Inclusão beneficia autistas e empregadores em Santa Cruz

O acesso de autistas ao emprego é uma luta que necessita não apenas do esforço de entidades, mas do mercado de trabalho. Em Santa Cruz do Sul, a quantidade de empresas que contratam pessoas diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) tem aumentado. Tal evolução se deve iniciativas como a Quinta Inclusiva, uma parceria entre o Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Compede), a FGTAS/Sine e a Prefeitura.

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Até o final do ano passado, 22 pessoas haviam conquistado uma vaga. Diante dos resultados, o projeto mantém o incentivo para que as empresas contratem pessoas com deficiência, evidenciando suas capacidades para atuarem em diversas áreas.

A coordenadora da FGTAS/Sine de Santa Cruz, Marisa Maria Schuck, diz que recebem vagas inclusivas seguidamente. “Além de as empresas terem as cotas que precisam ser preenchidas, estão com uma visão mais ampla de dar as oportunidades a esse tipo de público”, destaca.

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Um dos empreendimentos que ultrapassaram o número de contratações estabelecido por lei é o Miller Supermercados. Ao todo, são 26 pessoas com deficiência, incluindo autistas. Eles trabalham em diferentes setores das unidades, seja na área de frutas, no caixa ou no empacotamento de produtos. 

Na quinta reportagem da série Abril Azul, o gerente de Recursos Humanos e Departamento Pessoal, Marcelo José Bastos, reitera a importância de os estabelecimentos oferecerem oportunidades às pessoas com autismo. E demonstra, pela história do empacotador Victor de Souza, que estão preparados para prestar um atendimento de qualidade.

Aos 24 anos, Victor busca crescimento profissional

Natural de Blumenau, Victor de Souza, de 24 anos, trabalha há cerca de um ano e quatro meses como empacotador na matriz do Miller Supermercados, na Rua Ramiro Barcelos, em Santa Cruz. Foi a primeira vez que o rapaz – diagnosticado com autismo nível 1 de suporte e Síndrome de Asperger – conseguiu uma oportunidade após várias tentativas de se inserir no mercado de trabalho. “Passei por diversas entrevistas em várias empresas. Mas fiquei bastante feliz por ter conseguido e não estou pensando em sair daqui tão cedo”, conta.

Os primeiros dias não foram fáceis. Precisou adaptar-se a ficar tanto tempo em pé. Também teve de lidar com os comentários de clientes que reclamavam da demora para empacotar os produtos. “Tem dias que sou mais rápido, mas outros são mais lento. Mas depende do meu sono também, tomo medicamento para isso.”

Segundo Victor, o uso do cordão utilizado para identificar autistas ajudou em relação aos clientes. Entretanto, chama a atenção para o fato de as pessoas estarem sempre apressadas. “Eu sempre tento, enquanto atendo, dar um bom dia ou boa tarde, pergunto se quer uma ajuda, se quer separar. Quando eu comecei, foi mais difícil, porque eles só pegavam os produtos e iam embora, não tinham tempo para dar um bom dia ou boa tarde. Mas também depende do dia a dia delas, porque todo mundo tem um dia sobrecarregado”, afirma.

Apesar dos desafios, Victor considera que o emprego o ajudou bastante. Sobretudo, quanto à dificuldade de socializar e fazer amigos. E pôde colocar em prática seus conhecimentos em inglês ao atender dois canadenses que procuravam por água “da melhor qualidade” no Miller. “Foi a primeira vez que estavam viajando para o Brasil”, recorda.

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Seu objetivo é poder subir de cargo, aumentar a renda e realizar seu sonho de viajar. O jovem já conheceu a Alemanha e almeja ir para os Estados Unidos ou Canadá. Uma das coisas que ele mais quer ver de perto, e tocar, é a neve. “Só vi em foto, mas não pessoalmente. Então, quero muito poder fazer isso”, ressalta.

No fim do ano, espera visitar a praia com a família. Já começou a poupar e enviar, mensalmente, uma parte do salário para usufruí-lo durante as férias. 

Victor destaca a boa relação com os colegas e gestores. “Não brigo com ninguém e sempre tento ajudar todo mundo. Só não consigo quando estou empacotando e me pedem ajuda.”

Para o funcionário, a inclusão de pessoas diagnosticadas com TEA e outras síndromes no mercado é fundamental. Salienta que, assim como ele, outros autistas em busca de autonomia e independência financeira estão aptos a trabalhar. “Uma das principais preocupações das famílias de autistas é o que vai acontecer com ele no futuro. Quem vai cuidar dele? Nesse sentido, o trabalho é essencial.”

“As empresas só têm a ganhar com a inclusão”

Desde que iniciou no Supermercado Miller há cerca de duas décadas, o gerente de Recursos Humanos e Departamento Pessoal, Marcelo José Bastos, testemunhou a evolução da empresa quanto à inserção de autistas e demais tipos de deficiência. A compreensão, segundo ele, é de que a contratação não deve ser apenas para preencher as cotas estabelecidas por lei.

“Nós estamos com a nossa cota de vagas para pessoas com deficiência preenchida. Mas não queremos que eles façam apenas parte dela, por obrigação, mas para ocupar uma vaga como os demais”, afirma.

Marcelo Bastos: inserção de pessoas com deficiência não deve se limitar às cotas

Para Bastos, o grande desafio do supermercado é proporcionar a inclusão e acessibilidade necessária para essas pessoas, respeitando suas limitações e necessidades, e fazer com que elas se sintam úteis no cargo em que atuam. “Eles têm suas coisas normais, com suas contas a pagar, dívidas, famílias para ajudar. Então, por que não abrir as portas e dar elas uma oportunidade?”

Prova disso é que, em uma das unidades, pessoas com PCD que foram destaque do mês. “Ou seja, ele se destacou entre os demais, prestando um bom trabalho e cumprindo todos os requisitos, demonstrando que presta um atendimento de excelência.”

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Buscam inseri-los em unidades mais próximas dos bairros onde moram, facilitando o acesso. Há uma flexibilização também para ajudar funcionários PCDs e suas famílias, adequando o que for necessário para dar a oportunidade.

Ao ingressarem no supermercado, Bastos os prepara, ministra momentos de integração e explica as regras da empresa. “Também explicamos como eles devem se portar em situações diversas. Não é nada robotizado, mas é para justamente esclarecer a quem recorrer, por exemplo, se acontecer uma desavença com o cliente”, esclarece.

Ressalta ainda a necessidade de atuar com todo o quadro de funcionários, para promover a inclusão e impedir que ocorram casos de discriminação. “Em quase 20 anos de empresa, nunca tivemos um problema quanto ao acolhimento. E temos um psicólogo interno da empresa. Então, em certos casos, já o acionamos para garantir a assistência”, acrescenta.

Para ele, é fundamental que, assim como o Supermercado Miller, as empresas façam uso dessa mão de obra e deem oportunidade para essas pessoas. “Elas dão retorno, sim. Não é só a satisfação deles de trabalhar, nós temos muito a ganhar, porque prestam um trabalho satisfatório. Vão dar conta do recado como qualquer outro.”

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