Quase diário

6 horas: a criança amanhece alegre. Vai até a pequena varanda e por três vezes aspira e expira, a plenos pulmões, o ar levemente movido pela cores iniciais do sol. Aprendera com seus pais que o ar matutino faz bem à saúde. Lembra de sua avó, que dizia que tudo pode renascer a cada dia. Faz seu asseio, se alimenta, afivela a mochila escolar, não esquece a merenda.

7 horas: ao se encaminhar para a escola, retribui o olhar carinhoso dos pais. Acena para a Sibipurana S 26 que identifica seu endereço na sub-bacia hidrográfica do Arroio Lajeado SBHAL 6. Sabe que logo seus pais irão atender aos clientes na loja situada na rua das Tipuanas, nº T 196. Por instantes, mentaliza o número 6. A professora ensinara que o hexágono é perfeito para as abelhas, mas também dissera que todas as formas podem ser igualmente virtuosas. Aproveita bem as aulas. Usufrui da socialização interativa.

10 horas: hora da merenda. Hoje, é um pãozinho com mel, acompanhado por um bilhete que nunca falta: “te amamos!” Recado simples, direto e pleno. Logo voltará para casa.

12 horas: a criança almoça. Descansa. Brinca. Se diverte. Lê. Gosta de ler. Acertara com os pais que leria dois livros por mês, ou mais. Rabisca um olho na televisão, interage através do celular, recebe colegas.

18 horas: um pouco cansada, adormece no sofá da sala. Logo acorda. Retorna à varanda. Gostaria de repetir os três movimentos respiratórios da manhã. Todavia, o ar adensado pelos ruídos e pelas poeiras não lhe parece aconselhável. Olha para o horizonte. Se preocupa com os vazios evidentes e os camuflados que se abrem na vegetação que contorna sua cidade. Aliás, o que vai sobrar da biodiversidade tão decantada e imensamente descuidada? Não consegue entender por que árvores seguem sendo derrubadas. Imagina os pais pássaros vendo seus filhotes caindo de seus ninhos. Também pensa nas pessoas sem casa, sem oportunidades, sem carinho. Não esquece dos acometidos por doenças, dos desesperançados e daqueles que morrem nas estúpidas guerras e conflitos.

19 horas: seus pais, já de volta do serviço, percebem a tristeza da criança. Ela os convida à varanda e aponta para a vegetação dia a dia diminuída. Pergunta aos pais se perceberam que nos últimos tempos têm aparecido menos pássaros na floreira da varanda. Tardam, conversam e silenciam. Querem encontrar saídas para que os ninhos e as árvores parem de cair.

21 horas: a criança adormece. Sonha com endereços ambientais, humanos felizes, árvores vigorosas e pássaros livres.

PROPÓSITO
Que este “quase diário” reavive em cada um nós o compromisso com as reformas necessárias. Aliás, que mundo as crianças gostariam de receber de nossa geração?

MARÇO DE 1992
O mundo já respirava a ECO-92. Todavia, algumas semanas antes, ainda em março, José Lutzenberger foi fortemente “convidado” a deixar a Secretaria Especial do Meio Ambiente. Saiu abalado, mas seguiu ainda mais determinado na defesa da causa ambiental.

CRÉDITOS DE CARBONO
Vale a pena ouvir a reveladora entrevista feita pela rádio Novelo com a jornalista Fernanda Wenzel sobre uma investigação dos créditos de Carbono. Ouça aqui, a partir do minuto 24’30.

LEIA OUTROS TEXTOS NA COLUNA DE WENZEL

quer receber notícias de Santa Cruz do Sul e região no seu celular? Entre no NOSSO NOVO CANAL DO WhatsApp CLICANDO AQUI 📲 OU, no Telegram, em: t.me/portal_gaz. Ainda não é assinante Gazeta? Clique aqui e faça agora!

The post Quase diário appeared first on GAZ – Notícias de Santa Cruz do Sul e Região.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.