Pílula anticoncepcional: a revolução

A propósito do Dia Internacional da Mulher, ainda que tardiamente, republico um artigo de novembro de 2010. Valiosas e diferentes invenções humanas têm também enormes e diferentes repercussões na vida dos povos e das pessoas. A dimensão e a importância de cada invenção mantêm uma relatividade quanto à sua época.

Particularmente às mulheres, um exemplo de utilidade e atualidade é a pílula anticoncepcional, surgida em 1960 nos Estados Unidos. Mudou o mundo e a realidade feminina para melhor. Mudou o comportamento das mulheres e dos homens.

De imediato, a pílula permitiu às mulheres a opção de decidir sobre quando e quantos filhos gostariam de ter. Esse detalhe – sem ignorar outras inovações importantes que favoreceram o dia a dia das mulheres – precipitou uma grande transformação da/na sociedade.

Além da maternidade, alcança e envolve a questão da sexualidade. A pílula anticoncepcional foi o alicerce da emancipação da mulher, cuja sexualidade estava confinada a tabus e preconceitos sociais, até então.
Um fato que também contribuiu expressivamente para a emancipação feminina foi a Segunda Guerra Mundial. Refiro-me às oportunidades de trabalho que surgiram, haja vista que os homens estavam no front ou indiretamente envolvidos no ambiente mundial da grande guerra.

Com renda própria e atuando em novas profissões e postos de trabalho, aos quais ate então não tivera acesso, a mulher não deixou mais de trabalhar. E ampliou sua participação no mercado de trabalho.
Tradicionais profissões e cursos universitários, antes dominados por homens, hoje são divididos meio a meio, a exemplo da medicina, direito, jornalismo, engenharia e arquitetura, entre outros não menos importantes.

Trabalhar fora ampliou suas relações sociais e o modo de relacionamento. A pílula anticoncepcional e a independência econômico-financeiro da mulher tornaram a sociedade mais justa e igualitária.
A essas conquistas correspondem novos desafios e perguntas. Um exemplo: o conflito feminino entre decidir qual o melhor momento de atender ao desejo da maternidade e o momento de priorizar a carreira profissional. Consequentemente, muitas mulheres não têm filhos. Optaram em não os ter.
Para além do controle da maternidade e da emancipação financeira, creio que a maior consequência positiva, a maior conquista feminina, foi o questionamento e a superação do modelo patriarcal de sociedade.

O direito a ter direitos. A filósofa alemã Hanna Arendt (1906–1975) já dizia que a conquista dos direitos exige um sujeito que tenha ação na esfera política. E desde então, “as coisas” se sucederam em rapidez e sucesso. Temas e tabus intocáveis caíram. Família, sexualidade, direitos trabalhistas, divisão do trabalho doméstica, responsabilidade e o cuidado com as crianças, etc…Alguém tem dúvida de que “tudo começou” com a pílula anticoncepcional?

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