Da gravidez ao puerpério: projeto de lei incentiva cuidados com a saúde mental de mulheres em Rio Preto


De acordo com pesquisa da Fiocruz, 25% das mães no Brasil sofre com depressão pós-parto (DPP), que envolve sintomas de culpa, insônia e palpitação. Mas, a saúde mental materna é fundamental no desenvolvimento afetivo entre mães e filhos. Rio Preto aprova lei que incentiva cuidado e promoção à saúde mental materna
Dá para imaginar um momento mais feliz para uma mãe do que a chegada de seu tão esperado bebê ao mundo, depois de longos nove meses de gestação? Quando se imagina a cena, vem à mente a mulher sorrindo, com seu filho saudável, em meio a roupas coloridas e bichos de pelúcia. Mas, nem sempre é exatamente assim.
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No âmbito popular, é comum se ouvir que a mulher nasceu para ter filhos, cuidar da casa e da família. Contudo, hoje, essa mãe também é profissional, e o acúmulo de funções pode causar o adoecimento pela sobrecarga mental.
Mães lidam com a depressão pós-parto
William Fortunato/Pexels
A saúde mental materna é fundamental no desenvolvimento afetivo entre mães e filhos. A falta de um amparo adequado pode trazer consequências no desenvolvimento do bebê. Por isso, a Câmara dos Vereadores de São José do Rio Preto (SP) aprovou uma lei que incentiva o cuidado e a promoção da saúde mental materna – questão essa que precisa ser trabalhada com as mulheres antes mesmo da gravidez, com o objetivo de preparação.
Algumas mães, mesmo nesse contexto positivo, vivenciam tristeza e melancolia. De acordo com pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), publicada em 2016, uma a cada quatro mulheres brasileiras – ou seja, 25% delas – sofre com depressão pós-parto (DPP), no período de 6 a 18 meses do bebê.
Mulheres refletem sobre importância do cuidado com a saúde mental materna
Lisa Fotios/Pexels
Em um panorama mundial, dados levantados pela TV TEM apontam que o sofrimento mental materno pode ser tão intenso ao ponto de levar ao suicídio, sendo essa uma das principais causas de morte de mulheres no primeiro ano de vida após o parto.
A DPP é uma condição que se caracteriza pelo prolongamento de uma variedade de mudanças físicas e emocionais que muitas mulheres têm depois de dar à luz. Os sintomas variam e podem incluir:
Inquietação;
Tristeza excessiva;
Dores pelo corpo;
Palpitação;
Insônia;
Fadiga;
Falta de apetite;
Culpabilidade;
Inutilidade;
Preocupação exagerada e
Medo.
No país, as mulheres que trabalham fora dedicam quase 80% a mais do seu tempo do que os homens com afazeres domésticos, segundo estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Outra realidade ainda mais desafiadora, refere-se ao número de mães solo. Hoje, segundo o mesmo instituto, são cerca de 11 milhões de mulheres inteiramente responsáveis pela criação e sustento dos filhos.
Rafaela Schiavo diz que é necessário criar uma estrutura que facilite o trabalho materno
Reprodução/TV TEM
Já dizia um provérbio africano: para cuidar de uma criança, é preciso de uma aldeia inteira. Segundo a psicóloga perinatal, Rafaela Schiavo, é necessário criar uma estrutura que facilite o trabalho materno para que a missão de cuidar da criança não seja exclusivamente da mãe.
Conforme ela, encarar a maternidade com seus altos e baixos pode ajudar mães a viverem momentos de leveza e desfrutar da alegria de ter e ver o coração batendo fora do peito.
‘Supermãe’
Bruna Barbosa escreveu livro sobre maternidade em Rio Preto (SP)
Reprodução/TV TEM
Mãe de dois filhos, a escritora e mentora de bem-estar de mães Bruna Barbosa, quase fez parte dessa estatística. Em um momento de angústia, ela percebeu que a saúde mental é um problema invisível.
“Você existir para além de você e ter que dar conta de todas as demandas que incluem ser mãe, ser mulher e ser profissional, pode trazer uma carga mental muito grande para as mulheres. Isso, por muito tempo, ficou em um lugar de que não existia, de que precisávamos dar conta de tudo, e não posso sequer pedir ajuda ou reclamar”, reflete a mentora.
‘Nasce um bebê, não nasce uma mãe’: livro escrito por Bruna Barbosa, de Rio Preto (SP)
Bruna Barbosa/Arquivo pessoal
As páginas do livro recém-lançado por ela trazem o relato honesto e cheio de amor sobre essa descoberta de ser mãe. A partilha de experiências e sentimentos derruba o estigma de que quando o bebê nasce, automaticamente nasce uma mãe. Para Bruna, a maternidade é um processo de construção, cheio de desafios.
Bruna Barbosa escreveu livro sobre maternidade em Rio Preto (SP)
Reprodução/TV TEM
“A questão de falar e dar visibilidade é muito importante. Foi uma das saídas que encontrei escrevendo o livro. Eu me sentia solitária, sendo mãe, tendo medos, angústia e ai eu escrevia. Comecei a escrever para tirar isso de mim”, comenta a mãe.
Para ampliar o alcance de mães por todo o Brasil, um movimento nacional, o qual Bruna faz parte, leva o tema saúde mental materna para o debate político. Em Rio Preto, o projeto de lei aprovado reconhece maio como o mês da saúde mental materna.
Stefani Beatriz Marangoni é mãe solo em Rio Preto (SP)
Stefani Beatriz Marangoni/Arquivo pessoal
Ser mãe não estava nos planos de Stefani Beatriz Marangoni – pelo menos não naquele momento em que o teste positivo comprovou que ela estava grávida. Quando a filha nasceu, a mulher precisou se reencontrar: era tudo novo e intenso.
Com isso, foi diagnosticada com depressão pós-parto. Os sintomas acenderam um alerta: não subestimar os sinais do corpo e buscar ajuda ou rede de apoio com pessoas e profissionais especializados.
Ser mãe não estava nos planos de Stefani Beatriz Marangoni, de Rio Preto (SP)
Stefani Beatriz Marangoni/Arquivo pessoal
“A Antonella não foi planejada. Estava em plena pandemia, em São Paulo, com planos de ir embora e fazer um mochilão. De repente eu vi o positivo e fiquei bem assustada. O puerpério para mim foi muito difícil. Eu chorava muito, mas não entendia o que estava acontecendo. Era muito intenso. É uma mudança muito radical, ainda mais para mim que sou mãe solo. Tive que mudar minha vida”, lembra a mãe.
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