Com apenas a própria assinatura, Geo tenta abrir CPI sobre Projeto São João; Estado garante estar buscando soluções e alternativas

O Projeto de Irrigação São João teve início em 2001 e compreende a implantação de infraestrutura de irrigação para produção de hortigranjeiros e frutas – Juliano Ribeiro/Governo do Tocantins

O Projeto de Irrigação São João, criado para transformar a agricultura tocantinense com tecnologia e infraestrutura, tem se tornado um símbolo de frustração para centenas de agricultores da região central do estado. A situação crítica levou o deputado estadual Professor Júnior Geo (PSDB) a comentar o abandono da iniciativa na tribuna da Assembleia Legislativa nessa terça-feira, 22, e propor a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar os danos causados e buscar responsabilidades.

Segundo Geo, ele esteve no local acompanhado por agricultores, e relatou um cenário alarmante: “Não existe água, os agricultores estão desesperançados e acumulando prejuízos. Já levamos o caso ao governador, fizemos reuniões no ano passado, mas a situação só piora”, lamentou. No plenário, exibiu vídeos mostrando o descaso e destacou que a usina fotovoltaica — fundamental para fornecer energia ao sistema de bombeamento de água — está inacabada e abandonada.

O parlamentar apresentou o requerimento da CPI, mas até o momento conta apenas com sua própria assinatura. “Cada gabinete recebeu uma cópia da proposta para se inteirar da situação caótica que vivem os agricultores e suas famílias”, destacou, cobrando posicionamento dos demais colegas.

Agricultores recorrem a poços e denunciam abandono

De acordo com o deputado, durante a visita, agricultores relataram que têm cavado poços artesianos para tentar irrigar as lavouras, o que pode comprometer o lençol freático. “Isso aqui está esquecido, não tem mais irrigação. Quando as obras começaram, eu me animei, mas hoje é só decepção”, lamentou uma moradora da região.

O Projeto São João foi idealizado para beneficiar 328 pequenos produtores e 32 empresários em uma área irrigável de 3.654 hectares, às margens da Usina Hidrelétrica Luís Eduardo Magalhães. Criado em 2001 com apoio do Banco Mundial por meio do PDRIS (Programa de Desenvolvimento Regional Integrado Sustentável), o projeto previa uso de tecnologias avançadas e fornecimento de água por meio de sistemas de bombeamento e pressurização. Hoje, esse sistema está completamente paralisado.

Governo reconhece paralisação, culpa furtos e promete plano de reestruturação

Questionada pela Gazeta do Cerrado, a Secretaria de Estado das Cidades, Habitação e Desenvolvimento Regional (Secihd) reconheceu que o projeto atualmente não está operando com as estações de bombeamento e pressurizadoras, mas informou que atua em parceria com a Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) para reestruturar o sistema.

Segundo a pasta, a Codevasf realizou, em abril de 2025, uma vistoria técnica na infraestrutura do projeto e está elaborando um plano de recuperação da estrutura de uso comum, com metodologia e custos detalhados.

Além disso, o Governo criou uma Comissão Especial por meio do Decreto nº 6.903, de 26 de fevereiro de 2025, envolvendo diversos órgãos estaduais — incluindo Controladoria Geral, Procuradoria Geral, Secretaria da Agricultura, e Investco — com a finalidade de estudar alternativas de custeio, ajustes normativos e apresentar um plano de gestão sustentável do projeto.

Usina fotovoltaica parada desde 2024

Sobre a usina fotovoltaica que deveria abastecer os sistemas de irrigação, a Secihd informou que o contrato com a empresa responsável foi rescindido unilateralmente em julho de 2024, após o abandono da obra com cerca de 90% dos trabalhos concluídos. O equipamento teria capacidade de gerar 3,211 MW, energia suficiente para operar as estações e garantir água pressurizada para os irrigantes.

O Governo também afirma que estuda, com a Codevasf, uma solução conjunta para a retomada da obra e da geração de energia solar.

Vandalismo e furtos agravaram paralisação

Outro fator apontado para a interrupção do funcionamento das estações foi o furto de cabos de alimentação elétrica e atos de vandalismo que danificaram equipamentos eletroeletrônicos. A Secretaria informou que atua em conjunto com a Polícia Militar e com a comunidade local para aumentar a segurança do perímetro do projeto.

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