
Desde novembro, Quadrilha Junina Evolução, do bairro de Santo Amaro, se prepara para o São João. Costureira e dançarinos se unem em maratona de trabalho e paixão para desfiles de Quadrilha Junina no Recife
Faltam poucos dias para o São João incendiar o Nordeste e, nos bastidores da Quadrilha Junina Evolução, do bairro de Santo Amaro, no Recife, a efervescência é palpável. Longe dos holofotes dos arraiais, uma equipe incansável de artistas e produtores culturais trabalha arduamente para garantir que o espetáculo seja impecável (veja vídeo acima).
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Entre eles, destacam-se figuras como Maria do Carmo Silva, a Dona Carminha, costureira de 68 anos que veste a tradição, e os apaixonados dançarinos que, movidos pela emoção, ensaiam há meses e fazem rifas para custear o espetáculo e brilhar na quadra.
Mal o sol desponta, Dona Carminha, de 68 anos, já está diante de sua máquina de costura. Com agulha e linha em punho, ela transforma tecidos em obras de arte juninas, confeccionando calças, camisas e coletes para os 38 cavalheiros da Quadrilha Evolução. O ritmo é puxado, com longas jornadas que se estendem noite adentro.
“A gente tem que acordar cedo e dormir tarde, senão, não dá conta. Tem que dar, nem que vire a noite”, conta Dona Carminha.
Para ela, a recompensa vai além do cansaço. “É prazeroso a gente fazer roupa cultural, porque é bonita e, depois, a gente vê todo mundo animado, dançando. É muito bonito e isso me dá muito prazer. Eu não danço, mas sinto que faço parte, porque se não fosse a costureira, não tinha dança”, resume.
Nesta época de pico, Dona Carminha conta com um reforço especial: Saulo Antônio da Silva, mecânico de máquinas de costura que se junta à linha de produção, cortando os tecidos enquanto ela costura. A dupla trabalha em sincronia para entregar as encomendas, muitas delas de última hora.
E enquanto os figurinos ganham forma, os quadrilheiros da Evolução aprimoram seus passos desde novembro do ano passado, com ensaios que ocupam todos os fins de semana. Com 17 anos de história, a quadrilha se orgulha de ter a maioria de seus dançarinos vinda da equipe mirim. É o caso de Mykaela Cavalcanti, advogada de 25 anos que começou a dançar aos 8.
“Acaba se tornando também um vício, porque a gente não consegue deixar. Já tentei algumas vezes, mas não consigo”, confessa Mykaela.
“Estou aqui desde que eu tinha 8 para 9 anos, desde que a Evolução surgiu. Desde então, não consigo sair, porque é um movimento que abraça a gente. A emoção de você estar em quadra, dançando, é indescritível. Os ensaios também é são momentos de troca. A gente se diverte e vê os amigos”, diz.
Para Matheus Mendes, ator e artista plástico de 21 anos, este São João será inesquecível. Apaixonado por quadrilhas desde a infância, ele realiza o sonho de dançar pela primeira vez.
“Sempre fui apaixonado por quadrilha, meu pai e minha mãe sempre me levaram. Desde criancinha estava lá nos arraiais assistindo, prestigiando, e sempre veio a vontade de dançar. Esse ano, vi a oportunidade e vim”, celebra.
Já para Daniele Torres, vendedora de 35 anos e mãe de três filhos, a quadrilha é uma extensão da sua alma. Ela dançava mesmo grávida e não abre mão dessa paixão.
“Está no sangue. A gente não sabe controlar as emoções. A quadrilha, para mim, é uma válvula de escape. Porque ser mãe, trabalhar, ser dona de casa, e ainda ter tempo de dançar quadrilha é gostar muito do que faz”, afirma Daniele, que se sente realizada ao ver a filha Helena, de 5 anos, seguindo seus passos como destaque e mascote da quadrilha.
Luta pela tradição
Quadrilha junina Evolução se prepara para o São João
Reprodução/TV Globo
A beleza e o encanto dos espetáculos juninos da Quadrilha Evolução têm um custo: este ano, o valor estimado para levar o grupo aos arraiais é de R$ 275 mil. Para custear as despesas, Pinho Fidelis, presidente e coreógrafo da quadrilha, explica que a responsabilidade é de todos.
“Quem paga os boletos somos todos nós. Inclusive, temos uma rifa correndo para poder ajudar. Esse processo lindo no arraial, essas roupas lindas, o cenário, é custeado pela quadrilha. Cada componente paga seu figurino, inclusive com a ajuda da rifa”, detalha.
Apesar dos desafios financeiros, a paixão pela tradição fala mais alto. “Estamos resistindo e existindo. Para existir, a gente resiste, e o amor é o que nutre isso”, finaliza Pinho Fidelis.
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