Fontes de vida, integradas à vida?

Houve um tempo (e nem faz tanto – eu ainda estou aqui) em que águas cristalinas do riachinho na minha Wilde Heimat se moviam em suave murmurejar sobre pedras. Eu mergulhava nelas meus pés pequeninos, que eram cercados por lambaris curiosos. Por vezes, sentava-me sobre a relva, à beirinha do riachinho, inclinava minha fronte sobre a água a correr mansamente e contemplava meu rosto nela refletida. Imagem que se misturava à dos peixinhos e oscilava ao sabor do movimento da água.

Na Santa Cruz de outrora, riachinhos eram fontes de vida e serpenteavam pela cidade. Com o avanço da urbanização, foram transformados em fedorentas pocilgas pelos dejetos que lhes foram impostos. E quando o povo não mais aguentou o mau cheiro, os riachinhos foram sendo escondidos sob cimento. Os arroios que restam ao céu aberto são tratados, por muitos, como lixeira. Do Arroio Lajeado, voluntários têm se esmerado em recolher o lixo nele abandonado.

LEIA TAMBÉM: “Ein Glücksfall” – um feliz acaso ou obra do destino?

O riachinho que passa pela Wilde Heimat resta triste e turvo. Suas águas chegam poluídas; sem vida. Os gansos, que no passado lá se banhavam, há muito deixaram de frequentar o córrego. Do frescor dos pés na água clara, dos lambaris, restam lembranças.

Em meus tempos de estudo na universidade de Tübingen, reencontrei riachos com águas transparentes e inodoras a correrem livres pela cidade, pelo centro histórico, pelo Alter Botanischer Garten. Admirada, procurei me informar como isto era possível. Contaram-me meus amigos que nem sempre os riachinhos foram o que hoje são. Lá também houve um tempo em que o povo os havia transformado em curso de esgoto. Mas, em vez de esconderem as águas sujas e fedorentas sob cimento, foi realizado um trabalho de saneamento e de recuperação de sua qualidade. Hoje, Tübingen oferece o frescor das águas, sombra de árvores, muitas delas seculares, e uma grande alameda de plátanos centenários na ilha do Rio Neckar, tombados como patrimônio natural da cidade.

E nós? O que faremos nós com os nossos riachinhos? Vamos mantê-los escondidos e sem vida, continuar a tratá-los como canais de esgoto ou lixeiras? O que fazemos com as nossas árvores? Vamos continuar abatendo-as sem dó nem piedade? Neste Dia Mundial da Água, ouso pedir um instantinho de silêncio para refletirmos sobre esses nossos bens de imensurável importância para a vida de todos.

E, para esta reflexão, finalizo com um trechinho do prefácio da Diretiva-Quadro Europeia sobre a Água – 2000/60/EG- WRRL. “A água não é uma mercadoria comum, mas um bem herdado, que deve ser protegido, defendido e tratado adequadamente…”
“Wasser ist keine übliche Handelsware, sondern ein ererbtes Gut, das geschützt, verteidigt und entsprechend behandelt werden muss…” (Auszug aus dem Vorwort zur Europäischen Wasserrahmenrichtlinie 2000/60/EG-WRRL)

LEIA MAIS COLUNAS DE LISSI BENDER

quer receber notícias de Santa Cruz do Sul e região no seu celular? Entre no NOSSO NOVO CANAL DO WhatsApp CLICANDO AQUI 📲 OU, no Telegram, em: t.me/portal_gaz. Ainda não é assinante Gazeta? Clique aqui e faça agora!

The post Fontes de vida, integradas à vida? appeared first on GAZ – Notícias de Santa Cruz do Sul e Região.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.