O Atlas do Diabetes da Federação Internacional do Diabetes confirmou que o Brasil é o 5º país no mundo com mais pessoas diagnosticadas com diabetes — perdendo somente para China, Índia, Estados Unidos e Paquistão. Segundo a pesquisa, 16,8 milhões de brasileiros adultos, de 20 a 79 anos, carregam o diagnóstico da doença — e este número pode chegar até 21,5 milhões, ainda segundo o Atlas.
Para além dos pacientes não diagnosticados, existe ainda uma estimativa que parte da população seja diabética e não saiba: a Federação Internacional de Diabetes (IDF) estima que 10,5% da população mundial possui diabetes, e pelo menos metade dela desconhece.
A diabetes é uma doença que impede o corpo humano de produzir insulina o suficiente e/ou de não aproveitar a insulina produzida. Como resultado, a digestão da glicose (presente principalmente no açúcar) fica comprometida e pode causar a hipoglicemia, nome dado ao excesso de açúcar no sangue. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), os principais sintomas da doença são:
- Sede excessiva;
- Fome constante;
- Vontade constante de urinar, especialmente à noite;
- Perda de peso exacerbada;
- Cansaço;
- Vista embaçada;
- Dificuldade de cicatrização;
- Perda da sensibilidade nos pés.
Por muito tempo denominada de pé diabético, a condição da neuropatia diabética nada mais é do que a sensibilidade de pés, mãos e extremidades de qualquer pessoa diagnosticada com a doença. Especialistas adotaram essa denominação para explicar que as áreas possuem uma condição diferenciada nos pacientes, com perda da sensibilidade, podendo ficar mais suscetível a cortes, machucados, inflamação e infecções sem que a pessoa tenha conhecimento. Como resultado, essas feridas ficam sem tratamento e podem levar a casos mais graves, onde até mesmo a amputação dos membros pode ser necessária.
Para entender melhor essa realidade e saber como lidar com ela, a Proteste conversou com a Dra. Geísa Macedo, coordenadora do Departamento de Diabetes, Neuropatias e Complicações nos pés da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD).
Por que os pés dos diabéticos são tão delicados?
“Pessoas com diabetes apresentam descontrole nos níveis de glicose no sangue, uma vez que sua absorção é prejudicada pela falta ou deficiência de insulina”, explica a médica. “Esse é o principal fator associado ao desenvolvimento de neuropatia nos pés, condição que também pode causar dor. Além disso, problemas vasculares — como doenças nas artérias ou nos vasos sanguíneos — podem agravar o quadro, comprometendo a circulação nos membros inferiores.”
Diante disso, Geísa ressalta a importância de os pacientes com diabetes redobrar os cuidados com os pés. “Muitas vezes, eles sofrem lesões sem perceber, e só identificam a infecção quando ela já está em estágio avançado. E essas lesões podem ser cortes, espinhas, calos e pequenas feridas que podem parecer indefesas, mas, se não forem prontamente levadas ao médico e tratadas, podem ocasionar no amputamento do membro”.
Segundo a SBD, a neuropatia diabética é capaz de causar uma série de sintomas não só nos pés, mas também em outras extremidades — como mãos e cotovelos. São eles:
- Dor contínua e constante;
- Sensação de queimadura e ardência;
- Formigamento;
- Dor espontânea, sem uma causa aparente;
- Dor excessiva diante de um estímulo pequeno, por exemplo, uma picada de alfinete;
- Dor causada por toques que normalmente não seriam dolorosos, como encostar no braço de alguém;
- Menos suor e pele mais seca.
Como saber se o paciente diabético está com os membros dessensibilizados?
“O diagnóstico da neuropatia deve ser feito por um profissional treinado para isso. Não é todo médico, nem todo enfermeiro, que é capacitado para confirmar o diagnóstico do pé diabético”, destaca Geísa. “Esses profissionais devem testar a sensibilidade dos pés, apalpar o pulso e realizar alguns outros testes para confirmar que o paciente sofre com o quadro e precisa de um acompanhamento médico”.
A médica destaca que a ausência de sintomas não significa a ausência de neuropatia — por isso os testes são importantes. Segundo a cartilha digital ‘Algoritmo dos pés’, também elaborada pela SBD, os testes incluem a Avaliação da Sensibilidade Protetora dos Pés, na qual o profissional utiliza de um aparelho ou das próprias mãos para entender se os pés do paciente respondem a estímulos táteis. Após isso, é indicada a Avaliação das Alterações Funcionais e Deformidades, na qual o profissional irá investigar se o pé do diabético está com alterações físicas aparentes, podendo ser:
- Pé mais plano ou mais curvado que o normal;
- Saliência nos ossos da parte frontal do pé;
- Dedos em garra, em martelo, ou sobrepostos;
- Enfraquecimento dos músculos do pé, deixando os tendões visíveis;
- Limitação da Mobilidade Articular (LMA).
É recomendada também a Avaliação do Estado Vascular. Este teste é realizado para procurar sinais de má circulação nas pernas e pés, o que pode indicar isquemia, uma condição em que os tecidos não recebem oxigênio suficiente por causa da redução do fluxo sanguíneo. Para isso, o profissional faz a palpação dos pés e das pernas; avalia o aumento de fluxo sanguíneo (hiperemia), palidez quando a perna é levantada e vermelhidão quando a perna fica pendente e faz o teste de circulação dos dedos.
Por fim, é feita a Avaliação Dermatológica, na qual o profissional investiga os pés do paciente à procura das chamadas lesões pré-ulcerativas — ou seja, lesões na pele que podem se transformar em úlceras.
É importante ressaltar que todas essas avaliações são feitas por um profissional de saúde capacitado. Contudo, o próprio paciente pode observar os sinais físicos dos pés e realizar alguns autoexames para se certificar da saúde dos pés e/ou da necessidade de buscar um profissional. Segundo a SBD, o paciente deve analisar os pés diariamente e ficar atento a:
- Edema;
- Vermelhidão;
- Bolha, calo ou lesão;
- Dor;
- Diferença de temperatura entre os pés.
Em caso de qualquer um destes sinais, é necessário procurar um médico imediatamente. Para manter a saúde dos pés em casa, é possível ainda tomar alguns cuidados e precauções.

Todo cuidado com o pé diabético deve ser feito por um profissional (Foto: Canva)
Qual é o tratamento do pé diabético?
A neuropatia diabética demanda atenção redobrada do paciente, bem como uma série de cuidados que devem ser feitos junto a um profissional — conforme destaca a Dra. Geísa.
“A maioria dos problemas com pés afetados pela neuropatia é grave e precisa ser tratado junto de um profissional. Além disso, o paciente diabético afetado por essa condição precisa passar por um controle rigoroso da glicemia e da glicose sanguínea. Então, é absolutamente importante aderir a hábitos saudáveis como parar de fumar, fazer exercícios físicos constantemente, regular a alimentação para cortar todo o consumo de açúcar possível e ser acompanhado de perto por um profissional capacitado para lidar com a condição”.
Mais uma vez, Geísa alerta que os profissionais em questão não são somente atrelados a endocrinologia: pessoas com a neuropatia diabética devem escolher a dedo enfermeiros, fisioterapeutas, nutrólogos e até mesmo podólogos preparados para lidar com a delicadeza dos pés dos diabéticos.
“Se a pessoa não tem sensibilidade nos pés, isso será sempre um grande problema — porque a dor é uma defesa do organismo contra riscos. Uma causa de amputação são pacientes com problemas nos pés diagnosticados e tratados de maneira tardia, porque o paciente tentou resolver em casa uma ferida que pensava ser pequena — mas que infeccionou e ele nem percebeu. Por isso, se está com bolha, unha encravada, qualquer problema no pé, procure um profissional capacitado — porque esse problema simples pode se tornar enorme se não for tratado da maneira correta”, destaca a médica.
Como cuidar do pé diabético?
Somados aos autoexames frequentes e do controle da glicemia, o paciente deve ficar atento ao tipo de sapato que é usado — conforme destaca a Dra. Geísa.
“Um calçado adequado diminui as pressões anormais que existem nos pacientes diabéticos com complicações nos pés. Então, usar um sapato que seja confortável, largo, com espaço para o pé respirar, é um ótimo cuidado com esses membros. Além disso, sapatos com solas de borracha, antiderrapantes, largos na frente para acomodar bem os dedos também são boas recomendações”.
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