Alergias alimentares: veja quais são os sintomas, como tratar e prevenir

A data 7 de maio é marcada pelo Dia Nacional de Prevenção da Alergia, campanha com o intuito de conscientizar a população brasileira sobre a doença e da importância de realizar tratamentos adequados, com uma orientação médica. Aliás, um desses quadros é a alergia alimentar, em que o organismo tem uma reação adversa a algum alimento.

Conforme um artigo publicado no Arquivos de Asma Alergia e Imunologia, em 2018, quando se trata do índice de alergia alimentar no Brasil, os dados são escassos. No entanto, os pesquisadores destacaram que a doença afeta cerca de 10% da população mundial. Dessa taxa, 6% ocorre em crianças menores de 3 anos e 3,5% dos adultos são acometidos pela condição.

Germana Pimentel Stefani, vice-coordenadora do Departamento Científico de Alergia Alimentar da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), destaca que o objetivo do Dia Nacional de Prevenção da Alergia e da Semana Nacional de Conscientização sobre Alergia Alimentar é fazer com que o paciente consiga identificar possíveis sintomas e procurar uma ajuda especializada.

“O diagnóstico não é tão simples. Muitas vezes precisa de uma consulta com um especialista, para que siga na investigação tanto do ponto de vista clínico quanto da orientação de exames complementares. Estes nem sempre serão necessários, mas, em algumas vezes, sim, para que se possa identificar adequadamente o tipo de alergia alimentar, o alérgeno, o alimento realmente implicado no quadro e a necessidade de uma conduta, de dieta de exclusão ou de algum outro tipo de tratamento”, diz.

Principais sintomas da alergia alimentar

De acordo com o portal da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), a reação adversa a um determinado alimento ocorre logo após o seu consumo. O quadro pode englobar sintomas leves até graves. Em nota, o Ministério da Saúde destacou que os efeitos de uma alergia desse tipo podem ser imediatos ou levarem algum tempo para se manifestarem. Problemas na pele e no aparelho gastrintestinal são mais frequentes, como:

  • Urticária – irritação na pele;
  • Inchaço;
  • Coceira;
  • Eczema – inflamação na pele;
  • Diarreia;
  • Dor abdominal;
  • Vômitos.

Já os quadros mais intensos podem afetar vários órgãos. Conforme o Ministério da Saúde, essas situações envolvem tanto a pele quanto o trato respiratório, por exemplo.

“As alergias alimentares imediatas são aquelas que acontecem até duas horas depois da exposição do alimento e que são responsáveis pela ocorrência de, por exemplo: placas de urticária pelo corpo, com coceira, vermelhidão, inchaço da boca, inchaço dos olhos, vômitos imediatos, sensação de aperto na garganta, de falta de ar, tosse e de rouquidão”, explica Germana.

“Já na ativação mais lenta do sistema imunológico, os sintomas acontecem de forma tardia, mais de duas horas ou, eventualmente, até três dias depois da exposição deste alérgeno alimentar. Esse caso está mais relacionado, especialmente, aos sintomas gastrointestinais, com ocorrência de dor abdominal, cólicas e diarreia, além de baixo ganho de peso nas crianças e alterações do seu pleno desenvolvimento”, complementa.

Independente do grau dos sintomas, a alergia alimentar vem preocupando as autoridades da área da saúde. Em uma pesquisa de 2007 publicada na Scientific Electronic Library Online (SciELO), estudiosos de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e de Quebec, no Canadá, ressaltaram que esse tipo de enfermidade tem se tornado um problema global nas duas últimas décadas. Os riscos à qualidade de vida são maiores devido à disponibilidade de alimentos cada vez mais processados, além da dificuldade do consumidor compreender ou se atentar aos rótulos.

Principais alimentos causadores de alergias alimentares

Alguns estudos científicos buscam identificar fontes de alérgenos alimentares. Uma pesquisa de 2008 realizada pela Universidade Federal do Ceará (UFC) listou os seguintes alimentos mais associados a alergias:

  • Leite;
  • Ovos;
  • Amendoim;
  • Castanhas;
  • Camarão;
  • Peixe;
  • Soja.

Além disso, os pesquisadores pontuaram que os principais alérgenos alimentares identificados são de natureza proteica. Ainda, um artigo publicado na plataforma StatPearls citou que qualquer alimento é capaz de provocar alergia. Com isso, vale citar que qualquer suspeita deve ser investigada por um médico, que deverá indicar o tratamento mais adequado para cada paciente.

Germana observa um aumento significativo de algumas alergias menos comuns, como a frutas, especialmente a banana. “O gergelim, por exemplo, que nos Estados Unidos já foi incluído como um grande alérgeno, aqui no Brasil há menos [casos] frequentemente, mas também é um alérgeno em potencial.”

Mas o que pode estar por trás do desenvolvimento da doença? Conforme a ASBAI, a predisposição genética, a potência antigênica (capacidade de ativar células de defesa) de alguns alimentos e alterações no intestino são alguns dos fatores capazes de desencadear o problema de saúde.

Intolerância x alergia

A intolerância e a alergia a alimentos podem apresentar sintomas parecidos (Foto: Unsplash).

A intolerância e a alergia a alimentos podem apresentar sintomas parecidos (Foto: Unsplash).

Muitos podem pensar que a intolerância a algum item é um tipo de alergia. De acordo com o Ministério da Saúde, mesmo que os sintomas possam ser semelhantes após o consumo de um alimento, as duas condições são bem diferentes.

A intolerância está relacionada à má digestão, causada pela falta de enzimas responsáveis por quebrar grandes moléculas, para que o organismo consiga absorvê-las adequadamente. A ASBAI exemplificou essa diferença com a intolerância à lactose. Nesse caso, os pacientes que sofrem com o quadro podem ingerir poucas quantidades de leite, por exemplo. Já uma pessoa alérgica às propriedades do leite não deve consumir nenhum alimento com o ingrediente, nem mesmo derivados.

Pesquisadores do artigo publicado na StatPearls destacaram que uma das características das alergias alimentares são as suas reações envolvendo o sistema imunológico.

“Nas intolerâncias alimentares, é importante ressaltar que não há risco de gravidade, risco de morte ou de um comprometimento importante da saúde de forma aguda. O que acontecem são sintomas, especialmente gastrointestinais, como: distensão abdominal, gases, diarreia e assadura. Em alguns casos pode haver uma constipação, sintoma mais relacionado ao trato digestório, e que acontecerá diante do consumo, especialmente de quantidades maiores de açúcares”, comenta Germana.

A vice-coordenadora do Departamento Científico de Alergia Alimentar da ASBAI destaca que vários açúcares podem determinar intolerância. O mais comum é a lactose do leite. No entanto, existem os seguintes tipos: frutose, sacarose, rafinose, entre outros.

“Na maior parte das vezes, o acréscimo de uma enzima que está faltando antes das refeições ajudará na digestão de um determinado açúcar. Assim, o paciente não terá sintomas.”

Existem doenças alérgicas que podem estar relacionadas à alergia alimentar?

Conforme Germana, um alérgeno alimentar pode, sim, estar associado a outras doenças alérgicas. É o caso da dermatite atópica ou da esofagite osmofílica. “A alergia alimentar não é, necessariamente, a causa dessas outras doenças, mas um cofator de piora e que não estará presente em todos os casos”, aponta.

“Os mecanismos são complexos e variados, demandando um olhar especial do alergista para que o paciente não precise fazer exclusões desnecessárias na sua dieta”, adiciona.

Como o tratamento de alergia alimentar costuma ser realizado?

De acordo com o Ministério da Saúde, o tratamento de alergias alimentares envolve a exclusão do alimento alergênico da dieta alimentar. Nesse caso, a ASBAI destacou a necessidade de substituir o que foi retirado, para evitar deficiências nutricionais ou desnutrição.

Ainda, no artigo na StatPearls, é ressaltado que adultos e crianças com alergia alimentar devem compreender sobre rótulos e refeições em restaurantes. A ASBAI exemplificou que manteiga, soro, lactoalbumina ou caseinato na composição de um alimento podem indicar a presença de leite de vaca – por exemplo.

Assim, conforme um folheto da iniciativa Alergia Alimentar Brasil, os consumidores devem procurar, principalmente, pelos seguintes itens nas rotulagens:

  • Leite;
  • Soja;
  • Ovo;
  • Trigo;
  • Centeio;
  • Cevada;
  • Aveia;
  • Crustáceos;
  • Peixe;
  • Amendoim;
  • Amêndoa;
  • Avelã;
  • Castanha de Caju;
  • Castanha-do-Brasil ou do Pará;
  • Macadâmia;
  • Nozes;
  • Pecã;
  • Pistache;
  • Pinoli;
  • Castanhas.

O folheto destacou que, caso o alimento tenha alguns dos ingredientes acima, os rótulos devem conter as seguintes informações:

  • Alérgicos: contém (nome do alergênico);
  • Alérgicos: contém derivados de (nome do alergênico);
  • Alérgicos: contém (nome do alergênico) e derivados.

Na possibilidade de algum item estar presente devido à contaminação durante a fabricação do alimento, o rótulo precisa ter outro destaque específico: “alérgicos: pode conter (nome do alergênico)”. De acordo com a 6ª edição do documento de “Perguntas e Respostas sobre Rotulagem de Alimentos Alergênicos”, elaborado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), essas advertências estão relacionadas à contaminação cruzada com alimentos alergênicos.

Conforme o material, a contaminação se refere a casos em que não há intenção de colocar um determinado alergênico ou seus derivados em um produto, mas o item pode apresentar algumas características desse alimento em alguma etapa da sua fabricação – ou seja, desde a produção até o momento de embalar e comercializar.

Ainda, de acordo com o documento “Boas Práticas de Manipulação em Bancos de Alimentos”, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a contaminação cruzada acontece quando um microrganismo é transferido para um alimento, por meio das mãos, de uma superfície ou, até mesmo, de um alimento para outro.

6 formas de prevenção contra alergias alimentares

Quando se trata de alergias alimentares, Germana diz que existem alguns aspectos que podem ser melhorados, em relação à prevenção. À Proteste, ela cita os seguintes fatores:

  1. Evite o uso de fórmula infantil na maternidade. Estimule o aleitamento materno para que o primeiro contato com uma dieta de um recém-nascido seja com o leite materno.
  2. É importante o aleitamento materno até o sexto mês de vida, seguido de uma dieta bastante saudável nesse período.
  3. Estimule uma dieta saudável, nutricionalmente variada e in natura, a partir da introdução alimentar após os seis meses de vida de uma criança, sem a necessidade de restrições. Atente-se à qualidade do alimento e aproveite oportunidades para que o corpo tolere uma variedade maior de alimentos. Essa janela de oportunidades varia entre os seis e 12 meses.
  4. Outros fatores de risco que, talvez, sejam modificáveis no primeiro ano de vida, é o abuso de antibióticos. A utilização frequente desses medicamentos, no primeiro ano de vida, pode favorecer a ocorrência de alergia alimentar.
  5. Um aspecto importante de prevenção na introdução alimentar diz respeito à apresentação do ovo. O ovo é um alimento importante na dieta, nutricionalmente muito rico e de fácil acesso. Mas na introdução alimentar, particularmente, é importante que ele seja oferecido para a criança sempre bem cozido. Então, cozinhe o alimento entre 10 e 12 minutos, para que a proteína do ovo seja modificada pela temperatura e se torne menos alergênica. Outras formas de introdução, como ovo cru, não pasteurizado – o ovo em pó –, o ovo de frigideira, omelete, ovo mexido – que é pouco cozido – aumentam o risco de alergia alimentar nessa fase da introdução alimentar.
  6. Para quem tem dermatite atópica, é preciso estar mais atento em relação à barreira cutânea e mantê-la íntegra, para que a sensibilização pelo alimento não aconteça através da pele.

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