Mãe que perdeu dois filhos após comerem ovo de Páscoa diz que não desconfiou do chocolate e pede justiça


Mirian Lira pediu para dar entrevista, após ser liberada do hospital para estar em casa. Ela falou sobre o caso enquanto se recupera após comer o chocolate que teria sido envenenado, segundo a polícia. Mirian Lira, em entrevista à TV Mirante
Reprodução/TV Mirante
Após perder dois filhos, a operadora de caixa Mirian Lira, que foi hospitalizada após comer um ovo de Páscoa supostamente envenenado, afirma que não sabe como vai ser a própria vida daqui para frente.
“Só Deus mesmo. Daqui para frente não tenho nem um pouco de noção como que vai ser. Só quero que seja feita justiça porque foram meus dois filhos que eu não vou ter mais de volta. Então é só o que eu peço: Justiça”
A mãe, de 36 anos, concedeu entrevista à TV Mirante na casa onde mora, em Imperatriz, após a liberação do hospital. Mirian também pediu para falar, depois de saber da morte da filha, Evely Fernanda, de 13 anos, que aconteceu cinco dias depois da morte do filho mais novo, Luís Fernando, de 7 anos de idade.
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Na conversa com a repórter Leiliane de Araújo, Miriam declarou também que nunca imaginaria que o ovo de Páscoa enviado para sua casa poderia ter algum veneno, que é a principal suspeita da polícia até o momento. O laudo que pode confirmar a suspeita ainda não foi concluído.
“Quando chegou a embalagem, me ligaram, né? Me perguntam se eu tinha recebido. Só que na minha cabeça, eu achei que fosse o povo da Cacau Show confirmando se eu tinha recebido a embalagem. Eu só apenas falei que tinha recebido e não procurei investigar mais de onde que vinha”, afirmou.
Mirian e os filhos, Luís e Evely
Reprodução/TV Mirante
Sobre a ordem de quem comeu primeiro o ovo, a operadora de caixa relatou que só lembra que todos estavam na cozinha e provaram o chocolate praticamente juntos, cada um um pouco.
“Nunca imaginei [que poderia estar envenenado] Só passando por isso. (…) Estou tentando digerir aos poucos, ainda. É muita informação ainda. Estou tentando digerir devagarzinho”, declarou.
Após ficar internada em uma UTI e ser entubada por passar mal depois de comer o ovo de Páscoa, Mirian foi, aos poucos, se recuperando no hospital. Nesta terça (22), ela foi liberada para estar presente no velório e enterro da filha, nesta quarta (23).
Polícia suspeita de crime por motivos de vingança
Segundo as investigações, Mirian Lira estava namorando há cerca de três meses, a distância, com o ex-marido de Jordélia Pereira Barbosa, que está presa suspeita de ter colocado veneno no chocolate. Ela nega que tenha envenenado.
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Segundo a polícia, Mirian e o atual namorado já tinham se relacionado durante a adolescência, na cidade de Santa Inês, onde a vítima morava. O namoro entre eles acabou e Mirian se mudou para Imperatriz, local onde conheceu o pai de seus filhos, ficando com ele até dezembro do ano passado, quando o relacionamento chegou ao fim.
Já o ex-namorado de Mirian continuou morando em Santa Inês, onde se casou com Jordélia e teve dois filhos com ela. Há dois anos o casal se separou.
Em janeiro deste ano, o ex-marido de Jordélia e Mirian voltaram a namorar. Por causa da distância, eles se falavam por telefone. As investigações apontam que o último contato pessoal entre Mirian e o atual namorado foi há mais de um mês.
O relacionamento entre Mirian e o ex-marido de Jordélia teria sido a motivação para o crime. Segundo a Polícia Civil do Maranhão, a suspeita tinha ciúmes e queria se vingar do ex-companheiro.
Quem é a suspeita presa
Jordélia Pereira Barbosa, de 35 anos, foi presa suspeita de envenenar ovo de Páscoa no interior do Maranhão.
Divulgação/Redes sociais
Jordélia Pereira Barbosa, de 35 anos, presa suspeita de envenenar ovo de Páscoa no interior do Maranhão e enviar para uma família, é mãe de um casal de filhos, uma criança e um adolescente, que teve com o ex-marido, atual companheiro de uma das vítimas.
O g1 não conseguiu localizar a defesa da suspeita até a publicação desta reportagem.
Moradora do Centro de Santa Inês, no Vale do Pindaré, Jordélia Pereira era conhecida no ramo da beleza e possui um estúdio de estética em casa.
Em um perfil em uma rede social, Jordélia afirma ser esteticista, atuando com estética facial e corporal, além de ser embaixadora de uma linha de cosméticos e instrutora em uma instituição de ensino profissionalizante no curso de estética, desde 2019.
Com 12,5 mil seguidores em uma rede social, Jordélia Pereira compartilha o trabalho que realiza como esteticista, além de publicar mensagens de superação e motivação.
Moradora do Centro de Santa Inês, no Vale do Pindaré, ela era conhecida no ramo da beleza e mantinha um estúdio de estética em casa.
Divulgação/Redes sociais
A suspeita de envenenar a família também frequentava uma igreja evangélica quando estava casada, segundo relatos de alguns fiéis, que disseram que o casal era problemático e vivia brigando, inclusive na porta da instituição religiosa.
Para os vizinhos, que conheciam Jordélia há décadas, ela era uma mulher trabalhadora e de boa índole.
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Há suspeita de que o ovo recebido pela família estava envenenado.
Reprodução/TV Mirante
Investigações
Análises de imagens de câmeras de segurança, comprovantes de compras e depoimentos de familiares e pessoas ligadas às vítimas ajudaram a Polícia Civil do Maranhão (PCMA) a resolver um quebra-cabeça e chegar até a suspeita.
Ao ser presa em Santa Inês, a polícia encontrou com Jordélia Pereira com duas perucas, restos de chocolate em bolsas térmicas e um bilhete de ônibus. As provas foram anexadas no inquérito e são indícios da participação dela no caso.
Material apreendido com Jordélia Pereira Barbosa, 35 anos, suspeita de envenenar família com ovo de Páscoa no Maranhão.
Divulgação/Polícia Civil do Maranhão
De acordo com Manoel Almeida, delegado-geral da Polícia Civil do Maranhão, todos os indícios e provas reunidas pelos investigadores apontam Jordélia Pereira Barbosa como suspeita de ter envenenado a família.
‘”A gente pode dizer, com o que já colhemos até agora, que temos elementos suficientes para apontar essa autoria para essa pessoa que foi presa. Agora a gente vai esclarecer os detalhes. Que veneno foi esse, o tipo, isso a perícia vai apontar, para que possamos robustecer a nossa investigação e apresentá-la ao Judiciário'” afirmou o delegado-geral.
As amostras dos ovos de Páscoa foram coletadas e encaminhadas para análise no Instituto de Criminalística. O laudo deve ficar pronto em 10 dias. Além disso, já foi solicitada à perícia a coleta de sangue das vítimas para identificar se há algum tipo de veneno, bem como foi pedida a análise dos produtos encontrados com a suspeita.
Crime premeditado
Suspeita de envenenar ovo de Páscoa se disfarçou para comprar chocolate em loja
Segundo o delegado Ederson Martins, ajunto operacional da Polícia Civil, todos os indícios do caso levam a crer que o crime foi premeditado com detalhes e com antecedência.
Jordélia Pereira viajou 384 km, saindo de Santa Inês para Imperatriz. A viagem foi feita em um ônibus interestadual que liga os dois municípios. Ela saiu de Santa Inês, por volta de 0h30 da madrugada de quarta-feira (16) e chegou em Imperatriz no mesmo dia, pela manhã.
A suspeita se passou por uma mulher trans e fez a reserva em um hotel de Imperatriz. Com o nome falso de Gabrielle Barcelli, ela apresentou crachás falsos e um deles era de uma suposta empresa de gastronomia na qual ela supostamente trabalhava.
Jordélia Pereira usou identidade falsa para tentar fazer reserva em hotel de Imperatriz (MA)
Divulgação/Polícia Civil
Para não apresentar um documento de identificação, ela alegou para à direção do hotel que estava passando por um processo de regularização dos documentos como mulher trans e, por isso, não poderia apresentar eles.
Após chegar em Imperatriz, a suspeita chegou a fazer um serviço falso de degustação de trufas de chocolate em uma área próxima onde trabalhava Mirian Lira.
Segundo a Polícia Civil, ela ainda apresentou alguns bilhetes supostamente falsos que seriam de pessoas que haviam comido os chocolates. Em um deles, havia escrito a mensagem “uma sensação incrível, uma explosão de sabor”.
Jordélia também forjou supostos bilhetes que seriam de pessoas que haviam comprado suas trufas
Divulgação/Polícia Civil
Por volta das 15h, de quarta-feira (16), Jordélia Pereira foi disfarçada em uma loja de chocolates de Imperatriz onde comprou um ovo de Páscoa. Imagens de câmeras de segurança do estabelecimento mostram ela disfarçada, usando óculos e uma peruca preta, comprando o produto. Durante a noite, o ovo de Páscoa foi enviado para a casa da vítima.
Ainda na quarta-feira (16), por volta das 23h50, a suspeita foi flagrada por câmeras de segurança do hotel onde estava hospedada. Nas imagens, ela aparece deitada em um sofá onde mexe no celular por alguns minutos.
Imagens de câmera de segurança mostram Jordélia Pereira Barbosa em um hotel de Imperatriz
Reprodução
Segundo a polícia, Jordélia pediu para um motoboy entregar o ovo de Páscoa para a vítima, ainda na noite de quarta-feira. Por volta de 2h30 de quinta, ela pegou um outro ônibus intermunicipal com destino para Santa Inês. Ela foi interceptada e presa pelos policiais assim que desceu do ônibus ao chegar no município.
Jordélia Pereira foi presa em flagrante na quinta-feira (17) e a prisão preventiva foi decretada durante a audiência de custódia realizada na sexta (18). Ela estava presa em Santa Inês, mas foi transferida neste domingo (20), para a Unidade Prisional de Ressocialização Feminina de São Luís (UPFEM).
Segundo a Secretaria de Administração Penitenciária (SEAP), Jordélia deve permanecer no presídio à disposição da Justiça durante o curso das investigações.
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