Megaprojeto Neom: cidade em formato de linha pode causar mudanças no clima

Por conta das várias construções que envolvem o megaprojeto Neom, da Arábia Saudita, a cidade futurista The Line — que, literalmente, é uma enorme linha — pode desencadear alterações nos padrões meteorológicos da região, além de causar mudança na trajetória de ventos e tempestades de areia.

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Quem alerta sobre esse problema é Donald Wuebbles, especialista em física e química atmosférica, que atua como consultor remunerado da Neom. Ao jornal Financial Times, ele disse ter levantado diversas vezes a questão de como a cidade linear, campos de esqui e ilhas poderiam causar e sofrer mudanças meteorológicas e ambientais.

Projeção do The Line. Foto: Neom/ Divulgação

De acordo com Wuebbles, o comitê executivo de sustentabilidade foi informado em uma reunião recente que o tópico havia sido elevado a uma “prioridade mais alta”. O status de preocupação aumentou após a saída abrupta de Nadhmi al-Nasr, ex-CEO da Neom.

 

Para o profissional, os efeitos prejudiciais poderiam incluir mudanças nos padrões de chuva, amplificação de ventos e de tempestades na área desértica. O especialista ainda destaca que os impactos negativos do projeto Neom “não foram estudados o suficiente”.

Toda a operação foi desacelerada em 6 a 12 meses– contou Wuebbles

Segundo o especialista, diversos acadêmicos foram contratados pelo megaprojeto para estudar os potenciais riscos, mas os resultados nunca foram compartilhados. Inclusive, um membro do comitê consultivo da Neom — que pediu para não ser identificado — confirmou algumas das preocupações de Wuebbles.

De olhos abertos

O megaprojeto Neom, encabeçado pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, carrega consigo um leque de problemas — com os ambientais sendo apenas uma fração deles. Com recursos limitados devido à baixa do petróleo, espera-se que a ambiciosa The Line seja adiada ou reduzida.

Projeção do The Line. Foto: Neom/ Divulgação

No melhor dos mundos, é previsto que o empreendimento da Neom seja 33 vezes maior que Nova York, tenha prédios flutuantes na água, estação de esquis e novas ilhas. Entretanto, toda essa dinâmica pode causar consequências ambientais problemáticas à região saudita.

 

De arranha-céus com edifícios estreitos de até 500 metros de altura, revestidos por uma fachada de vidro espelhado de 170 km, o projeto apresenta riscos para a biodiversidade regional. Ao colocar pistas de esquis, por exemplo, ameaçaria à vida marinha no Mar Vermelho.

Projeção do The Line. Foto: Neom/ Divulgação

Um estudo preliminar usou modelos de simulação para rastrear a dispersão de detritos provenientes dos locais de construção costeira. A pesquisa indica que sedimentos finos podem permanecer suspensos na água por até um mês e se depositar a até 200 km de distância de sua origem.

 

Além disso, a forma das cidades e suas temperaturas tipicamente elevadas podem alterar as correntes de ar e a formação de nuvens, como mostram outras pesquisas. Segundo acadêmicos de instituições como Princeton, as tempestades de verão geralmente se intensificam sobre áreas urbanas, o que também representaria outra alteração climática na região.

A “cidade do futuro” tem futuro?

O atual CEO interino, que recentemente assumiu o projeto de US$ 500 bilhões (cerca de R$ 2,8 trilhões na conversão de maio de 2025), lida com uma Arábia Saudita com preços mais baixos do petróleo, menor investimento estrangeiro e enorme área de desenvolvimento.

Projeção do The Line. Foto: Neom/ Divulgação

Quanto às polêmicas ambientais, a Neom se defende dizendo ser uma empresa de desenvolvimento responsável e que a sustentabilidade continua sendo o foco da empreitada.

 

Segundo a empresa, o objetivo é reduzir os impactos ambientais de seus projetos “em comparação com projetos de construção tradicionais”. A mudança se daria, por exemplo, nos materiais de construção utilizados.

A Neom destacou o uso de aglutinante em concreto, com menor carbono incorporado do que o cimento tradicional, a construção com materiais locais e uma equipe própria dedicada à descarbonização, que opera também com os fornecedores do projeto.

 

Além das questões ambientais, o The Line ainda rende pano para a manga em outras problemáticas, como questões ligadas aos direitos humanos, abuso de trabalho de imigrantes, expulsões de moradores e morte de ativista que protestava contra a expulsão da sua tribo local para a construção do projeto.

 

Por Áleff Willian, sob supervisão da jornalista Denise de Almeida

 

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