Documentário aborda tradições e diversidade em benzimentos no interior de SP; assista trecho


“Benzadeus” estreia neste sábado (12), em São Pedro (SP), com entrada gratuita; g1 assistiu à obra e apresenta trecho dela, além de uma entrevista com o diretor. Assista a um trecho do documentário “Benzadeus”
Estreia neste sábado (12), em São Pedro, no interior de São Paulo, o documentário “Benzadeus”, que aborda a tradição e a diversidade presente na prática dos benzimentos. O g1 assistiu à obra e apresenta trecho dela (assista ao vídeo acima), além de uma entrevista com o diretor abaixo.
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Quando era criança, Fabiano Liporoni se interessou pelos benzimentos que via sua avó realizar nas pessoas. Com o passar dos anos, ele descobriu sua paixão por contar histórias e, atualmente, com mais de 30 anos de atuação no setor audiovisual, revisita seu passado ao dirigir o documentário.
Na cidade, ao menos dez pessoas ainda preservam essa tradição, atendendo aqueles que os procuram por diversos motivos, como cura de doenças, proteção contra o mau olhado e sucesso nas áreas amorosa e financeira.
“Benzadeus” é fruto da Lei Paulo Gustavo. Foi idealizado, roteirizado e dirigido por Fabiano. A trilha sonora é de Wayne Hussey, músico inglês conhecido por sua participação nas bandas de rock The Mission, The Sisters of Mercy e Dead or Alive. A direção de fotografia é assinada por Ricca Santana.
A estreia, neste sábado, ocorre às 17h, no Cine Teatro São Pedro (Rua João Teixeira da Frota, 1.184, Santa Cruz), com entrada gratuita. A seguir, veja entrevista com o diretor:
Veja entrevista com diretor de documentário sobre benzedeiras no interior de SP
g1: É um documentário muito visual. A câmera tem o papel de captar toda a particularidade na liturgia de cada um dos benzedores. Por que você optou por essa forma de abordagem e que tipos de cuidados foram necessários?
Fabiano: A direção de fotografia e as câmeras são parte fundamentais no contar as histórias em “Benzadeus”. Eu sempre tinha pelo menos duas câmeras gravando ao mesmo tempo, muitas vezes tinha três, porque eu queria exatamente mostrar o que o dizer das benzedeiras não conseguiria transmitir.
Os rituais, as liturgias, são muito particulares a cada uma das pessoas que benzem e isso era algo que eu sempre achei muito importante para captar e principalmente para transmitir no filme.
Uma preparação grande que eu tive com a equipe de câmera e de fotografia foi que nós teríamos que respeitar os espaços dos benzedores, respeitar seus silêncios, seus gestos. Mas ao mesmo tempo eu queria mostrar o máximo que conseguisse.
Assim, as câmeras estavam distantes mas com lentes zoom que levaram os nossos olhares para o mais próximo possível das benzedeiras e do benzedor, próximos às mãos, às bocas, aos olhares, aos gestos e também aos silêncios.
Gravações do documentário “Benzadeus”
Giane Sacco
Você aparece recebendo diferentes benzimentos e os benzedores até fazem avaliações espirituais suas. Por que você decidiu se tornar um personagem da obra e incluir essas cenas, que carregam um aspecto pessoal?
Eu achei fundamental desde sempre mostrar como cada benzedor age, como eles rezam, como eles “encontram” os possíveis e prováveis “problemas” que as pessoas acreditam ter e que por isso os faz procurar um benzimento.
Como minha avó Maria foi uma benzedeira muito poderosa e como eu cresci perto dela vendo ela praticar, eu sempre achei que tinha uma intimidade com rituais e me dispus a ser a pessoa que recebe as bençãos, as curas e as avaliações de cada um deles, algo que eu achava de fundamental importância mostrar no documentário, e não só focar em suas histórias prévias.
O resultado dos benzimentos é parte fundamental da vida dessas pessoas, muito pela satisfação da cura, da ajuda, do apoio que elas dão a quem as procura. Eu tentei aparecer o mínimo possível, o suficiente para que os rituais fossem mostrados em sua plenitude.
Se sou personagem, sou daqueles coadjuvantes com duas frases no filme mas que de alguma forma são fundamentais para contar a história como deve ser contada.
Gravações do documentário “Benzadeus”
Giane Sacco
Essa tradição vem sendo repassada por gerações ou não mais? Essas benzedeiras e benzedores tentam fazer com que essa tradição não morra?
A minha a minha percepção é que, para a tradição não morrer, essas pessoas têm que passar para frente o seu conhecimento. E algumas, pelo que eu tenho visto, não estão passando.
Mas algumas estão passando, que eu acho muito legal. Por exemplo, uma das benzedeiras novas com quem eu vou falar é bem nova, não tem nem 30 anos de idade. E quem passou para ela foi a mãe, que recebeu da avó também.
Então, essa tradição está indo na família dela. Uma das benzedeiras com quem a gente já filmou também já contou que ela já passou para frente também, para uma pessoa da família dela, que não é filho nem filha, mas já passou para frente.
Um benzedor, que é um cara que eu gosto muito, que é o Seu Expedito, a história dele é muito legal porque o dom dele foi descoberto por alguém que não era da família dele, sabe? Foi passado para ele por uma pessoa que não era da família.
[…] Eu espero que com esse filme as pessoas abram os olhos, e não só abram os olhos, mas pensem na história e poder transmitir esse poder da benzedeira, do benzedor para frente também, para que não termine com uma pessoa.
Seu Expedito mantém a tradição como benzedor viva aos 92 anos
Divulgação
Uma coisa que chama atenção é a diversidade da atuação dessas pessoas, a diversidade da liturgia delas. Queria que você comentasse um pouco dessa diversidade que você encontrou.
Acho que a coisa mais legal de todas desse projeto “Benzadeus” é que eu descobri que o ser benzedeira ou benzedor não é uma atividade católica, que para mim sempre foi uma atividade católica. Mas eu descobri que outras pessoas de outras religiões também benzem como essa primeira ideia que eu tinha de benzeção mesmo.
Então, tem a Talita, que é uma benzedeira umbandista, que é incrível, a história dela é super bacana também. Ela nasceu católica e, de repente, a família dela foi entrando para a umbanda e ela pequena foi entrando para a umbanda. A benzeção dela é diferente. Na verdade, todas são bem diferentes umas das outras.
A da Talita também tem muito do católico, ela benze com imagens católicas, que são também imagens umbandistas, mas ela tem o terço na mão, ela fica segurando o terço na mão, ela reza as católicas, e aí mistura com coisas da tradição da umbanda também.
Outras pessoas já benzem o que seria o comum para mim, com essa minha ignorância católica anterior a esse projeto todo, que é rezar Ave Maria, reza o Pai Nosso, reza o Credo, salve Rainha. […] Cada um tem a sua forma, cada um tem a sua maneira de se comunicar com quem está sendo benzido.
Tem uma benzedeira que conversa com a gente, ela pergunta coisas para a gente, e ela fala coisas para a gente durante a benzeção dela. Tem outro, o Seu Expedito, por exemplo, é um cara que ele benze e a gente não ouve quase nada do que ele está falando, e a benzeção dele é meio sussurrada assim, sabe. Ele tem um altar onde ele benze, ele se vira muito para o altar. As diferenças, apesar de serem bem gritantes, elas acabam convergindo sempre para o mesmo fim.
Além disso, eu acabei encontrando aqui, um benzedor que é LGBTQIA +, que eu achei super bacana também. E é uma pessoa que é super procurada, está ficando até famoso na cidade, e ele não quis participar do filme exatamente por isso. Ele falou: “eu prefiro o meu anonimato e atender poucas pessoas porque, por enquanto, eu não consigo ser maior do que eu sou”.
Dona Francisca, uma das benzedeiras retratadas no documentário “Benzadeus”
Divulgação
E a busca por eles também é diversificada? Cada pessoa busca por diferentes motivos?
Exatamente. Quando você vai benzer, a benzedeira, o benzedor, eles perguntam por que que você tá lá, se você está lá por algum motivo qualquer. Quando eu fui no Seu Expedito a primeira vez, ele perguntou, e eu falei: “Ah, não, eu tô aqui porque eu vim conversar com o senhor e eu quero ser benzido, não tenho problema nenhum”. Aí ele: “Ah, então tá bom”. E ele me benzeu. E tudo ok, mas você pode chegar lá com seus problemas.
E tem benzedeira que ela te dá lição de casa também. Ela te benze e fala: “Óh, agora você tem que tomar um banho, comprar um chá de não sei o quê, dormir, sei lá o quê”.Tem várias lições de casa, assim, mas tem outros que acaba de benzer e fala assim: “Óh, tirei teu mau olhado, tá tudo bem com você, pode ir embora”.
Quais serão os próximos passos depois da estreia em São Pedro?
A partir da pré-estreia no Cine Teatro São Pedro eu começo a inscrever “Benzadeus” em festivais e mostras de cinema no Brasil e pelo mundo.
Já tenho convites para exibições do filme em dois museus, com bate papo após cada sessão, e também convite especial para exibição em uma grande mostra de cinema brasileira. Agora é a fase de colocar o filme embaixo do braço e sair exibindo nas telas que queiram nos receber.
Bastidores das gravações de “Benzadeus”
Giane Sacco
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