Quando pensamos em criação artística, seja um texto, uma música, um desenho ou pintura, algo que deve estar intrinsecamente ligado a isto é o conceito de referência. Segundo o dicionário Michaelis, um dos conceitos de ‘’referência’’ é: alusão a certa obra. Menção a um determinado fato ou trecho.
Na criação musical, sempre haverá uma faixa, álbum, modelo, estilo, época ou forma de produção que servirá como base para um produtor. Portanto, é correto dizer que nada é criado, tudo é copiado? De forma alguma, referenciar outra obra está longe de ser considerado um plágio. Ao beber de outras fontes para referenciar seu trabalho, o músico pode adaptar da forma que julgar necessário de acordo com suas necessidades, ao contexto diferente e suas formas de criar. Além de que as referências servem de inspiração.
Para entender um pouco melhor com exemplos, vamos viajar no tempo para o início dos anos 80 em Chicago e Nova York, os maiores berços da house music. Nessa época, a disco music estava em alta. Jovens DJs apaixonados por música, produção e vidrados nos novos equipamentos eletrônicos que surgiam com o avanço da tecnologia começaram a utilizar as bases das músicas disco como referência em suas criações. Utilizando em maioria samples desse estilo e adicionando baterias e sequenciadores eletrônicos, foram adaptando-os em suas ideias até que o house pudesse caminhar com as próprias pernas. Ou seja, a disco music foi referência para a house music.
Recentemente, a sonoridade abordada por Beltran em seus lançamentos e sets virou centro de um debate: Beltran criou uma nova wave? Seu som mais minimalista começou a dar as caras ainda há alguns anos, como é perceptível em ‘’Warning’’, pela Revival New York em 2022 e aparece forte em ‘’Unfair’’, pela Solid Grooves em 2023. Agora, com o lançamento da sua label Beltools, ele amadurece essa sonoridade de vez, mostrando que essa é a identidade que ele buscava há anos. Vivendo seu melhor momento, muitos pensam que Beltran desenvolveu um novo tipo de som, entretanto o que o jovem DJ está fazendo é adaptar suas referências do início dos anos 2010 ao seu modo de produzir. Em editorial no Alataj, Alan Medeiros se aprofunda nessa discussão com maestria. Leia aqui.
Outro exemplo bem claro é a recente onda na Europa do chamado slap house, que nada mais é que uma adaptação referenciada do velho conhecido brazilian bass. Assim como a nova onda de sons minimalistas, o brazilian bass voltou repaginado alguns anos depois em um estilo de produção mais contemporâneo, porém ainda com elementos marcantes daquele som que dominou eventos pelo Brasil por alguns anos.
Atualmente, com tantas possibilidades de criação que se estendem até inteligências artificiais, pesquisar diversos movimentos e épocas da música e trazê-las para uma criação autêntica e moderna tem se mostrado uma solução para demonstrar uma ponta de originalidade. Ainda que muito do que parece novo, pode em alguns casos ser uma releitura de um movimento referenciado que hoje está apagado, entretanto com a subjetividade do artista presente na obra.
Por Adriano Canestri
The post Minimal, brazilian bass… e a eterna reinvenção da cena. Estamos criando algo novo, ou a inovação é o remix do passado com cara de moderno? first appeared on House Mag.