PM de SP é único árbitro brasileiro de taekwondo nas Olimpíadas e disputou seletiva com aluna de projeto social criado por ele


Major Marcelo Rezende criou projeto em parceria com a PM para levar o esporte gratuitamente a crianças e adultos na capital paulista. Processo seletivo para Olimpíadas começou em 2023 e aluna de Marcelo conseguiu chegar até a final das seletivas: ‘Ela me incentivou a ir e ficamos entre os 58 do mundo’. Marcelo Vinícius Rezende será árbitro brasileiro de taekwondo nas Olimpíadas de Paris
Arquivo Pessoal/Marcelo Rezende
As disputas de taekwondo nas Olimpíadas de Paris começam em 7 de agosto, e o Brasil contará com quatro atletas nas competições. Mas além da briga por medalhas, o país também será representado na arbitragem: entre os 26 juízes convocados pela Federação Mundial de Taekwondo, está o brasileiro Marcelo Vinícius Rezende.
Marcelo é policial militar em São Paulo há 30 anos, árbitro internacional desde 2009 e praticante de taekwondo desde os 9 anos. Ele foi convocado para os Jogos Olímpicos após participar de um processo seletivo mundial que contou com 270 participantes e que começou no ano passado.
“Esta é a primeira vez que vou para as Olimpíadas e é o último evento da Federação Mundial de Taekwondo que faltava no meu currículo. Estou muito feliz e será uma nova experiência, sem dúvida. Já tinha ido para os Jogos Olímpicos da Juventude, mas agora será diferente”, contou o major, ao g1.
O policial ressalta que já havia tentado outras três vezes e que todo o processo para ser convocado como árbitro das Olimpíadas é complexo, já que envolve seletivas em todos os continentes.
Dos quase 4 mil árbitros do mundo todo, a Federação Mundial de Taekwondo seleciona 270 de todos os continentes. Desses, apenas 60 vão para a última etapa, após passarem por avaliações, entre elas provas escrita, prática e física. Para as Olimpíadas deste ano, a final contou com 58 porque dois desistiram.
Já na última fase, os árbitros precisam seguir o calendário de uma série de competições, como campeonatos mundiais, para serem observados.
“Participei do processo inicial para as Olimpíadas de Londres, mas fiquei só na primeira seleção. No Rio de Janeiro fui até o final, mas o Brasil não teve árbitro. Para Tóquio tentei, mas não consegui e nem fiquei triste porque um colega que é padrinho do meu filho e que incentivei a ser árbitro foi o escolhido”, afirma.
Porém, a quarta tentativa se tornou ainda mais especial porque a grande incentivadora para que ele participasse foi a aluna de um projeto social criado por ele, na capital paulista, em que ofereceu aulas gratuitas de taekwondo por mais de dez anos (saiba mais sobre a ação abaixo).
“Eu não ia participar mais de processo olímpico. Mas a Larissa [aluna] foi convocada para a segunda seletiva dos árbitros. Ela me ligou e disse: ‘Mestre, você foi chamado?’. Disse: ‘Eu fui, mas não vou’. Aí ela: ‘Como o senhor não vai? Eu vou. O senhor já ajudou tanta gente e não vai estar comigo?’. Aí falei, então, que iria. Faltando dez dias, comprei passagem e fui.”
“Então, assim, a maior satisfação foi ver minha aluna se tornar a primeira mulher a ser selecionada para uma seletiva. Depois, vê-la ser a primeira mulher a arbitrar um campeonato mundial adulto e a primeira mulher a participar de um ciclo olímpico. Eu a treinei desde que ela escolheu o taekwondo. Treinei para ser atleta, incentivando para estudar, e a treinei para ser árbitra”, diz Marcelo.
Marcelo Rezende e sua aluna de projeto social nas seletivas para arbitragem olímpica
Arquivo Pessoal/Larissa Biodi
A aluna Larissa Boidi, de 29 anos, participou das seletivas com Marcelo. Como a Federação Mundial de Taekwondo determinou que um país poderia chegar até a última etapa com dois árbitros, desde que fosse um homem e uma mulher, por conta da regra da equidade, Larissa e Marcelo foram para a final. Os dois disputaram a vaga definitiva para as Olimpíadas, mas só Marcelo foi escolhido.
“Foi incrível e sensacional estar junto com meu mestre. Foi ele quem me passou todo o ensinamento de taekwondo e, agora, de arbitragem. Participamos das seletivas juntos e pude observá-lo e aprender. Estou orgulhosa dele. Eu o vejo arbitrando desde adolescente, né? Então, finalmente vê-lo chegar ao nível olímpico é incrível. Como aluna, fico extremamente orgulhosa e feliz, estou contando para todo mundo”, diz Larissa, que também atua como fisioterapeuta esportiva.
Marcelo complementa: “Estar junto com ela foi importante e, se fosse ela a escolhida, também estaria feliz. Quando ela recebeu a carta que estava na final, ela não estava acreditando. Fizemos todo o processo junto. Fiquei muito feliz de ver a felicidade dela. Foi muito legal mesmo”, complementa Marcelo.
Paixão pelo esporte
Larissa Biodi com Marcelo Rezende durante projeto social de taekwondo em SP
Arquivo Pessoal/Marcelo Rezende
Larissa contou que começou a praticar taekwondo através do projeto social idealizado por Marcelo em 2006. Ele passou a dar aulas gratuitas na Escola de Educação Física da Polícia Militar, na Zona Norte de SP, para crianças, adolescentes e adultos.
A ação, em parceria com a PM, foi feita de 2006 até 2020, e contou com centenas de alunos, além de ajudar na reabilitação de pessoas com deficiência, conforme o Esporte Espetacular mostrou em 2014. As aulas foram paralisadas devido à pandemia de Covid-19, mas devem retornar em breve.
“Nunca abri academia para ganhar dinheiro. Sempre fui para a filantropia, para ajudar crianças com o esporte. Fiz isso no Rio de Janeiro [onde nasceu] e depois quando vim para São Paulo, na Polícia Militar. Comecei esse projeto ensinando crianças, e Larissa era uma das mais promissoras do projeto, até conseguiu bolsa de estudo através do taekwondo”, ressalta o policial.
“Tenho muitos alunos que se tornaram médicos, jornalistas, professores de educação física, fisioterapeutas. Então, é uma satisfação ver isso e a superação de alguns alunos com deficiência, outros com mais idade que voltaram a estudar e melhoraram a saúde. Sempre procurei a formação do cidadão, ajudar as pessoas, sem fins lucrativos”, ressalta.
Larissa ressalta o quanto descobriu sua paixão pelo esporte através do projeto. “Me apaixonei pelo esporte logo de cara. Marcelo me incentivou muito. Eu tentei ser atleta, mas não consegui muitos títulos. Então, eu parei e fui tentar ser árbitra para seguir os passos dele, e deu certo.”
Marcelo Rezende em projeto social de taekwondo em 2014
Reprodução/TV Globo
A jovem se tornou árbitra em 2018 e começou a participar de competições na sequência.
“É bem diferent. Primeiro porque é bem específico e você tem alguns critérios, como ser faixa preta e fazer curso com várias etapas. E depois que tem a aprovação, você começa a se inscrever em competições internacionais para começar a arbitrar fora. Em 2021, por exemplo, eu comecei a ir para mais competições, só que a pandemia deixou mais difícil ampliar o número.”
“Para minha surpresa, fui para o processo seletivo das Olimpíadas pela primeira vez. Começa um ano antes, e eles te observam e veem quem está apto e quem não está. Participar das seletivas foi incrível. Eu consegui viajar para as competições junto com meu mestre e aproveitei para observá-lo, aprender mais”, ressalta.
Larissa Biodi durante seletivas para arbitragem nas Olimpíadas de Paris
Arquivo Pessoal/Larissa Biodi
Larissa ainda afirma que não vai desistir e vai continuar tentando ser uma das escolhidas para a arbitragem olímpica. “Nas próximas eu vou tentar de novo, sem dúvida. Eu quero o título da primeira mulher brasileira como árbitra nos Jogos Olímpicos.”
E Marcelo, que fará sua primeira arbitragem olímpica nos próximos dias, diz que está torcendo para não ser o árbitro da semifinal e da final de taekwondo. E explica o porquê:
“Uma coisa que sempre torço é para não arbitrar semifinal e final porque espero que estejam atletas do Brasil, e aí não posso arbitrar. Quero que o Brasil esteja na semifinal e na final.”
Major da PM Marcelo Rezende recebeu homenagem como melhor árbitro masculino no Grand Slam Final em dezembro de 2023
Arquivo Pessoal/Marcelo Rezende
Larissa Biodi como árbitra em competição de taekwondo
Arquivo Pessoal/Larissa Biodi
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