Brigadeiros com sabor de recomeço

O nome comercial Carlen Brigaderia não se resume a doce e a capricho. Por trás de cada brigadeiro, que literalmente se derrete na boca, há um misto de superação e recomeço. E é da cozinha do seu apartamento, na região central de Santa Cruz do Sul, que a empreendedora da marca, a professora Carlen Porto Swarowsky, de 43 anos, lembra o quanto os doces e os salgados lhe mostraram a força de sua mãe, Marli Aires Porto, já falecida. Foi em Cachoeira do Sul, também em uma cozinha, que ela, ainda menina, viu a mãe ressignificar suas vidas e se reerguer com o sucesso de um trabalho bem feito.

Com a separação dos pais, aos seus sete, oito anos, Carlen viu a mãe sem emprego, tendo que morar de favor na casa da avó. Mas viu também o valor que suas moedas, guardadas há um bom tempo em um cofrinho, teriam dali em diante. “Minha mãe estava sem nada e um dia pediu minhas moedas emprestadas para comprar um quilo de açúcar e um litro de leite. E ela fez rapaduras. Colocou tudo em um potinho e saí com a minha prima para vender. Cheguei em casa tão feliz porque tinha vendido todas as rapaduras e voltado ‘com muito’ dinheiro”, conta, emocionada.

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A vontade de ajudar a mãe era tanta que Carlen chegou a pedir auxílio para um taxista lhe atravessar, todos os dias, de um lado para o outro, na Avenida Brasil. “Vendia na vizinhança, e um dia minha mãe disse que eu só não poderia ir naquela avenida porque era perigoso de atravessar”, lembra.

Depois de fazer sucesso com a clientela, Carlen começou a ser acompanhada pela mãe. “Ela descobriu que eu tinha desobedecido e decidiu ir comigo. Nessa fase, ela começou a fazer pastéis para vender e aumentou as opções de doces e salgados. Com esse dinheiro, nós conseguimos sair da casa da minha avó e fomos morar em uma casa alugada”.

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Algum tempo depois, já com seus 10, 12 anos, Carlen deu uma prova de quanto ainda poderia ajudar sua mãe. “Ela precisou fazer uma cirurgia e estava hospitalizada. A gente recebeu muita ajuda dos vizinhos. Eu sabia fazer massa de pastel, tinha aprendido com ela. Como meu pai tinha se aproximado da gente e estava lá por casa, ele me ajudava a fritar os pastéis e eu saía para vender”, relata. E foi com todo esse empenho e dedicação, ano após ano, que Carlen viu sua mãe construir uma boa casa e pagar toda a sua faculdade de Pedagogia. “Com a venda dos salgados e doces, ela pagou toda a minha faculdade. Vim morar em Santa Cruz do Sul para estudar e foi esse dinheiro que me manteve aqui. Ela era muito feliz por ter formado a filha em uma faculdade.”

Amor pelos doces e pela sala de aula

Formada em Pedagogia, Carlen, que também trabalhou como babá durante a faculdade, conseguiu uma vaga para integrar o quadro de professores do Colégio Mauá. Há 15 anos, é professora da Educação Infantil – nível V. E, mesmo gostando muito de estar em sala de aula, nos últimos 10 anos ela tem se dedicado ao ambiente escolar e a sua brigaderia.

A ideia de dividir seu tempo entre a sala de aula e os doces surgiu em uma viagem de férias com o marido, Felipe, de 45 anos. “A gente estava na praia e a nossa filha, a Martina, tinha uns quatro meses. Já havia decidido que não iria trabalhar mais nos dois turnos na escola para ter tempo de me dedicar a ela. Lembro que olhei para a Martina e disse para o meu marido: ‘Vou fazer brigadeiros para vender’. Quando voltamos da viagem, criei uma página e anunciei que estava fazendo doces. Logo, recebi meu primeiro pedido, de 500 docinhos”, recorda.

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Embora a motivação inicial tenha surgido ao lembrar que sua mãe havia conquistado até mesmo a casa própria, com a produção de doces e salgados, Carlen reconhece que foi também uma forma de mantê-la viva em suas lembranças e no seu dia a dia. Hoje, Carlen oferece mais de 30 sabores de doces, todos feitos à mão, de modo bem artesanal. “Estou sempre buscando receitas dos doces da minha mãe, mas me dedico somente aos docinhos.” Carlen pretende incrementar seu cardápio e já iniciou um curso de confeitaria.

Ela conta que tudo o que é feito em casa tem o nome da “vovó Marli”. Embora seus filhos – Martina, de nove, e Henrique, de cinco – não tenham chegado a conhecer a avó, falam muito sobre ela. “Trago a eles muito do que aprendi com a minha mãe.” Acerca dos doces que entrega em sua brigaderia, ela garante que coloca muito carinho. E, pelos retornos que recebe de cada cliente, contente com seu produto, ela honra não só o seu trabalho, mas, sobretudo, a coragem que sua mãe teve para recomeçar.

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