Overtraining: estudo da Unicamp aponta causa de síndrome que gera fadiga por excesso de exercícios físicos


Pesquisador explica que proteína PARP1 é ativada para reparo celular, mas que o excesso dela causa danos à musculatura. Descoberta pode contribuir para desenvolvimento de medicamentos. Pessoa faz musculação
Pexels
Pesquisadores da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA-Unicamp), campus em Limeira (SP), descobriram que o excesso de proteína PARP1, após exercícios físicos intensos, é a causa de perda de performance, fadiga e sintomas da síndrome de overtraining (saiba mais abaixo).
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A pesquisa contou com testes em roedores, que foram submetidos a treinamento excessivo. Os pesquisadores constataram que houve a superprodução da proteína PARP1 na musculatura e perda de performance, fadiga e estresse.
Excesso da PARP1
Eduardo Ropelle, professor doutor da FCA e um dos pesquisadores responsáveis pelo estudo, explica que a PARP1 é uma proteína de ‘reparo’, mas que o excesso dela é prejudicial à musculatura.
“Não dá para minimizarmos a PARP1 de uma forma única e específica, mas ela tem sido estudada no reparo de células […] Mas, se ela é uma proteína de reparo, por que a ativação dela seria ruim? É pelo excesso. Quando ela está muito ativada, consome alguns substratos que são importantes para o metabolismo da célula […] É como se ela estivesse tentando resolver um problema com força demais”, informa o pesquisador Eduardo Ropelle.
Medicamento
Cientistas da Unicamp em Limeira (SP)
Ana Paula Morelli
Os roedores que foram tratados olaparibe não manifestaram os sintomas após excesso de exercícios físicos e overtraining.
Atualmente, o olaparibe é utilizado para tratamentos de alguns tipos de câncer, como de ovário e mama. Ele atua na inibição da PARP1 e facilita a morte das células cancerígenas. No entanto, Ropelle alerta que a substância não é indicada como ‘tratamento’ em pessoas saudáveis.
“No caso do câncer, a PARP1 ativada protege o DNA da célula cancerígena e impede sua morte. Quando o paciente tem certos tipos de câncer, o olaparibe é usado para inibir a PARP1 e facilitar a morte celular. Estamos falando da morte de uma célula cancerígena. Então, usar o olaparibe em indivíduos saudáveis envolve uma questão ética importante, e isso não poderia ser feito. Por isso, realizamos os testes no modelo de camundongo como uma prova de conceito”, explica Ropelle.
De acordo com o pesquisador, a descoberta é importante para o desenvolvimento de outros medicamentos, com o objetivo de minimizar as causas da disfunção muscular e da queda de desempenho em por conta do excesso de exercícios físicos e overtraining.
O que é overtraining
Mulher treina em academia e levanta pesos
The Lazy Artist Gallery/Pexels
A síndrome de overtraining ocorre quando o corpo realiza atividade física intensa sem o descanso adequado. A condição afeta tanto atletas profissionais quanto pessoas não atletas que praticam exercícios em excesso.
“Todas as pessoas que entrarem em excesso de exercício podem iniciar esse processo de ativação excessiva de PARP e, cronicamente, isso pode ser ruim. Então, não só para atletas, mas pessoas fisicamente ativas podem passar por esse processo”, afirma o pesquisador.
Os sintomas incluem a diminuição de performance e apetite, fadiga crônica, dor muscular, aumento de lesões, alterações no sistema imune e no metabolismo, além mudanças psicológicas.
O tratamento para overtraining consiste na suspensão parcial ou total do treinamento por semanas ou meses.
Estudo em humanos
A análise com humanos foi realizada em parceria com a Escola Sueca de Esporte e Ciências da Saúde, em Estocolmo, capital da Suécia. Os cientistas submeteram voluntários saudáveis a uma rotina de treino intervalado de alta intensidade (HIIT, na sigla em inglês).
De acordo com Ropelle, os resultados foram semelhantes entre os estudos com camundongos e humanos.
“O que observamos no modelo de excesso de exercício e overtraining [com camundongos] foi o mesmo que encontramos nas pessoas que fizeram excesso de exercício lá na Suécia”, afirma o pesquisador.
Publicação
Campus da Unicamp em Limeira
VC no G1
A pesquisa final foi publicada revista Molecular Metabolism. Ela levou quatro anos para ser concluída e contou com autoria de 19 pesquisadores.
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