No ambiente urbano das grandes cidades, a convivência entre motoristas, pedestres e ciclistas exige atenção constante às normas de trânsito. Apesar da sinalização e das penalidades previstas em lei, muitos condutores ainda insistem em estacionar de maneira irregular, gerando transtornos a outros usuários das vias. Foi a partir dessa realidade que um estudante de engenharia de produção resolveu agir de maneira criativa.
Pontos Principais:
- Estudante criou cartão com crítica direta a motoristas desrespeitosos.
- Iniciativa viralizou e gerou um negócio com mais de 15 mil unidades vendidas.
- Cartão tem frases marcantes e opções de infrações comuns no verso.
- Especialistas alertam para o risco de injúria conforme o Código Penal.
Vitor Todorov, de 23 anos, transformou uma frustração cotidiana em um projeto com grande repercussão. Ao observar o comportamento de motoristas que ocupavam mais de uma vaga, obstruíam rampas de acesso ou paravam em frente a garagens, ele decidiu criar cartões com mensagens diretas para alertar os infratores. A iniciativa rapidamente se expandiu para as redes sociais, alcançando milhões de visualizações.

Com a frase “você parou como idiota” impressa na frente e uma lista de possíveis infrações no verso, o cartão foi pensado como um recado direto, porém sem intenção de confronto. A proposta é que a própria pessoa reflita sobre seu comportamento ao ler o aviso deixado discretamente em seu veículo. O objetivo, segundo Todorov, é estimular a mudança de atitude sem causar constrangimento público.
Motivação e criação do projeto
A ideia surgiu da observação do cotidiano. Próximo à casa da família de Todorov havia um bar que frequentemente causava bloqueios no trânsito local. Carros estacionados em frente à garagem e desrespeito à sinalização se tornaram uma constante. As tentativas de denúncia aos órgãos competentes, segundo ele, não tiveram resultado. Diante da ineficiência das medidas formais, surgiu a vontade de agir por conta própria.
Buscando uma forma de educar sem agredir, ele se inspirou em perfis internacionais nas redes sociais que criticam motoristas mal estacionados, mas decidiu adotar uma abordagem mais leve. Em vez de adesivos ou mensagens ofensivas, optou por um cartão removível que, segundo ele, pode funcionar como alerta sem causar prejuízo material ou atrito direto com o condutor.
A estrutura do cartão foi pensada para ser prática. Na frente, a mensagem chama a atenção. No verso, há opções para indicar qual foi o erro cometido. Entre os itens apontados estão casos como “ocupou mais de uma faixa”, “bloqueando rampa”, “muito longe do meio-fio” e “em vaga de deficiente sem permissão”.
Impacto nas redes e expansão do projeto
O perfil @estacionadireito, criado por Vitor, rapidamente ganhou visibilidade. Com pouco mais de 10 mil seguidores, os vídeos compartilhados nas redes sociais já ultrapassaram 1,6 milhão de visualizações. Nas publicações, o estudante registra casos reais em que motoristas desrespeitam as regras básicas de estacionamento. Ele circula principalmente pela região metropolitana de São Paulo utilizando uma scooter para se deslocar e registrar os flagrantes.
O crescimento da audiência foi acompanhado de uma demanda comercial. Muitos usuários começaram a solicitar os cartões, e Vitor, junto com o colega de classe Bruno Rocca, decidiu profissionalizar a produção. Desde fevereiro, mais de 15 mil unidades já foram vendidas. Os pacotes são oferecidos com diferentes quantidades e preços:
- 10 cartões por R$ 14,99
- 20 cartões por R$ 19,99
- 50 cartões por R$ 39,99
- 100 cartões por R$ 69,99
- 200 cartões por R$ 129,99
A estrutura comercial foi organizada desde o início. A loja online foi pensada com opções de pagamento, logística de entrega e estoque para garantir agilidade no atendimento. Além disso, o engajamento dos seguidores também gerou contribuições espontâneas, com envio de vídeos e imagens de motoristas infratores.
Legislação e implicações legais
Embora o cartão seja apresentado como educativo, há questionamentos sobre os limites legais dessa abordagem. A redação da mensagem, em especial o uso do termo “idiota”, levanta discussões sobre possível caracterização como injúria. De acordo com o Código Penal Brasileiro, expressões depreciativas podem configurar crimes contra a honra, nos artigos 139 e 140.
Danilo Oliveira, presidente do Instituto Brasileiro de Direito do Trânsito (Ibdtransito), explica que deixar recados genéricos em veículos não configura infração administrativa prevista no Código de Trânsito Brasileiro (CTB). No entanto, quando há conteúdo ofensivo, o ato pode ser enquadrado como crime, sobretudo se a intenção de expor o motorista a terceiros for evidente.
A linha entre crítica e ofensa pode ser tênue. Para o autor do projeto, a palavra foi escolhida justamente por seu caráter intermediário: suficientemente incisiva para causar reflexão, mas sem apelar para termos mais agressivos. A proposta, segundo ele, não é gerar constrangimento público, mas despertar consciência individual.
Infrações previstas no CTB
O cartão traz uma série de exemplos de estacionamento incorreto, todos passíveis de penalidades previstas no Código de Trânsito Brasileiro. As infrações vão de leves a gravíssimas, com multas que variam de R$ 88,38 a R$ 292,47 e somam entre três e sete pontos na carteira do infrator. Em todos os casos listados, a remoção do veículo também pode ser aplicada.
Entre as condutas citadas no cartão estão:
- Estacionar ocupando mais de uma vaga: infração média, R$ 130,16
- Bloquear calçada ou rampa de acesso: infração média, R$ 130,16
- Parar fora da linha, afastado do meio-fio: de infração leve a grave
- Estacionar em vaga de idoso ou deficiente sem autorização: gravíssima, R$ 292,47
- Estacionar em faixa de pedestre ou criar uma vaga: infração grave, R$ 195,23
- Bloquear ponto de ônibus ou entrada de garagem: infração média, R$ 130,16
- Parar em local sinalizado como proibido: infração média ou grave, conforme o caso
Essas informações foram incluídas no projeto com o objetivo de reforçar o caráter informativo da ação. A ideia é que o condutor não apenas perceba o erro, mas também conheça as consequências legais da infração.
Repercussão e desdobramentos
A iniciativa de Todorov gerou diferentes reações. Muitos internautas elogiaram a forma bem estruturada do projeto e o caráter educativo. Outros questionaram os limites da abordagem, principalmente quanto ao uso de termos que podem ser interpretados como ofensivos. No entanto, a discussão levantada pela campanha contribui para um debate mais amplo sobre respeito às normas de trânsito.
A adesão de seguidores, a venda expressiva dos cartões e a repercussão nas redes demonstram que a proposta encontrou eco em um público que se vê incomodado com a impunidade de motoristas que ignoram regras básicas. O formato adotado por Vitor se destacou justamente por combinar denúncia e conscientização sem gerar confronto direto.
Ao circular com sua scooter registrando novas ocorrências e mantendo os perfis ativos, o estudante segue apostando em um modelo de comunicação direta, com base em exemplos reais. O uso de uma linguagem simples e a proposta de diálogo silencioso com o infrator mantêm o equilíbrio entre crítica e educação.
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