Beatrice Dummer: Um olhar encantado sobre esta terra

Você já se perguntou onde começa a sua história? Se você tivesse um livro repleto de páginas em branco, aguardando para serem preenchidas… por onde você começaria a contá-la?

A caneta, as mãos e o protagonismo agora são seus. Mas a narrativa inicia antes do seu primeiro respiro em vida. O modo como os seus pais lhe educaram, os pensamentos e a cultura que lhe foram refletidos têm raízes profundas de gerações.

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Somos como frutos na primavera, a consequência de sonhos e da coragem de nossos antepassados. Eles, que fizeram uma longa travessia há 150 anos. Enfrentaram o Oceano Atlântico e um universo totalmente desconhecido, quando tudo no mundo era distante. Hoje, o que separa a Itália do Brasil é um avião de distância (ou dois, se formos mais específicos e quisermos aterrissar no aeroporto de Salgado Filho, em Porto Alegre). E mais um ônibus ou uma viagem de carro de aproximadamente duas horas até Santa Cruz do Sul. Ainda assim, no conforto.

Mas esses imigrantes aceitaram recomeçar as suas vidas em um lugar de que nunca ouviram falar antes; com promessas, mas sem saber exatamente o que encontrariam. Não havia mapas e estradas prontas do destino para o qual iriam. Era preciso confiar nas correntes das águas do Oceano Atlântico e da fé.

Diferentemente de hoje, quando encontramos todas as informações a respeito de um lugar disponíveis na internet.

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Também não havia meios instantâneos, como o WhatsApp, aos quais a nossa geração tem acesso, para se comunicar com as pessoas que deixavam para trás no Vêneto, na Lombardia, em Trentino-Alto Ádige e Friuli-Venezia Giulia, as principais regiões de onde vieram os imigrantes italianos que se fixaram no Rio Grande do Sul. Cultivaram terras, construíram cidades do zero e abriram os caminhos para nós. Muito do que vivemos hoje só é possível devido a sua resiliência e audácia.

Então, acredito que sim, precisamos honrar o nosso passado e raízes para entendermos que o que realizamos hoje é porque os nossos imigrantes e queridos antepassados prepararam o terreno.

Estou extremamente feliz de realizar este projeto, honrando os 150 anos da Imigração Italiana no Rio Grande do Sul com a Gazeta. É uma forma de honrar o passado, ao viver o presente diretamente aqui da Itália (mais especificamente, de Torino, a primeira capital do Reino Unificado da Itália, antes de Firenze e antes de Roma), e escrevo as páginas do meu livro chamado vida.

Quem sou e por que estou aqui

Prazer, me chamo Beatrice. Como Beatrice de Dante, ou do filme O Carteiro e o Poeta, baseado no romance Ardiente paciencia, de Antonio Skarmeta, de onde na verdade vem a origem do meu nome. Il Postino, dirigido por Michael Radford, em 1994, é poético e é ambientado na bela ilha de Salina, uma das Ilhas Eólias, na região da Sicília.

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O tema central é a amizade entre o carteiro Mario Ruoppolo, um homem comum, mas sonhador, e o renomado poeta chileno Pablo Neruda, que está exilado na Itália. Mario é contratado para entregar as cartas a Neruda. Encantado com o mundo de metáforas de Neruda, começa a aprender e a entender a poesia que é nata da beleza da vida cotidiana. E o estilo de vida italiano é realmente poético, já a iniciar pela língua, que soa melodiosamente em nossos ouvidos. Com expressões como “dolce far niente” (“doce não fazer nada”) e “La dolce vita” (“a vida é doce”), ao sentar em bancos de praças públicas com a pessoa que você ama para não fazerem nada juntos. Ou com aquele espresso que é bem-vindo a qualquer momento.

Meus pais assistiram juntos no cinema antes de eu nascer. Saíram da sessão emocionados por terem visto uma obra-prima, mas também por terem escolhido o nome da sua filha.

O carteiro pergunta ao poeta:
“Qual è la cosa più bella dell’Italia?” (“Qual a coisa mais bela da Itália?”)
“Beatrice”, responde o carteiro, apaixonado.

É um clássico do cinema italiano, que é nato aqui em Torino, onde também fica localizado o Museu Nacional do Cinema Italiano. É um dos museus de cinema mais importantes do mundo. Uma experiência imersiva, que combina história, arte e tecnologia.

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Sinto um orgulho extremo do meu nome, que é tão presente como fonte de inspiração na literatura italiana. “Beatrice” significa “viajante que faz aos outros felizes”. Como cantora, compositora, escritora e viajante, talvez o nome já fosse predestinado. Também tive a honra de conhecer o autor desta linda história, Antonio Skármeta, presencialmente, em um evento realizado pela Gazeta do Sul.

Com a alma inspirada pela beleza vista em todos os cantos da cidade, com as árvores despidas no inverno em imensos parques e praças históricas, monumentos onde aconteceram revoluções e que moldaram o curso do mundo, eu escrevo a minha própria história de Beatrice diretamente aqui de Torino, na Itália.

Estou estudando a língua italiana e aprendendo sobre a cultura deste país tão rico. Compartilharei com vocês. queridos leitores da Gazeta, aqui nesta coluna, as minhas percepções pessoais, as viagens aventurosas e os aprendizados neste ano dos 150 anos da imigração italiana.

Com carinho, Beatrice Dummer

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