
Escritor peruano e vencedor do Prêmio Nobel morreu no domingo (13), aos 89 anos. Autor foi ativo na política e chegou a ser favorito na corrida presidencial de seu país em 1990, com uma campanha pautada na cartilha liberal. Mario Vargas Llosa
Daniel Ochoa de Olza/Associated Press
O peruano ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, Mario Vargas Llosa, que morreu no último domingo (13) em Lima, tinha uma grande paixão pela política.
Embora não gostasse de lembrar, ele simpatizou com a revolução cubana — e, como candidato, liderou a direita nas eleições presidenciais peruanas, que perdeu em 1990.
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O escritor respirava a realidade política desde muito jovem. Em seu livro autobiográfico “O Chamado da Tribo” (2018), ele conta que descobriu a política aos 12 anos (em 1948), quando o general Manuel Odría derrubou o presidente José Luis Bustamante y Rivero, que era seu tio por parte materna da família.
“Acho que uma das grandes paixões de Vargas Llosa era a política. Ele vem de uma família onde a política fez parte de sua vida desde cedo”, disse seu amigo e biógrafo Pedro Cateriano.
Segundo Cateriano, o romancista se envolveu com causas sociais e com o movimento comunista desde seus dias de estudante na Universidade de San Marcos, na década de 1950.
Politicamente, ele se atraiu pelas ideologias de Fidel Castro, mas em 1971 rompeu com a Revolução Cubana.
“Ele rompeu depois de se aproximar das ideias da esquerda e apoiar a revolução cubana com o famoso caso do poeta Heberto Padilla”, explicou Cateriano.
“Foi um período muito difícil para mim, porque me senti como os padres que penduram suas vestes e retornam a uma sociedade secular de incerteza e insegurança. Descobrindo que a democracia não era o que acreditávamos e o que a esquerda comunista reivindicava”, relembrou Vargas Llosa em “O Chamado da Tribo”.
Mario Vargas Llosa, escritor e Nobel da Literatura, morre aos 89 anos
Líder de direita
Na década de 1980, Vargas Llosa assumiu desafios maiores em seu país como defensor das ideias liberais.
Em resposta às tentativas do governo social-democrata do então presidente Alan García de nacionalizar os bancos peruanos, Vargas Llosa emergiu como um líder de direita, liderando protestos contra a ação em 1987.
Naquele ano, ele fundou o Movimento pela Liberdade e em 1990 concorreu à presidência pela Frente Democrática. Era o favorito, mas perdeu para o então desconhecido Alberto Fujimori.
Após sua derrota, ele se estabeleceu em Madri e continuou sua carreira literária, mas permaneceu intimamente envolvido na política peruana e internacional.
“Vargas Llosa perdeu a eleição, mas triunfou na arena política e ideológica. Sua campanha não foi apenas pedagógica, mas, é preciso dizer com clareza, corajosa e arriscada”, afirmou Cateriano, que o acompanhou em sua fracassada aventura política, hasteando a bandeira da direita liberal.
O romancista era um crítico persistente das ditaduras e dos governos que considerava autoritários, questionando-os em artigos de jornais e declarações públicas.
“Se há algo a elogiar em Vargas Llosa é justamente sua ação política e, nesse sentido, ele fez muito bem ao Peru e à América Latina”, diz Cateriano.
Vargas Llosa acompanhou de perto os acontecimentos na política global, atacando nos últimos anos o populismo, “a doença da democracia”, que abrangia desde o chavismo e o castrismo até a extrema direita e a esquerda radical europeia e o nacionalismo independentista catalão.
Especula-se que as visões políticas contrastantes tenham sido a causa da famosa briga entre Vargas Llosa e o colombiano Gabriel García Márquez (1927-2014), que terminou com os dois intelectuais indo às vias de fato.
“Deixe que os biógrafos cuidem desse assunto”, disse Vargas Llosa, tergiversando sobre o fim da amizade.