Uma vila de pescadores em um oceano de areia que se transformou rapidamente em cidade futurística parece tema de alguma obra distópica. Dubai é um milagre urbano que espanta os que desembarcam pela primeira vez em um dos maiores centros financeiros mundiais, erguida em menos de cinco décadas em um lugar onde a temperatura no verão passa dos 50 graus.
Dubai é uma subdivisão dos Emirados Árabes Unidos, país dominado geograficamente por Abu Dhabi, o maior dos principados da jovem nação às margens do Golfo Pérsico. O clima impiedoso fez com que, por muitos séculos, o local fosse quase desabitado, até que a fortuna passou a bater em sua porta. A primeira grande sorte de Dubai foi se tornar entreposto marítimo entre o oriente e o ocidente, com particular interesse do Império Britânico em criar uma rota segura até a Índia.

A britânica Companhia das Índias Ocidentais estabeleceu ali um protetorado no século 19, em um acordo com xeiques locais e, no caso de Dubai, com a família Al Maktoum, que governa o emirado até hoje. Em 1900, foi criada uma zona de livre comércio, atraindo negociantes persas e indianos, com o trânsito facilitado pelo canal natural de água salgada que permite que navios atraquem na cidade com facilidade.
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No início do século 20, a exploração submarina de pérolas se tornou a base da economia. Mesmo assim, o emirado ainda era um modesto vilarejo comparado a outros centros mundiais de comércio. Foi então que, em 1959, xeique Rashid Al Maktoum passou um período na Europa e alimentou o sonho de transformar Dubai em um grande centro urbano cosmopolita, com influência mínima da cultura árabe. Rashid investiu inicialmente na estrutura aeroportuária, que consumiu recursos a ponto de quase estagnar investimentos em outras obras.

A sorte chegou novamente em 1966, com a descoberta de petróleo. Embora as reservas de Dubai não sejam tão significativas, os petrodólares foram bem utilizados como fonte de investimento. Com a ajuda de arquitetos e engenheiros europeus, a cidade foi concebida para ser um centro de negócios, atraindo muitos estrangeiros, que hoje formam cerca de 97% da população do emirado.
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Com a morte de Rashid, o filho Mohammed seguiu em ritmo ainda mais arrojado. Enquanto a maioria dos governos pensa em trilhos e estradas, os xeiques imaginaram Dubai como um encontro de vias aéreas. O imenso aeroporto foi modernizado e, em 1980, foi criada a companhia aérea Emirates, que, com a metade da frota global do maior avião de passageiros do mundo (A380), conecta o planeta via Dubai.
Em 2002, com a abertura da propriedade imobiliária para estrangeiros, os investimentos inundaram o emirado, que se tornou um enorme canteiro de obras. A modernidade da infraestrutura e o status de paraíso fiscal foram as sementes para que Dubai se tornasse um centro financeiro mundial.

Pessoalmente, acho Dubai excessivamente artificial e sem identidade. Fruto de um sonho familiar, foi construída e sustentada pelo petróleo, mas também pelo sacrifício de imigrantes de países pobres, muitas vezes mergulhados em dívidas e com passaportes apreendidos. Por outro lado, é preciso reconhecer a estratégia e a rapidez da execução dos xeiques, que transformaram a desértica região em um ambicioso centro urbano.
Embora não esteja entre meus destinos prediletos, por achá-lo de gosto duvidoso e por vezes estrambólico, visito Dubai frequentemente a trabalho e preciso admitir que tenho mais admiração pelo local do que por uma badalada cidade catarinense que pensa imitar o emirado. Refletindo parte da mentalidade vigente no Brasil, a bela natureza do litoral catarinense se transforma aos poucos em uma selva de concreto e vidro que projeta sua sinistra sombra e descarrega seus dejetos na praia.
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O deserto brasileiro não é de areia, mas sim cultural, e cresce com a mediocridade intelectual, o preconceito social e a desvalorização da arte e da ciência. Nossos arranha-céus são de corrupção estatal e privada, anti-intelectualismo orgulhoso e desigualdade. Para transformar tal realidade, as pérolas de desenvolvimento estão disponíveis, mas precisam ser pacientemente extraídas com educação de qualidade, justiça e originalidade de soluções. A sorte, quase sempre, aparece na interseção do sonho e do trabalho árduo para realizá-lo.
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