Estudante denuncia estupro após pegar carona com conhecido no AC; suspeito diz que relação foi consensual


Bruna Silva, de 23 anos, diz que ao sair de boate o homem ofereceu carona e por conhecê-lo, confiou. Após denúncias, vítima recebeu relatos de outras mulheres. Jovem denuncia homem que a estuprou após sair de boate em Rio Branco
Arquivo pessoal
A estudante de odontologia Bruna Silva, de 23 anos, denunciou que foi vítima de estupro em uma rua sem saída, em Rio Branco, após aceitar carona de um conhecido quando saía de uma boate por volta das 5h do último domingo (28). O suspeito é Higor Lima, de 23 anos, que afirmou ao g1 que a jovem chegou até ele, pediu carona e no trajeto, teria aceitado manter relações sexuais com ele de forma consensual.
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Segundo o relato de Bruna, publicado nas redes sociais, ela afirma que decidiu postar sobre o ocorrido pois não aguentaria passar pela situação [pós estupro] sozinha e com a internet, percebe as pessoas que estão ao seu lado.
No momento que gravava o vídeo, Bruna conta que tinha acabado de chegar em casa, após fazer os trâmites legais para denunciar o estupro. “Fui na delegacia e na maternidade tomar os remédios direitinho. Fui no IML [Instituto Médico Legal] também para coletar o DNA e fazer o corpo de delito”, explica.
Durante o relato do que aconteceu na madrugada do domingo (28), ela afirma que já conhecia o homem que ofereceu a carona. Segundo Bruna, que é mãe de uma criança de 5 anos, ela estava com amigos da faculdade e resolveu ficar um pouco mais na boate.
“A pessoa que fez isso era uma pessoa que eu conhecia. Porém, ele não estava comigo ontem (28). Não era nenhuma das pessoas que estavam comigo. Mas eu já conhecia ele e eu encontrei ele no final da festa, quando eu estava indo pra casa, e por eu já conhecer, eu confiei em aceitar uma carona”, fala.
De acordo com a jovem, o homem teria dito que trabalhava na boate. O g1 entrou em contato com os responsáveis pela boate, que negaram que o suspeito faça parte do quadro de funcionários do local.
Nos vídeos postados por Bruna nas redes sociais, ela aparece visivelmente abalada e chora durante os vídeos
Arquivo pessoal
Relato
A vítima narra que, durante a carona, disse para o suspeito que não queria ficar com ele, apesar da insistência do homem em vários momentos. Em determinado momento, Bruna afirma que o homem a teria levado para uma rua sem saída e continuou insistindo em ficar com ela, chegando até a agredi-la fisicamente.
Bruna afirma também que durante as duas horas, que ela descreve como ‘as mais torturantes’ da vida dela, o homem gravou o ato que a mostrava desconfortável, com medo e chorando.
“Depois que ele terminou, eu fingi que estava tudo bem, eu expliquei isso na delegacia, porque eu só queria que ele me deixasse em casa. Eu fiquei com medo de falar alguma coisa e ele ficar irritado e me bater mais ainda ou fazer coisa pior, então eu pedi pra ele me deixar para que eu pudesse buscar meu filho, até porque era uma estratégia para que ele não soubesse meu endereço”, comenta.
Jovem mostra ferimento após o ocorrido na madrugada deste domingo (28)
Arquivo pessoal
Bruna revela que registrou um Boletim de Ocorrência na Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) e já recebeu uma medida protetiva contra Higor.
“Eu não sou uma pessoa tão frágil quanto eu aparento ser. Eu tenho sangue nos olhos e eu tenho sede por justiça. E eu nunca vou deixar esse tipo de situação passar impune. Nunca vou me calar e nunca vou guardar pra mim. Porque eu quero justiça e é isso que eu estou em busca”, afirmou.
Bruna postou diversos prints onde outras mulheres dizem ter passado algum abuso com o mesmo homem
Arquivo pessoal
Após expor o fato, a estudante de odontologia postou diversos prints em seus stories onde outras mulheres afirmam que sofreram abusos do mesmo homem. Ela pretende anexar estes relatos no processo contra Higor. (Veja acima)
“Eu imaginava que outras mulheres iriam entrar em contato comigo, esse era o meu intuito, mas eu imaginava que seriam mais cinco, no máximo dez, até para me ajudar a ter provas contra ele e para alertar outras mulheres, porém isso tomou uma proporção muito grande. Foram dezenas de mulheres, e se não duvidar tem centenas. Uma mulher que já se relacionou com ele, comentou que viu no celular dele mais de mil vídeos. Esses vídeos ele faz para ameaçar elas [as mulheres que ele abusa]”, torce ela.
O outro lado
O g1 procurou o acusado para que ele relatasse sua versão. Higor Lima contesta a acusação de Bruna e diz que a relação sexual ‘foi algo que os dois queriam’. De acordo com ele, está sendo acusado injustamente. Ele alega ainda que desativou as redes sociais e que está sendo ameaçado de morte após ela publicar o endereço da casa dele.
Na versão de Higor, por volta das 4h do domingo (28) estava na boate quando Bruna chegou até ele, eles começaram a conversar e decidiram sair juntos da boate. “O segurança da boate viu que ela que chegou em mim. Saímos da boate juntos, ela na frente e eu atrás. Não ofereci em momento nenhum carona para ela. Já saímos quase como tudo certo para a gente ficar”, afirma ele.
O homem ainda garante que em direção à casa da mulher, achou um local para que eles pudessem manter relações sexuais e ela teria aceitado. “Depois do ato, ela até me pediu pra ir buscar o filho dela com ela, mas falei que tava muito cansado e com sono e que não ia, e fui deixar ela na casa dela. Tudo normal e de boa”, reitera.
Higor assegura que não precisa forçar ninguém a ficar com ele e está sendo vítima de uma falsa acusação. “Aqueles hematomas nela não foi eu que fiz. Acho que ela mesma se machucou. Não sei porque ela está fazendo isso, mas acho que é para ficar conhecida nas redes sociais. Tenho prova que não fiz algo forçado e vou mostrar na justiça”, certifica.
Questionado sobre as outras acusações, Higor não respondeu à reportagem.
Delegacia da Mulher
Elenice Frez Carvalho, delegada coordenadora da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), explicou como funciona o procedimento em casos como esse. “Depois do registro da ocorrência, a delegacia faz o primeiro procedimento que é o encaminhamento pro IML, que ela [Bruna] já fez e aí a gente dá seguimento ouvindo testemunhas, juntando os exames que ela realizou no IML, interrogando o autor”, esclareceu.
A legislação prevê o prazo de 30 dias para a conclusão dos inquéritos que não são iniciados por meio de prisão em flagrante. Caso esbarre em alguma complexidade que impeça a conclusão no prazo estipulado, então é encaminhada uma solicitação ao Judiciário pedindo novo prazo para a realização das diligências que não foram possíveis concluir.
Sobre os prints que Bruna têm de outras mulheres afirmando que passaram pelo mesmo que ela, a delegada explica que de alguma forma fortalecem o relato da jovem.
“Contudo, para que haja a justiça no caso individual de cada uma delas, é necessário que elas sejam orientadas, até encaminhadas mesmo, se possível, quem tem mais proximidade, levá-las, acompanhá-las até a delegacia, para que a gente possa também adotar providências no caso de cada uma delas, para a responsabilização criminal”, finaliza.
Veja como denunciar casos de violência contra a mulher:
Polícia Militar – 190: quando a criança está correndo risco imediato;
Samu – 192: para pedidos de socorro urgentes;
Delegacias especializadas no atendimento de crianças ou de mulheres;
Qualquer delegacia de polícia;
Disque 100: recebe denúncias de violações de direitos humanos. A denúncia é anônima e pode ser feita por qualquer pessoa;
Profissionais de saúde: médicos, enfermeiros, psicólogos, entre outros, precisam fazer notificação compulsória em casos de suspeita de violência. Essa notificação é encaminhada aos conselhos tutelares e polícia;
WhatsApp do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos: (61) 99656- 5008;
Ministério Público;
Videochamada em Língua Brasileira de Sinais (Libras).
Anuário da Segurança: Acre teve aumento nos casos de estupro, mortes violentas e racismo
VÍDEOS: g1
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