Trilobitas

Vamos até ali! Poderemos ver melhor o trilobita. Tanice, nos fale sobre ele,” sugere Cristian. Todos se acercam da rocha que emerge do fundo da cratera, como se fosse o vértice de uma pirâmide. Enquanto as do Egito apontam para a via láctea, esta afunila para as entranhas da Terra.

Tanice explica: “Houve um tempo, chamado Paleozoico, em que estes animaizinhos viveram em muitos lugares, preferencialmente marinhos. Isso faz muito tempo, mais de 500 milhões de anos atrás. Viveram por 300 milhões de anos. Tinham olhos fantásticos. Na água, enxergavam melhor do que nós.” Irene interrompe: “Mas por que tinham o jeito costurado parecido com o dos cogumelos que Cristian colhia para curar seus doentes?” Tanice responde: “É que eles tinham dois eixos longitudinais que dividiam seu corpo em três lóbulos.”

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A criança quer saber mais: “Eles eram grandões?” Sorridente, Tanice esclarece: “A maioria das mais de 15 mil espécies era do tamanho de alguns poucos centímetros, mas havia os com 70 centímetros. Eram muito bonitos e espertos. Só que foram extintos. Há 250 milhões de anos, deixaram de existir. Sabemos deles pelos registros fossilizados.”

Líris pergunta: “Se eram tão espertos, como desapareceram?” Tanice, agradecida pela atenção, responde: “Naquele tempo a Terra era um só continente, rodeada por um grande mar. Mas o continente foi se movimentando e fracionando. Além do que, aconteceram grandes glaciações, o nível das águas mudou, a comida ficou escassa, as concentrações de oxigênio se modificaram, também deve ter acontecido a chegada de estranhas radiações cósmicas, além do surgimento de organismos que trouxeram doenças.”

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Tanice faz uma pausa, interrompida por Líris: “Quanta coisa aconteceu nestes mais de 300 milhões de anos… Porém, com todo esse tempo, eles não poderiam ter se adaptado melhor?” Tanice se surpreende: “Tens toda razão, querida Líris. Essa é a grande questão. Vou dizer o que penso que foi decisivo. Os trilobitas começaram a se achar.

Dominaram amplamente. Se encheram de adornos, espículas, protuberâncias e especializações.” A criança resume: “Ficaram exibidos”. Tanice concorda: “É por aí. Chegaram ao que consideravam seu auge, e aí foi o início de seu fim. Seus olhos quase perfeitos não viram o essencial.”

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Irene comenta: “Quase como nós hoje em dia. Achamos que sabemos tudo. Que a tecnologia vai resolver qualquer problema, que somos os mais inteligentes, e o pior, que somos superiores, feitos deuses; que todas as demais criaturas estão a nosso serviço; que podemos mandar e desmandar sobre a natureza. Talvez ainda pior. Nos descolamos da natureza, esquecemos que somos natureza, e não donos dela.”

Muito ainda poderia ser dito, pensou Tanice, que prefere silenciar, para que todos possam refletir sobre o que teria acontecido com o animalzinho transformado em rocha. Tanice recorda o berço da humanidade, sua terra natal. Pensa nas cinco grandes extinções ocorridas em escala geológica. Todavia, como ignorar uma possível sexta extinção, movida pelo descuido humano? Volta sua atenção para a criança e para Líris.

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Poderão elas fazer a diferença? Conseguirão mudar o desastroso processo degradatório em curso? Por que, apesar de todas as evidências, como os extremos climáticos se manifestando de forma sequenciada, muitos humanos não conseguem entender que estamos caminhando no mais perigoso dos percursos?
Nisso, uma libélula pousa sobre o trilobita fossilizado. Reverentes, todos observam o trilobita e a libélula.

“Olhem só, ela tem seis perninhas!”, exulta a criança. À vibração da criança, Cristian, o velho selvagem, emenda: “Sim, vendo este pequeno inseto, lembro quantos deles havia no sanatório. Adoravam ficar perto dos lírios que cresciam junto aos cogumelos. Aqueles que nunca vi em outro lugar, só lá no canto lodoso do sanatório.”

Eva e Tanice se entreolham extasiadas e convocam a duas vozes: “Antes de voltarmos, precisamos entender o que estamos vendo. É rápido. Todos irão compreender.” O que Eva e Tanice enxergaram?

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