Mariene de Castro e Roberto Mendes louvam riquezas do Recôncavo baiano com doçura no show ‘Maria da canção’


Roberto Mendes e Mariene de Castro em momento de ternura na estreia carioca do show ‘Maria da canção’
Michele Castilho / Divulgação Parque de Ideias
♫ OPINIÃO SOBRE SHOW
Título: Maria da canção
Artista: Mariene de Castro e Roberto Mendes
Data e local: 27 de novembro de 2024 na unidade Centro da Biblioteca Parque (Rio de Janeiro, RJ)
Cotação: ★ ★ ★ ★ ★
♪ Roberto Mendes é um dos grandes compositores do Brasil. Essa grandeza nem sempre é percebida ou destacada pela mídia por conta do etnocentrismo carioca e paulistano que concentra olhares na produção musical do sudeste do país.
Aos 72 anos, festejados na última-sexta-feira, 22 de novembro, Mendes é baiano arraigado nas raízes musicais da cidade natal de Santo Amaral da Purificação (BA), também terra de Maria Bethânia.
Com o parceiro letrista Jorge Portugal (5 de agosto de 1956 – 3 de agosto de 2020), também santo-amarense, Roberto Mendes construiu obra que escapou das fronteiras do Recôncavo pela voz de Bethânia, cantora que gravou a chula Filosofia pura em 1983 e, a partir de então, passou a cantar com regularidade músicas de Roberto Mendes com diversos parceiros.
Não por acaso, a maior parte das músicas do roteiro do show Maria da canção – feito por Roberto Mendes com Mariene de Castro, cantora baiana que bebe das tradições afro-brasileiras do Recôncavo – já ganhou a voz de Maria Bethânia em disco e/ou show.
Em cena desde 2023, o show Maria da canção gerou álbum – lançado em outubro do ano passado – e chegou ao Rio de Janeiro (RJ) na noite de ontem, 27 de novembro, em apresentação que lotou o teatro da unidade Centro da Biblioteca Parque dentro da programação do projeto Parque de Ideias, criado por Marcio Debellian.
Emoldurados por cenário que evoca paisagem interiorana, os artistas pintaram uma aquarela de cores com os sons do Recôncavo. Uma aquarela de tons suaves. Em vez do canto vibrante e vivaz dos shows de tom festivo, Mariene de Castro se afina com Roberto Mendes em tempo de delicadeza , mesmo nos temas mais ardentes, como Iluminada (1996), parceria de Mendes com Jorge Portugal que se acende com a doçura do canto de Mariene, na contramão do registro febril de Bethânia.
Roberto Mendes canta e toca um violão singular em show com Mariene de Castro
Michele Castilho / Divulgação Parque de Ideias
Maria da canção é show que reabre a roda do Recôncavo baiano com sambas, chulas e… canções como Vila do adeus (1999), obra-prima da parceria de Roberto Mendes e Jorge Portugal escondida ao fim do primeiro álbum ruralista de Bethânia, A força que nunca seca (1999).
Em cena, Mariene de Castro baixa a temperatura da voz habitualmente incandescente para se harmonizar com a riqueza sonora que brota das cordas do violão singular tocado por Roberto Mendes. Desse violão, brota um mundo musical que parece extrapolar as fronteiras da Bahia preta e caribenha ao mesmo tempo em que gravita em torno dela. A pulsante Bahia iorubá sintetizada por Mendes e Portugal na composição Yorubahia (1986), eternizada no canto da recorrente Maria Bethânia.
As canções são de Roberto Mendes, em geral com versos de Jorge Portugal, mas também com letras de José Carlos Capinan, poeta parceiro de Demanda (2008) e Bom começo (2008), louvação a Nosso Senhor do Bonfim. Mas elas, as canções, também são de Maria, a Bethânia, embora a Maria do título do show seja a Maria da Paz, mãe de Jorge Portugal, musa inspiradora da música-título Maria da canção, como revela Mariene ao público.
Á frente de belo cenário, Roberto Mendes e Mariene de Castro segue o roteiro de amor, festa e devoção do show ‘Maria da canção’
Michele Castilho / Divulgação Parque de Ideias
Maria da canção é show de amor, festa e devoção. O amor se espraia por Querer bem (2021), única música do roteiro sem assinatura de Roberto Mendes. A canção é de autoria do filho do compositor, João Mendes, mas foi gravada por Roberto no álbum Catetê (2021), ressurgindo na forma mais bela no show Maria da canção com o canto de Mariene.
A fé nos orixás brota sublime no canto de temas afro-brasileiros como Louvação a Oxum (Roberto Mendes e Ordep Serra, 1992) e Ofá (Roberto Mendes e J. Velloso, 1988). Essa devoção por vezes se confunde com a festa feita no ritmo envolvente de músicas como Raiz (Roberto Mendes e J. Velloso, 1992), música lançada (sem repercussão) na voz cristalina de Gal Costa (1945 – 2022) e reavivada no primeiro álbum de Mariene de Castro, Abre caminho (2004). Raiz encerra o bis com Mariene de pé.
Em ambiente lúdico, pontuado pela leveza das falas graciosas de Roberto Mendes, compositor (que, além de tocar violão, canta com todo o sentimento dos autores) e cantora seguem roteiro coerente que passa por Vida vã (Roberto Mendes e Jorge Portugal), Aos Portugais (Roberto Menescal e José Carlos Capinamn, 2018), Manda chamar (Roberto Mendes e José Carlos Capinam, 2000) e Só se vê na Bahia (Roberto Mendes e Jorge Portugal, 1996) até desaguar no bis, aberto com Caribe, calibre, amor (1985), tema de Roberto Mendes e Jorge Portugal apresentada em escala nacional no Festival dos festivais, exibido pela Globo há quase 40 anos.
Deu saudade (Roberto Mendes e Herculano Neto, 2008) prepara o clima para o fim de um show que louva a yorubahia a partir da visão de Santo Amaro, terra abençoada do Recôncavo que deu ao mundo, entre outros grandes nomes da música brasileira, o gigante Roberto Mendes, compositor orgulhoso da riqueza musical da terra natal, criador de canções de muitas Marias do Brasil.
Roberto Mendes, grande compositor, louva a cidade natal de Santo Amaro no show e assina quase todas as músicas do roteiro de ‘Maria da canção’
Michele Castilho / Divulgação Parque de Ideias
Roberto Mendes e Mariene de Castro se afinam no tom suave do show ‘Maria da canção’
Michele Castilho / Divulgação Parque de Ideias
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