
‘Tanusiella travassosi’ é espécie exclusiva da Mata Atlântica que tem padrão de cor único; quase não há informações científicas publicadas sobre o inseto Foto de casal de esperanças-pavão foi vencedora de concurso de fotografia
Phillip Engelking
Com as asas fechadas, a esperança-pavão Tanusiella travassosi passa despercebida por diversos predadores que habitam as regiões de alta altitude de florestas úmidas da Serra da Mantiqueira e da Serra do Mar. Isso porque a coloração terrosa se camufla em meio aos líquens e musgos da vegetação dessas áreas da Mata Atlântica.
Mas quando são descobertas e se sentem ameaçadas, a estratégia muda: é hora de levantar e expor as asas, revelando tons coloridos e vibrantes de vermelho e azul que afastam aqueles que relacionam as cores de advertência a bichos venenosos. Esse movimento lembra o comportamento de pavões para atraírem as fêmeas e justifica o nome popular.
Tanusiella travassosi
Também há explicação para o nome científico. “Costa e Lima, que foi o descobridor da espécie, homenageou o Travaços Filho, que foi um entomólogo bem importante aqui no Brasil na década de 20 até de 80”, diz o biólogo Phillip Engelking.
Esperança-pavão expõe as asas para afastar predadores
Segundo Engelking, , essa esperança só vive a partir dos 1.000 metros de altitude, em locais frios e muito úmidos, geralmente próxima ao chão. Não é um animal venenoso e os machos são relativamente menores que as fêmeas, já que faz uma muda de crescimento a menos.
“O macho tem uns 2,5 cm de corpo e a fêmea tem uns 4 cm. Apesar do corpo não ser muito grande, as pernas são bem compridas, assim como as antenas. Para botar ovos, a fêmea escolhe madeiras em decomposição no solo”.
Display de mostrar as asas funciona como proteção contra predadores
Pedro Alvaro Neves
O gênero Tanusiella possui apenas duas espécies, a Tanusiella travassosi, que ocorre mais em São Paulo e no Rio de Janeiro e outra espécie-irmã, Tanusiella gutífera, mais exclusiva do Espírito Santo, e possui características físicas muito parecidas.
Até hoje, Engelking foi o único pesquisador a conseguir criar a espécie Tanusiella travassosi em cativeiro para recolhimento de dados científicos, que ainda não estão publicados. Ele também já encontrou essa esperança na natureza em expedições de campo do Projeto Phasma, que se dedica a estudar esses animais, além de bichos-paus.
Oficialmente, sabe-se quase nada sobre essa esperança, mas Engelking tem planos de publicar as descobertas, inclusive que o inseto chega a viver por até um ano, tempo considerado longo.
Esperança-pavão é herbívora e não possui nenhum tipo de veneno
Pedro Alvaro Neves
Esperanças-pavão
De acordo com o entomólogo Gustavo Costa Tavares, esperança-pavão é, na verdade, o nome popular dado para todas as esperanças da subfamília Pterochrozinae. “São cerca de 97 espécies descritas até o momento, distribuídas desde o México até o Brasil”, afirma.
Ele acrescenta que são organismos muito pouco estudados, pois são noturnos, muito discretos e facilmente passam despercebidos, mas revela que sabe-se que todos são herbívoros.
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