
Foragido há cinco anos, Marcos Roberto de Almeida foi detido por uso de documentos falsos na Bolívia. No Brasil, ele tem duas prisões decretadas em investigações do MP-SP. Bolívia prende chefe do PCC foragido da Justiça brasileira
Marcos Roberto de Almeida, conhecido como Tuta e apontado como novo número 1 da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), foi transferido na tarde deste domingo (18) da Bolívia para Brasília.
Foragido há cinco anos, Tuta foi capturado na sexta-feira (16) na Bolívia. Na manhã deste domingo, ele foi entregue à Polícia Federal em Corumbá — município no Mato Grosso do Sul que faz fronteira com o território boliviano.
Por questões de logística e segurança, ele vai ficar preso na Penitenciária Federal em Brasília, onde seu antecessor Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, está preso.
A transferência do preso para o Brasil contou com a coordenação do Ministério da Justiça e Segurança Pública e do Ministério de Relações Exteriores. Participaram da operação 50 integrantes da Polícia Federal, incluindo 12 operadores do Comando de Operações Táticas (COT). O transporte da fronteira boliviana para Brasília foi realizado em uma aeronave da PF.
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A escolta até a Penitenciária Federal em Brasília contou com 18 homens da Polícia Penal Federal, além do apoio das polícias Militar e Civil do Distrito Federal.
Em ação conjunta com a Polícia Federal, agentes da Fuerza Especial de Lucha contra el Crimen (FELCC) da Bolívia prenderam Marcos Roberto de Almeida, na noite desta sexta-feira (16), em Santa Cruz de la Sierra.
Antes, o plano era que Tuta fosse transferido para a Penitenciária II de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo, conhecido por historicamente abrigar integrantes do alto escalão da facção, inclusive Marcola entre 2007 e 2019.
Estavam disponíveis 3 viaturas da Polícia Federal, 20 viaturas do 8º Batalhão, além do helicóptero Águia para receber Tuta em São Paulo.
Bolivia entrega Tuta, do PCC, a autoridades brasileiras
Divulgação/Investigadores da Polícia Federal
Prisão
Tuta foi preso na sexta na cidade de Santa Cruz de la Sierra com documentos falsos, segundo a PF. A prisão foi feita pela Fuerza Especial de Lucha contra el Crimen, da Bolívia.
A polícia boliviana informou que o homem detido se apresentou como Maycon Gonçalves da Silva, nascido em 25 de março de 1971, em um centro comercial da cidade, para tentar renovar a Cédula de Identidade de Estrangeiro (CEI), documento necessário para não bolivianos que residem no país.
Ao consultar o sistema internacional de estrangeiros, surgiu um alerta indicando que se tratava de um procurado pela Interpol. A PF, então, foi comunicada.
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PERFIL: Quem é Tuta, substituto de Marcola no PCC e preso na Bolívia
Polícia da Bolívia prende Marcos Roberto de Almeida, o Tuta, chefe do PCC foragido da Justiça brasileira, nesta sexta-feira (16).
Foto cedida por Ariel Melgar/El Deber
Tuta tem duas prisões decretadas e já foi condenado
No Brasil, Marcos Roberto de Almeida tem duas prisões decretadas em investigações do Ministério Público de São Paulo (MP-SP). Ele foi um dos principais alvos da Operação Sharks, deflagrada em 2020, quando fugiu do Brasil e passou a constar como foragido na lista da Interpol.
À época, o MP-SP confirmou que Tuta havia assumido o comando do PCC após a transferência de Marcola para um presídio federal, em fevereiro de 2019.
O criminoso já foi condenado em primeira instância por organização criminosa, com pena de 12 anos e seis meses de prisão. Responde ainda a outro processo por organização criminosa e lavagem de dinheiro.
“O Marcos Roberto, vulgo Tuta, já era da sintonia de 1, mas não era o número 1 do PCC. Com a remoção do Marcola, ele foi elencado, nominado pelo Marcola para ser o novo n° 1 do PCC, tanto dentro como fora dos presídios. É um velho conhecido nosso. Só que, em liberdade, ele atingiu o status, seria o novo Marcola na nossa concepção”, explicou na ocasião o promotor Lincoln Gakiya, que investiga o PCC há décadas em São Paulo.
Preso pela PF, Tuta é considerado o substituto de Marcola no comando do PCC
Reprodução
Nova estrutura do PCC
Em 2020, após a primeira fase da Operação Sharks, o MP paulista identificou os 21 suspeitos de integrar a nova cúpula do PCC.
Entre eles estava Tuta, que fazia parte da cúpula, chamada de Sintonia Final da Rua. Alvos foram identificados na Bolívia, no Paraguai e até na África.
Segundo o então procurador-geral de Justiça, Mário Luiz Sarrubbo, Tuta assumiu o comando do PCC por escolha do próprio Marcola.
Ele estava foragido e chegou a ser identificado, na época, como ocupante de um cargo de adido no consulado de Moçambique em Belo Horizonte. Seria uma estratégia para ocultar sua identidade.
O novo organograma da cúpula do PCC em São Paulo, apresentado pelo Ministério Público de SP nesta segunda-feira (14).
Reprodução
O termo “adido” é usado para designar um agente diplomático que não é um diplomata de carreira.
“A partir da remoção [para o sistema federal], as ordens passaram a ser nas ruas. E um dos indivíduos, Marcos Roberto, vulgo Tuta, ele assumiu a função do Marcola. É um indivíduo que tem contato em consulado, que transita no país e fora do país. É uma operação hoje que a ordem não está mais centralizada dentro do presídio, mas na rua. Por isso a importância da operação de hoje”, afirmou o promotor Lincoln Gakiya.
Além dele, o Ministério Público identificou outros 20 nomes que fazem parte da nova cúpula da facção.
Entre eles três nomes que seriam o braço financeiro da organização criminosa. Eles administram o dinheiro oriundo do tráfico feito belo bando. Entre os nomes que fazem parte do braço financeiro está uma mulher: Carla Luy Riciotti Lima, além de Robson Sampaio Lima e José Carlos de Oliveira.
Operação em 2020 mirou nova cúpula do PCC
Deflagrada em fevereiro de 2020, a Operação Sharks teve como objetivo prender membros da nova cúpula do PCC. Foram cumpridos 12 mandados de prisão, além de 40 de busca e apreensão.
A força-tarefa envolveu oito promotores e mais de 250 policiais militares.
Três pessoas foram presas na ocasião. A polícia também apreendeu explosivos, armas e carros de luxo usados pela organização.
Durante as buscas, os investigadores encontraram mais de R$ 100 mil em dinheiro vivo.
Explosivos encontrados no endereço de um dos alvos da operação
Divulgação/MP-SP
A operação também desmantelou um esquema de lavagem de dinheiro feito por meio de dólar-cabo, operação informal de câmbio sem registro no sistema financeiro.
Planilhas apreendidas indicaram que a facção movimentava cerca de R$ 100 milhões por ano, com lucros vindos principalmente do tráfico de drogas e da arrecadação entre integrantes.
Para ocultar valores, os investigados compravam veículos e usavam fundos falsos em casas e apartamentos. As transferências eram feitas por meio de doleiros.