Para diplomatas, saída para ‘tarifaço’ dos EUA seria OMC, mas entidade está paralisada e Trump, ‘fortalecido’


Governo americano tem implementado medidas como sobretaxa a itens estrangeiros alegando proteger produtores internos. Especialistas dizem que postura pode mudar quando efeitos negativos começarem a ser percebidos pela população local. Aço brasileiro deve ser um dos mais afetados por medidas anunciadas por Trump
Getty Images via BBC
Diplomatas ouvidos pela Globonews afirmaram nesta quarta-feira (12) avaliar que a saída para os países buscarem soluções para o “tarifaço” sobre produtos importados anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deveria ser a Organização Mundial do Comércio (OMC).
Entretanto, como a entidade está “paralisada” por falta de indicação de juízes, as negociações terão de ser feitas por cada país.
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A avaliação interna no Itamaraty é que Trump está “fortalecido” com esse cenário de falta de atuação da OMC na mediação de controvérsias.
Mesmo assim, dizem esses diplomatas que a política protecionista pode, mais adiante, aumentar a inflação nos Estados Unidos e elevar os preços, o que pode, em tese, forçar Trump a rever algumas medidas quando os efeitos passarem a ser sentidos nos bolsos dos americanos.
A cobrança de tarifas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio nos Estados Unidos entrou em vigor nesta quarta-feira, um mês após assinatura de decreto pelo presidente Donald Trump.
A medida irá atingir em cheio o setor siderúrgico de grandes parceiros comerciais dos EUA, como o Canadá e o México. O Brasil, que ocupa o posto de segundo maior fornecedor de aço do país, também será impactado.
Para um diplomata com atuação em Washington ouvido pela Globonews, com a falta de indicação de juízes, a OMC, que poderia atuar neste momento, está “sem braço” e “paralisada”, o que deixa os países “sem esperança”.
Avalia que, em razão da ausência de um mecanismo internacional capaz de negociar, vai valer a “lei da selva”, isto é, com Trump anunciando medidas, os países respondendo, a Casa Branca anunciando novas ações e assim por diante.
Entretanto, acrescenta que, se a inflação começar a aumentar no país, em razão da elevação de preços pelos produtores internos, Trump poderá ser forçado pelo mercado interno a recuar de algumas medidas.
Um outro diplomata a par da estratégia do Itamaraty em relação a Trump disse à Globonews de forma reservada que, embora a OMC fosse a melhor saída neste momento, o órgão está “sem meios para decidir e fazer valer qualquer decisão” em razão da paralisia do órgão de solução de controvérsias.
Mas, reforça, os Estados Unidos são os responsáveis pelo “desmonte” da organização, uma vez que governos democratas e republicanos agiram da mesma maneira ao não indicar juízes.
Para esse diplomata, os Estados Unidos usam as tarifas como “arma” em uma “guerra comercial” que só pode vir a ter fim a depender da reação dos países e de como Trump lidará.
‘Temor por escalada’
Em entrevista aos jornalistas Mônica Waldvoguel e Léo Arcoverde, do jornal GloboNews Em Ponto, nesta quarta-feira, o diplomata Roberto Azevêdo, ex-diretor-geral da OMC disse temer uma “escalada” nas medidas a serem anunciadas ao longo das próximas semanas, criando uma “dinâmica de imprevisibilidade extraordinária no mundo inteiro”.
Azevêdo disse ainda ser preciso encontrar uma saída política para evitar a “escalada” que “pode sair do controle com muita facilidade”. Para o diplomata, as medidas anunciadas por Trump não são benéficas para os Estados Unidos.
“Na minha carreira profissional diplomática, que não é curta, nunca vivi um momento desse tipo, nem durante o período da Guerra Fria. […] Essas tensões existiam, essas barreiras existiam, essa fragmentação existia, mas você tinha regras, você sabia mais ou menos o que estava em jogo, você sabia o que podia fazer o que não podia fazer”, afirmou.
“Isso, hoje, não existe mais. A imprevisibilidade é absoluta, as pressões internas são muito mais fortes, muito mais poderosas. No primeiro mandato, o presidente Trump ouvia mais essas pressões. […] Hoje, isso não está acontecendo. Se ele ouve o mercado de capitais, e o mercado está dizendo ‘Trump, volte atrás porque essa política não vai ser boa para a economia americana’, ele tem que honrar as ameaças dele e está dobrando a aposta”, completou o diplomata.
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