
Cauda de turboélice da Azul que seguia de Campinas para o Rio de Janeiro tocou o solo durante o embarque na sexta (23). Segundo a companhia, motivo foi ‘desbalanceamento’; passageiros foram realocados. Turboélice ‘útil e seguro’, veja modelo de avião que ‘empinou’ em embarque em Viracopos
Usado pela Azul Linhas Aéreas nos voos de Campinas (SP) a Jacarepaguá (RJ), o avião que “empinou” durante o embarque no Aeroporto Internacional de Viracopos é um modelo monomotor turboélice para até 9 passageiros, chamado Cessna Grand Caravan – confira no vídeo acima.
Segundo o professor de engenharia aeronáutica da USP São Carlos, James Waterhouse, o Caravan é uma aeronave extremamente conhecida e a mais utilizada no mundo em sua categoria. Na sexta-feira (23), a cauda do avião tocou o solo por conta de desbalanceamento de carga, segundo a Azul.
“É considerada bastante segura e tem velocidades de pouso e decolagem bastante baixas, possibilitando pousos de emergência em locais bem apertados”, avalia o professor.
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A aeronave
A Azul começou a operar há um ano a rota entre Campinas e o aeroporto de Jacarepaguá, no Rio, com aeronaves Cessna Grand Caravan.
O avião é um monomotor turboélice para até 14 pessoas, entre passageiros e tripulantes – a configuração da Azul é para 9 ocupantes.
Segundo dados do fabricante, a aeronave que precisa de apenas 426 metros de pista para realizar a decolagem e atinge 343 km/h em velocidade de cruzeiro, tem autonomia para até 1,6 mil quilômetros de distância.
A ficha técnica do modelo indica que o Grand Caravan tem:
4,71 metros de altura
12,67 metros de comprimento
15,88 metros da ponta de uma asa à outra
A aeronave que pesa 2,4 toneladas pode carregar mais 1,6 tonelada de carga, e chega a 343 km/h.
‘Útil, seguro’
De acordo com o especialista em aviação, Roberto Peterka, o modelo é “útil, seguro e, por conta de seu tamanho, tem sido utilizado em aeroportos pequenos”, com pistas menores que não permitem o pouso de aviões a jato.
Ainda segundo Peterka, o avião pode ser utilizado para fazer a interligação de cidades pequenas ou aeroportos de menor porte, com pouco movimento de passageiros.
“É um nicho de mercado bastante explorado por outras empresas, de táxi aéreo, no Norte, principalmente”, diz Peterka.
Aeronave da Azul tocou a cauda no solo durante embarque de passageiros em Viracopos, em voo que seguiria para o Rio de Janeiro na sexta (23)
Reprodução
Desbalanceamento
O desbalanceamento de carga, que fez com que o avião monomotor da Azul “empinasse”, tocando a cauda no solo durante o embarque em Viracopos, pode ser evitado com um mecanismo conhecido na aviação como “pau de carga”.
Durante o incidente, não houve feridos e os passageiros desembarcaram em segurança, segundo a companhia. Não há informações, no caso do avião que “empinou” em Viracopos, sobre o por quê do dispositivo não ter sido usado e nem se ele estava disponível.
O avião faria o voo AD5144 e decolaria do Aeroporto de Viracopos para o Rio de Janeiro.
“A aeronave foi estabilizada e passará por inspeção. Os clientes desembarcaram em total segurança, sendo reacomodados em outros voos. A companhia ressalta que adota medidas preventivas como essa para conferir a segurança de suas operações, valor primordial da Azul”, informou a empresa, em nota.
Veja abaixo como funciona o “pau de carga” e em quais tipos de aviões é mais comum ele ser usado.
‘Pau de carga’
Especialista em aviação, Roberto Peterka afirmou que aviões de pequenos porte, como o Cessna e os ATRs, possuem uma haste colocada na cauda que impede que eles “empinem”, o que é relativamente comum em casos de desbalanceamento de carga. É este procedimento que é chamado de “pau de carga”.
“Ele é colocado justamente para impedir que o avião abaixe até o solo. Esse ‘pau de carga’ fica ali e, assim que ligar o motor do avião, o próprio motor mantém o avião sem baixar a cauda. Aí, esse pau é retirado, colocado dentro do avião, e ele vai voar. Quando chega no destino, ele é colocado novamente na cauda até descerem todos os passageiros e a cauda não bater no solo. Este é um procedimento exigível e que por algum motivo não foi feito para esse avião, e ele acabou baixando até o solo”, afirmou.
O professor James Waterhouse afirmou que o desbalanceamento de carga também pode acontecer em aviões maiores, mas é bem mais improvável. Apesar de ser um processo “comum”, cuidados devem ser tomados para que aeronaves não decolem com a distribuição de peso incorreta.
“O embarque de passageiros em aeronaves grandes não causa problemas, pois o peso de poucas pessoas é muito pequeno em relação ao peso da aeronave. Mas, mesmo em aeronaves grandes de carga, quando os pallets de carga são carregados de forma incorreta, isso acontece”, explicou.
No entanto, decolar com a aeronave desbalanceada pode causar quedas. “Isso é tão importante que existe um profissional cujo trabalho é fazer a correta distribuição de peso na aeronave, o Despachante Operacional de Voo (DOV)”, diz o professor.
Existe também o risco da carga se mover durante o voo e, de acordo com o professor, vários acidentes com aeronaves grandes ocorreram por esse motivo.
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