
A paralisia do sono tende a ocorrer no início ou no fim de um dos ciclos de sono e, embora dure pouco, costuma causar grande desconforto
Durante alguns segundos ou minutos, o corpo não responde. A mente desperta, mas a pessoa não consegue se mexer ou falar. Essa experiência, muitas vezes assustadora, é conhecida como paralisia do sono, um distúrbio temporário que acontece durante a transição entre o sono e a vigília.
A neurologista Natasha Consul Sgarioni, da Clínica Mantelli, em São Paulo, explica que o episódio costuma ocorrer quando o cérebro desperta em uma fase específica do sono, mas o corpo permanece inativo.
“O corpo ainda está sob o efeito da atonia muscular do sono REM – um mecanismo natural que impede que a gente se mova durante os sonhos”, diz. Em alguns casos, pode haver ainda sensação de sufocamento ou de estar sendo observado.
O pneumologista e médico do sono Sérgio Pontes Prado, de Minas Gerais, complementa que a paralisia é resultado de um descompasso entre o sistema nervoso e os mecanismos que regulam os músculos.
“Durante o sono REM, há uma ativação cerebral intensa, com sonhos e pensamentos, mas também um relaxamento da musculatura. Às vezes o paciente desperta, deveria ativar os músculos, mas isso não acontece”, esclarece.
De acordo com ele, o fenômeno tende a ocorrer no início ou no fim de um dos ciclos de sono e, embora dure pouco, costuma causar grande desconforto.
A paralisia do sono pode causar algum risco para a saúde?
Os especialistas ouvidos pelo Metrópoles afirmam que, apesar de ser uma experiência muito assustadora, a paralisia do sono geralmente não representa risco físico.
“Pode causar muito medo, ansiedade e prejudicar a qualidade do sono se for frequente. Além disso, pode causar problemas emocionais, como medo de dormir”, explica Natasha.
Esse impacto emocional pode desencadear outros problemas. A experiência recorrente de paralisia pode levar a quadros de ansiedade, síndrome do pânico ou dificuldade para dormir, o que piora ainda mais a qualidade do sono. “Pode funcionar como um gatilho para outros transtornos psicológicos, inclusive outro distúrbio do sono que é a insônia”, destaca Pontes.
O que pode desencadear a condição?
A paralisia do sono pode surgir de forma isolada, sem nenhuma causa aparente, mas diversos fatores aumentam o risco. O médico do sono afirma que pessoas com transtornos psiquiátricos, como ansiedade, depressão e estresse pós-traumático, são mais propensas a vivenciar episódios. Traumas emocionais, como um assalto, a perda de um ente querido ou o diagnóstico de uma doença grave também podem servir de gatilho.
Além disso, infecções respiratórias, como gripes e quadros pulmonares, têm sido associadas à ocorrência do distúrbio. “Acredita-se que cerca de 20% das pessoas terão pelo menos um episódio ao longo da vida”, aponta.
Outro fator importante é a higiene do sono. Hábitos noturnos inadequados, como dormir com a televisão ligada, usar o celular na cama, comer muito tarde ou praticar atividade física intensa nas horas que antecedem o sono contribuem para o aparecimento da paralisia.
“Às vezes, apenas tratar o problema de base, como a ansiedade ou o estresse, já é suficiente para resolver a paralisia do sono”, explica Pontes.
O fenômeno também pode estar relacionado a uma condição neurológica rara chamada narcolepsia. A doença provoca sonolência excessiva durante o dia, alucinações e episódios súbitos de perda de força muscular, geralmente desencadeados por emoções intensas. “A paralisia do sono pode ser uma das manifestações da narcolepsia”, diz o profissional.
Certos medicamentos também têm potencial para provocar episódios, especialmente quando usados em doses altas ou de forma contínua. É o caso de remédios para epilepsia, antipsicóticos, antialérgicos e alguns analgésicos que atuam diretamente sobre o sistema nervoso central.
O que pode ser feito para evitar a paralisia do sono?
Algumas medidas simples no dia a dia ajudam a reduzir a frequência dos episódios de paralisia do sono. A neurologista Natasha destaca que é importante manter uma rotina de sono regular, dormir entre 7 e 9 horas por noite e evitar deitar de barriga para cima, posição que pode favorecer o fenômeno.
“Também recomendo reduzir o estresse com técnicas de relaxamento, como meditação ou respiração profunda, além de evitar o consumo de cafeína e o uso de eletrônicos nas horas que antecedem o sono”, conclui a médica.
Fonte: Metrópoles