Vídeo mostra momento em que professor fura dedo de alunos com agulha compartilhada no ES


Ação aconteceu durante aula prática de química com mais de 40 estudantes do 2º e 3º ano do Ensino Médio entre 16 e 17. Autoridades de Saúde acompanham e polícia investiga o caso. Professor usa mesma agulha para furar dedos de mais de 40 alunos em escola
Um vídeo obtido com exclusividade pela TV Gazeta mostra o momento na sala de aula de química em que mais de 40 alunos têm o dedo furado pelo professor com o mesmo objeto pontiagudo. O caso aconteceu na última sexta-feira (14) em Laranja da Terra, na região Serrana do estado, com alunos de 16 e 17 anos do 2º e 3º ano do ensino médio.
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A Polícia Civil instaurou um inquérito para apurar os fatos. O delegado-geral da corporação, José Darcy Arruda, disse que o professor pode responder por exposição ao perigo.
O professor de Química foi demitido pela Secretaria Estadual de Educação (Sedu) e o caso foi encaminhado para a corregedoria da secretaria.
O nome do professor não está sendo divulgado para preservar a identidade dos alunos. O g1 não conseguiu contato com o docente.
Momento gravado por alunos
Uma estudante ouvida pelo g1 disse que alunos de quatro turmas passaram pela atividade entre os dias 7 e 14 de março. O caso aconteceu durante uma aula de Práticas Experimentais em Ciências realizada com 44 alunos.
No vídeo é possível ver uma aluna segurando as mãos e o dedo indicador separado para ser furado.
Secretaria de Educação diz que alunos foram furados com lanceta compartilhada em escola do ES
Reprodução/TV Gazeta
O professor usa luvas descartáveis, em uma das mãos segura o objeto pontiagudo e na outra o dedo da aluna. Ele fez um furo rápido no dedo e é possível ouvir algumas risadas de alunos ao fundo.
“Ui, nossa gente olha quanto sangue!”, diz a aluna que foi furada.
Após o furo no dedo, o professor aperta o membro para sair mais sangue. As imagens focam apenas no dedo e o vídeo acaba.
Alunos que compartilharam agulha no ES: o que se sabe até agora
De acordo com o relato dos alunos, o professor furou os dedos para coletar amostras de sangue que foram analisadas nos microscópios do laboratório da escola. Nas atividades os estudantes aprenderam sobre tipos sanguíneos.
Uma aluna de 16 anos que participou de uma das aulas disse que os estudantes aceitaram participar do experimento porque confiavam no professor.
“A gente pensou ‘ele é professor, ele sabe o que está fazendo’. Mas depois uma outra professora começou a explicar a situação falando que ele tinha errado e ela foi dando as orientações. Todo mundo ficou assim, bem chateado, muitas pessoas ficaram com raiva do professor, foi um caos na sala, foi difícil controlar todo mundo”, contou.
Mais de 40 alunos tiveram dedos furados por objeto pontiagudo não descartável durante aula de química no Espírito Santo
Reprodução/TV Gazeta
A adolescente relatou que o professor passava álcool na agulha entre um aluno e outro, o que levou a turma a minimizar a ação.
“Como ele tava limpando com álcool, a gente, no calor do momento, a gente acreditou que tava tudo bem”, disse a aluna.
Médicos ouvidos pelo g1 ressaltaram que a limpeza de objetos com álcool não é um procedimento correto. Agulhas e outros itens perfurocortantes que entraram em contato com sangue e secreções precisam ser descartados após o uso ou, em casos específicos, serem esterilizados em equipamentos apropriados.
Médica do ES alerta para riscos de compartilhar agulhas
A Secretaria de Estado de Educação do Espírito Santo (Sedu) informou que o objeto utilizado era uma lanceta
No entanto, a pedido da TV Gazeta, médicos analisaram o vídeo em que os alunos têm os dedos furados e disseram não terem identificado o objeto pontiagudo que aparece nas imagens como uma lanceta.
Monitoramento
Em nota divulgada nesta terça (18), a Sedu informou que os alunos estão bem e frequentando as aulas normalmente.
A Secretaria Municipal de Saúde (Semus) informou que, assim que foi acionada, na sexta, fez contato com a Secretaria de Estado da Saúde, que orientou sobre os protocolos e medidas a serem adotadas na ocasião.
Nesta terça, os alunos fizeram que testes complementares para testar a imunidade contra hepatite B e C.
Teste de sangue em escola em Laranja da Terra vira caso de polícia
Para garantir o acompanhamento adequado dos estudantes, a Secretaria Municipal de Saúde (Semus) e a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) realizaram uma reunião para definir os protocolos a serem seguidos.
Os alunos serão submetidos a novos testes em 30 dias. Além disso, a escola promoveu um encontro com pais e alunos, para prestar esclarecimentos.
A mãe de uma adolescente que participou da atividade contou que foi feita uma reunião com os pais dos alunos envolvidos. Eles foram informados que os estudantes serão acompanhados e farão exames por 180 dias.
Riscos de compartilhamento de agulha
De acordo com a médica infectologista Ana Carolina D’Ettores, o compartilhamento de agulhas é um comportamento de alto risco que pode expor os paciente a doenças potencialmente graves como a Aids/HIV, hepatite C, hepatite B, além de infecções bacterianas.
“O recomendado é sempre que não se reutilize nem no próprio paciente a mesma agulha. Toda agulha que é utilizada por qualquer pessoa deve ser descartada após o uso. E claro, antes de utilizar a área que terá o contato com a agulha precisa ser higienizada e descartada de forma coleta, para o tip de lixo específico apenas para material biológico”, destacou a médica.
Além disso, a infectologista pontuou que os jovens que ficaram expostos a esse compartilhamento precisam ter acompanhamento médico com exames de sangue regulares em 30, 60 e 90 dias para observar se alguma doença vai se manifestar.
Sobre o descarte, a infectologista pontuou que a agulha precisa ser jogada no tipo de lixo específico para material biológico.
“É um risco para quem pode manipular esse lixo, podem pegar, se acidentar e aí o funcionário vai ter um problema de risco de material biológico”, disse.
Autoridades acompanham
Mais de 40 alunos tiveram dedos furados por professor com objeto pontiagudo não descartável durante aula de química no Espírito Santo
Reprodução/TV Gazeta
Além da Polícia Civil, a Sedu, a Secretaria Municipal de Saúde de Laranja da Terra (Semus) e o Ministério Público do Espírito Santo acompanham o caso.
O crime de exposição a perigo é previsto no código penal brasileiro como exposição a vida ou saúde de outra pessoa direto e iminente. A pena pode de 3 meses a 1 ano.
O delegado Arruda relatou que está ouvindo testemunhas e vai intimar o professor. Mas destacou que as investigações ainda precisam avançar para confirmar as autuações dos responsáveis.
“A princípio, esse crime se apresenta como exposição a perigo […] classificado como crime e de perigo comum, por ter praticado aquele comportamento”, declarou Arruda.
O Secretário Estadual de Educação, Vitor de Angelo, informou ainda que o professor não pediu autorização para a atividade.
“Quando essa informação não chegou foi grave porque a escola não conseguiu providenciar os insumos necessários para a realização dessa atividade de forma adequada. E quando ele além de não informar, faz dessa maneira, ele expõe todo mundo ao risco”, disse o secretário.
Confira o que dizem as autoridades na íntegra:
Secretaria de Estado de Educação do Espírito Santo (Sedu)
A Sedu informou que os alunos estão bem e frequentando as aulas normalmente. Todos os 44 estudantes foram submetidos a testes rápidos de diagnóstico de infecção, com resultados negativos para todas as doenças testadas. Inclusive, na manhã desta terça-feira (18), estão sendo realizados testes complementares para testar a imunidade contra hepatite B e C. Em relação ao professor, o contrato foi encerrado, e o caso encaminhado para a corregedoria da Sedu.
Para garantir o acompanhamento adequado dos estudantes, a Secretaria Municipal de Saúde (Semus) e a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) realizaram uma reunião para definir os protocolos a serem seguidos. Os alunos serão submetidos a novos testes em 30 dias. Além disso, a escola promoveu um encontro com pais e alunos, para prestar esclarecimentos.
A atividade de observação de células sanguíneas ministrada por um professor de Química foi realizada sem a devida autorização da coordenação pedagógica. Assim que a Sedu tomou conhecimento do ocorrido, todas as medidas necessárias foram imediatamente adotadas.
Secretaria Municipal de Saúde de Laranja da Terra (Semus)
A Secretaria Municipal de Saúde (Semus) informou que, assim que foi acionada, fez contato com a Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo, que orientou sobre os protocolos e medidas a serem adotadas na ocasião.
Os atendimento foram prestados pelas equipes do Hospital Municipal de Laranja da Terra e da Unidade Básica de Saúde da sede.
Todos os atendidos estavam em boas condições de saúde, sem apresentar sintomas incomuns ou agravantes. A Secretaria Municipal de Saúde segue acompanhando o caso de perto prestando apoio aos alunos e familiares.
Ministério Público do Espírito Santo
O Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES), por meio da Promotoria de Justiça de Laranja da Terra, informa que teve conhecimento dos fatos ainda na sexta-feira (14/03), e imediatamente entrou em contato com o Secretário Municipal de Saúde para acompanhar as medidas de saúde adotadas e tomar todas as providências para que todos os procedimentos necessários sejam realizados.
O MPES destaca também que instaurou Notícia de Fato para acompanhar o caso junto às investigações da Polícia Civil. A eventual tipificação penal dependerá do andamento das ações investigativas e dos resultados dos exames que, no momento, estão sendo aguardados. Mais informações não podem ser divulgadas por ora, pois o caso está sob sigilo.
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