O aumento expressivo no consumo de tadalafila no Brasil nos últimos anos chamou a atenção de especialistas e autoridades em saúde. O medicamento, indicado originalmente para o tratamento da disfunção erétil, registrou um salto de quase 20 vezes nas vendas ao longo de uma década, segundo dados obtidos por veículos de imprensa. Embora tenha sido desenvolvido com propósitos clínicos específicos, a substância passou a circular de forma mais ampla, sendo consumida por um público que inclui jovens adultos e até adolescentes, muitas vezes sem qualquer orientação médica.
Pontos Principais:
- Consumo de tadalafila cresceu quase 20 vezes em uma década no Brasil.
- Jovens usam o remédio sem receita para aumentar desempenho sexual.
- Médicos alertam para riscos físicos e psicológicos com o uso indevido.
- Promessas de aumento peniano e ganhos em treinos não têm respaldo clínico.
Esse movimento é fortemente impulsionado pelas redes sociais. Vídeos virais, influenciadores digitais e fóruns de discussão promovem a tadalafila como um produto multifuncional, com supostos benefícios que vão além da esfera sexual. Relatos de usuários sugerem que o medicamento prolongaria o tempo de ereção, permitiria múltiplas relações em curto intervalo, aumentaria o volume peniano e, em alguns casos, melhoraria o desempenho em treinos de musculação. Essa percepção popular, no entanto, não encontra amparo na literatura médica.

Médicos ouvidos em reportagens recentes alertam para a banalização do medicamento e para os riscos associados ao uso recreativo e fora de prescrição. O entusiasmo gerado pelas redes sociais contrasta com a realidade clínica, na qual os efeitos desejados nem sempre se concretizam e, em alguns casos, podem vir acompanhados de efeitos colaterais e problemas emocionais que afetam a saúde sexual e psicológica do usuário.
Expansão de consumo e mudança de perfil
Os números mostram um crescimento marcante: a cada comprimido vendido há dez anos, hoje são comercializadas quase duas dezenas. Essa explosão de demanda ocorre em paralelo ao aumento do interesse do público jovem, faixa etária que historicamente não representava parcela significativa dos consumidores desse tipo de produto. Nas farmácias, o acesso ao medicamento tornou-se mais facilitado, com versões genéricas e preços mais acessíveis.
A tadalafila, que chegou ao mercado nos anos 2000 como alternativa à sildenafila (o Viagra), ganhou espaço pela sua ação prolongada, que pode durar até 36 horas, e por ter menos efeitos adversos em comparação com medicamentos anteriores. Com o tempo, passou a ser vista não apenas como tratamento médico, mas como um recurso para desempenho, confiança e até status entre grupos sociais conectados digitalmente.
A forma como o medicamento é abordado nas redes contribui para essa transformação. Influenciadores relatam experiências positivas, recomendam o uso mesmo para quem não tem disfunção e criam expectativas irreais sobre o que a substância pode oferecer. A promessa de maior tempo de ereção, ganho de volume peniano, resistência física e satisfação sexual reforça padrões de masculinidade ligados à performance, sem que haja uma análise crítica sobre os riscos.
Realidade clínica e falsas promessas
Um dos principais mitos associados à tadalafila é o aumento da duração da ereção. Médicos explicam que o medicamento não tem a função de prolongar o tempo entre o início da ereção e a ejaculação. O que ocorre, segundo especialistas, é que a segurança proporcionada pela firmeza da ereção pode reduzir a ansiedade durante o ato sexual, permitindo uma experiência mais relaxada. Isso pode ser interpretado como “maior desempenho”, mas se trata de uma resposta emocional e não de uma alteração fisiológica direta.
Outro mito recorrente é o suposto aumento do tamanho peniano. A tadalafila, como vasodilatadora, de fato aumenta o fluxo sanguíneo na região, o que pode resultar em uma aparência mais volumosa, inclusive quando o pênis está flácido. No entanto, esse efeito é temporário e não está ligado a modificações estruturais. A sensação de aumento relatada por alguns usuários é resultado da circulação aumentada, não de crescimento anatômico.
O tempo de recuperação entre relações também é um ponto de destaque nos relatos populares. Esse efeito, ao contrário dos demais, tem respaldo clínico. A tadalafila pode realmente reduzir o tempo necessário entre uma relação e outra, permitindo mais de uma relação sexual com intervalo menor. Essa funcionalidade está ligada à sua capacidade de manter o fluxo de sangue na região por mais tempo, prolongando a condição fisiológica favorável à ereção.
Efeitos colaterais e uso sem controle
Embora seja considerada uma substância com menor taxa de efeitos colaterais quando comparada a outras do mesmo grupo, a tadalafila não é isenta de riscos. Os efeitos mais comuns incluem dor de cabeça, dores nas costas, rubor facial, congestão nasal, desconforto gástrico e dores musculares. Há também efeitos mais graves, ainda que menos frequentes, como priapismo (ereção prolongada e dolorosa), perda de audição, alterações na visão e queda súbita da pressão arterial.
Casos documentados em revistas científicas renomadas, como a “Nature”, alertam para complicações graves associadas ao uso descontrolado. Um dos relatos envolveu um paciente que desenvolveu uma neuropatia óptica isquêmica anterior — condição semelhante a um AVC nos olhos — que resultou em perda parcial de visão. A gravidade desse tipo de ocorrência reforça a importância do uso com acompanhamento médico.
Outro risco importante está ligado à dependência emocional. Embora o medicamento não cause dependência química, seu uso repetido como suporte para a vida sexual pode levar a um condicionamento psicológico. Jovens usuários passam a acreditar que só conseguirão se relacionar sexualmente com o auxílio da substância. Isso enfraquece a confiança pessoal e pode desencadear quadros de ansiedade, depressão e dificuldade de desempenho em situações sem a presença do medicamento.
Percepções equivocadas e desinformação
O uso da tadalafila também se estendeu para contextos fora da sexualidade. Alguns jovens passaram a consumir a substância antes de treinos, baseando-se na ideia de que o aumento da vascularização poderia contribuir com o desempenho físico. Essa crença, no entanto, não encontra sustentação científica. Estudos realizados com esse propósito não evidenciaram benefícios reais em rendimento, resistência ou ganho muscular.
O que ocorre nesses casos é uma impressão visual de maior vascularização, já que o efeito vasodilatador deixa as veias mais evidentes. Isso pode criar a ilusão de hipertrofia ou melhora de desempenho, mas trata-se de um fenômeno estético e passageiro, sem impacto funcional. A ingestão frequente nesses contextos representa um risco desnecessário, principalmente porque o uso não está previsto na bula nem nos protocolos médicos.
Outra crença sem respaldo científico é o uso do medicamento por mulheres. Embora tenham sido realizados estudos para verificar se haveria alguma utilidade da tadalafila no estímulo da resposta sexual feminina, os resultados não apresentaram eficácia clínica significativa. Médicos não recomendam o uso por mulheres, pois os mecanismos de ação da substância são específicos para a fisiologia masculina, e seu consumo por mulheres pode ser inócuo ou até prejudicial.
Educação sexual e responsabilidade médica
O crescimento do consumo de tadalafila fora do ambiente clínico escancara deficiências na educação sexual e no acesso à informação de qualidade. A erotização precoce, combinada com padrões irreais de performance, molda expectativas equivocadas sobre a sexualidade. Jovens são pressionados a corresponder a padrões construídos em ambientes digitais, o que gera insegurança e impulsiona a busca por soluções rápidas.
Nesse contexto, o medicamento acaba sendo usado como um facilitador de aceitação e como uma ferramenta para lidar com medos, inseguranças e frustrações. Médicos alertam que, em vez de recorrer a substâncias, é fundamental investir em acompanhamento psicológico e em orientação adequada sobre o funcionamento do corpo e da mente durante a sexualidade.
O papel das autoridades sanitárias e do setor educacional é central. Campanhas informativas, formação de profissionais para orientar adolescentes e ações nas escolas podem ajudar a desmistificar o uso indiscriminado de medicamentos como a tadalafila. É preciso reforçar a importância da consulta médica, da individualização de tratamentos e da distinção entre marketing digital e medicina baseada em evidências.
Fonte: G1, Wikipedia e Bbc.
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