão, 18 ordens de busca e apreensão e 20 bloqueios de contas bancárias. A ação foi autorizada pela 4ª Vara Criminal e da Justiça Militar, com desdobramentos no Tocantins e em São Paulo. Dois suspeitos estão foragidos, segundo a polícia.

O grupo no Tocantins tinha uma organização estrutura que supostamente era comandada por Lúcia Gabriela Rodrigues Bandeira, a ‘Dama do Crime’, com o auxílio de outras duas mulheres. Os criminosos se organizavam em grupos de WhatsApp, sendo um deles chamado ‘Lojistas Tocantins’. A defesa de Lúcia Gabriela informou que está tomando conhecimento das informações e ainda vai se posicionar.

A polícia identificou que existia um consórcio de traficantes locais organizado com objetivo de comprar drogas, de forma coletiva, diretamente dos líderes da organização criminosa no estado, que por sua vez possuíam vínculos diretos com o PCC.

“Esses agentes, posicionados na base da pirâmide hierárquica do esquema criminoso, são responsáveis pela distribuição e comercialização dos entorpecentes no varejo. Além disso, desempenham funções essenciais, como a prestação de contas e o repasse dos valores arrecadados aos líderes da Organização Criminosa (ORCRIM), contribuindo diretamente para a sustentação financeira e operacional da estrutura delituosa”, diz trecho da decisão.

Transferências e prestação de contas

Durante as investigações foram apreendidos celulares que levaram os investigadores até comprovantes bancários com chaves Pix que eram utilizadas para movimentar o dinheiro do tráfico. O relatório policial apontou que as principais contas bancárias, para as quais os traficantes remetiam dinheiro, estavam no nome de quatro investigados.

Mais de R$ 16 mil em dinheiro foram apreendidos com os alvos presos no Tocantins – Divulgação PCTO

Relatórios de transações emitidos pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontaram que os principais laranjas do esquema movimentaram R$ 20.362.121,00.

Uma das investigadas movimentou R$ 4.072.961,00 no período de 01/09/2023 a 31/07/2024. Segundo a decisão, em uma das ‘auditorias’ feitas pela Dama do Crime, a conta informada para os ‘lojistas’ fazerem depósitos era desta investigada.

Uma outra mulher foi identificada em 23 comunicações financeiras no período de 30/06/2022 a 21/07/2024. Ela movimentou o montante total de R$ 4.074.919,00. Um terceiro investigado figurou no período de 06/02/2023 a 22/07/2024 em 39 comunicações financeiras, movimentando R$ 8.610.333,00.

A decisão também traz indícios contra duas empresas possivelmente envolvidas no esquema de lavagem de dinheiro, ambas de São Paulo (SP).

A investigação encontrou indícios de que uma das mulheres apontada como laranja fez 24 transferências via Pix para uma das empresas, que supostamente atua com produtos de metal, totalizando R$ 602 mil.

Depois, essa empresa teria transferido R$ 625 mil para a segunda empresa, que atua com comércio e transportes, por meio de 16 transferências via Pix. Fotos das fachadas dos locais também chamaram atenção da polícia.

“Verificou-se que a empresa em questão não aparenta ter a mínima condição de movimentar tais valores num lapso temporal tão curto, havendo fortes indícios de ser uma mera empresa de fachada ou até mesmo uma empresa fantasma”, diz trecho da decisão.

Para o juiz José Ribamar Mendes Júnior, que autorizou a operação, foram identificadas movimentações atípicas, estratégias de dissimulação e há provas suficientes para declarar o bloqueio de bens dos investigados.

“Os investigados movimentaram expressivas quantias de dinheiro, incompatíveis com a capacidade financeira declarada e as atividades lícitas conhecidas”, disse na decisão.

Operação asfixia

A operação foi nomeada de ‘Asfixia’ e é conduzida pela Divisão Especializada de Repressão a Narcóticos (Denarc- Palmas). O objetivo principal da ação é enfraquecer os ganhos financeiros da organização, segundo o delegado Alexander Costa.

“Ao bloquear as contas dos principais laranjas, vamos interromper o fluxo financeiro decorrente da lavagem de dinheiro oriunda do tráfico de drogas dessa célula que é vinculada a uma facção paulista com atuação em vários estados da federação”, disse o delegado Alexander Costa.

Conforme apurado pela investigação, o grupo criminoso também atua nos estados do Piauí, Maranhão, Ceará e Rio Grande do Norte, mas os líderes da facção têm sede em São Paulo. Segundo a Polícia Civil, a organização criminosa enviava armas para esses estados, alimentando guerras entre facções rivais.

As investigações apontaram que diversas pistolas de origem turca apreendidas em Palmas foram trazidas pela organização. As armas seriam as mesmas que foram usadas por facções em vários homicídios registrados na capital no primeiro semestre de 2023.

(Fonte: g1 Tocantins)

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