O gestor público como indutor de boas práticas

Como poderíamos separar melhor o nosso lixo, facilitando, assim, o trabalho na triagem dos resíduos e incentivando cada vez mais a reciclagem e a economia sustentável? Há alguma forma de fazer com que nossos motoristas sejam mais conscientes, deixando de ocupar duas vagas ao estacionar ou de parar em meio aos cruzamentos das ruas, contribuindo para a melhoria da mobilidade urbana? E quanto ao agendamento de consultas e exames no SUS, em que muitos usuários não comparecem aos agendamentos, como tornar a gestão dessas filas mais eficiente, possibilitando encurtar o tempo de espera?

Somos constantemente bombardeados por estímulos cognitivos (do que comer, do que comprar etc.) e, quando, por algum motivo (pressa, rotina etc.), agimos ao largo do senso crítico, acabamos caindo em muitas armadilhas no processo diário de escolhas. Tais decisões impactam em nossas ações e podem geram consequências a outras pessoas.

E se ao invés de serem usados somente nas técnicas de venda ou de marketing, esses impulsos fossem utilizados na gestão das cidades para que os cidadãos pudessem refletir e mudar para melhor alguns hábitos em benefício da coletividade? No livro Nudge, o nobel em Economia Richard H. Thaler e o também professor Cass R. Sunstein revelam essa “arquitetura da escolha” e o quanto um estímulo comportamental pode tornar as informações disponíveis mais evidentes em uma tomada de decisão.

Um nudge não chega a ser uma obrigação (muito embora possa estar vinculado a alguma regra de convívio social), mas um empurrãozinho, aquela especial atenção como quando sublinhamos alguma frase que queremos destacar ao ler um texto. Em um dos mais movimentados aeroportos do mundo, por exemplo, a administração colou pequenos adesivos com a imagem de uma mosca dentro dos mictórios do banheiro masculino com mensagens para capricharem na “mira”, o que resultou em uma redução drástica no uso de material de limpeza desses espaços…

Trata-se de um conceito relativamente recente, já em uso em algumas esferas da Administração Pública, e com bons resultados. Por ser uma estratégia inovadora, exige um pensar e agir completamente “fora da caixa”, um desafio e tanto para nossos gestores públicos. Ao invés de se renderem a certas “culturas” locais (“isso sempre foi assim”, “aqui funciona assim” etc.), é possível ajudar as pessoas naquelas micro ações que, apesar de parecerem insignificantes, quando reproduzidas, podem causar transformações estruturantes capazes de gerar mais qualidade de vida para a população.

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