Antônio

Irene teria esperado por tudo, menos pelo retorno de Antônio. Casado com Eva, ambos haviam tentado superar as dificuldades, especialmente quando de sua internação no Sanatório. Todavia, a reciprocidade não impedira Eva de se apaixonar pelo médico Cristian. Por sua vez, Antônio encontrara em Irene sua parceira idealizada.

Agora, eis Antônio abraçando Irene, num enlace prontamente correspondido. Na mente dela revoluteiam os sofrimentos dele, suas terríveis dores de cabeça e a busca desesperada pela cura. Porém, Antônio não falecera?

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Eva e Cristian se aproximam de Antônio e Irene. Visivelmente constrangido, Cristian titubeia: “Eva e Irene, eu devo uma explicação… Na verdade, Antônio não faleceu. Ele não aguentava mais dar trabalho aos que amava. Também não suportava as aflições. Assim, resolveu sumir numa dessas enchentes que ultrapassam a planície lá adiante. Não é tão incomum pessoas desaparecerem nestas ocasiões… Na verdade, Antônio me falava de seus intenções e eu acabei sendo conivente.”

Antônio, até então silente, se pronuncia: “Foi isso mesmo. O dr. Cristian não tem culpa de nada disso. Ele insistiu para que eu não fizesse o que estava prestes a realizar. Aí, com a enchente, achei que chegara a hora e parti”. Eva não se contém: “Como puderam fazer isso? Lembro da preocupação com o desaparecimento de Antônio. Me sentia culpada. Sempre me intrigou o fato de não ter sido encontrado seu corpo. Mas com tantos outros também aconteceu o mesmo… Estou muito triste. Me sinto enganada”.

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Irene se aproxima de Eva. As duas saem a caminhar. Percorrem as antigas trilhas do Sanatório. Poderiam seguir convivendo com Cristian e Antônio? “Irene, preciso te perguntar. Será que Cristian não aproveitou a oportunidade para se livrar de Antônio e se aproximar de mim?”, questiona Eva. Irene não responde, pois essa possibilidade também lhe passara pela cabeça. “Precisamos voltar e conversar com eles”, recomenda Irene. As duas senhoras retornam e encontram os dois homens cabisbaixos.

Eva rompe o silêncio e faz a pergunta que também Irene faria: “Por que voltaste agora?” Antônio balbucia: “Peço perdão a vocês. Não fui correto. Mas acabei me curando dos zumbidos e dores de cabeça e voltei ao sanatório. Quando cheguei, vocês haviam partido. Sei aonde foram. Para a cratera, aonde também havia ido. Foi lá que encontrei a cura, na força da profundidade da terra”. Irene interrompe a fala de Antônio: “Como assim. Foste até a cratera?”.

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Antônio segue: “Ali bebi da água que vem das entranhas das rochas. Ali senti a força de que é preciso enxergar as coisas de uma outra forma. Os tormentos, que me enlouqueciam, acabaram. Entendi que nunca mais seria o mesmo. Resolvi voltar e cuidar das outras pessoas com problemas semelhantes ou até bem piores do que os meus”.

Sem combinar, Eva e Irene arremedam: “Sim, nós também sentimos isso. Por isso aqui estamos”. Cristian faz do instante a oportunidade: “Que nossos erros não impeçam que se avance. Todos estamos tendo uma nova oportunidade. Errei muito com vocês. Mas, mesmo assim, peço que sigamos juntos. Temos muito a fazer”.

Antônio não perde tempo: “Já que o chamado da Terra nos reconcilia e impulsiona para frente, preciso mostrar uma coisa para vocês”. Antes que os demais pudessem dar atenção ao convite de Antônio, alguém se aproxima. “Quem é que vem chegando?”, pergunta Irene. Antônio se prontifica: “É uma das razões da minha permanência aqui. Esta pessoa precisa de ajuda”.

A essas alturas, Líris e a criança se achegam. A criança irrompe estarrecida: “É o homem que eu chamava de tio. Ele me cuidava. Foi dele que fugi, pois não queria ficar com alguém que cortava árvores”. Impossível não lembrar da noite em que boa parte de nossos aventureiros haviam alcançado a cidade, ocasião em que encontraram a motosserra ao lado da camionete. Ressuscita viva em suas memórias a imagem da criança que dormia inocente na mesma casa do Predador. Do Predador, do Destruidor, ou de um “irmão”? O que Antônio pretendia mostrar?

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