Francisco Teloeken: “Dia Internacional da Mulher”

O Dia Internacional da Mulher foi criado oficialmente pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1975, durante a I Conferência Mundial da Mulher. O dia – 8 de março – foi escolhido em homenagem à greve de operárias do setor de tecelagem e grupos de mulheres que saíram às ruas, em 8 de março de 2017, na Rússia, para protestar contra a fome e a primeira guerra mundial. O mês de março ficou associado, também, às 125 mulheres que morreram, em 25 de março de 1911, no incêndio de uma fábrica têxtil de Nova York, trazendo à tona as más condições e sobrecarga de jornadas de trabalho que chegavam a 16 horas por dia.

Antigamente, as mulheres eram preparadas para o casamento, cuidar da casa e dos filhos. Não tinham direito à opinião, cursos superior, ao voto e, tampouco, a recursos financeiro independentes de homem, além de outras restrições, como ter um CPF e conta bancária separada do marido.

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Passados mais de cem anos, ainda persistem situações mal resolvidas. Uma delas, as questões financeiras que são as pautas principais desta coluna.

Carol Sandler, especialista em finanças pessoais e fundadora do site Finanças Femininas, no artigo Abuso financeiro: o outro lado da violência doméstica, de março de 2020, conta a história de uma mulher que acalentava o sonho de empreender. Ela tinha um trabalho que pagava bem, mas do qual não gostava. O marido dela deu a maior força e sugeriu que ela usasse o dinheiro da rescisão para iniciar o negócio.

A mulher fez um plano de negócios, viu que as contas fechavam, pediu demissão do emprego, tendo recebido todas as verbas rescisórias. Mas, quando foi conferir o saldo da conta corrente do banco, a surpresa: a conta estava zerada. Ao confrontar o marido, pela reação dele entendeu a situação; o marido sacou o dinheiro, apropriando-se das verbas rescisórias da mulher. O que se seguiu cabe nas páginas policiais: o marido espancou a esposa até deixá-la desacordada e foi embora.

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A mulher de que se trata deu a volta por cima. Saiu de casa, mudou de cidade, arrumou outro emprego, pediu demissão de novo e, finalmente, iniciou seu próprio negócio. Infelizmente, a parte “policial” da mulher espancada por seu companheiro não é um fato isolado. Casos de feminicídio são frequentes, em números crescentes e acontecem em qualquer segmento social e lugar, desde grandes e modernas capitais, até em cidades pacatas do interior.

Mas, de acordo com especialista Carol Sandler, existe outra ou concomitante violência doméstica, pouco divulgada e conhecida apenas pela mulher e seu entorno: a submissão ao abuso financeiro. Dependendo financeiramente do marido, muitas mulheres submetem-se a situações, ás vezes constrangedoras, precisando mitigar algum dinheiro para atender a necessidades pessoais. Até mulheres com remuneração maior, eventualmente superior a do companheiro, são obrigadas a entregar o salário ou renda ao marido que se diz ou se sente melhor preparado para administrar as finanças do casal.

O amor, ou a falta dele, leva cada vez mais mulheres à terapia. Enquanto avançam as sessões, entre os principais conflitos estão questões financeiras que se manifestam pela dependência financeira, sobrecarga do trabalho de cuidados, desigualdade salarial, desentendimentos quanto ao uso do dinheiro, impactos da relação na carreira de cada um. Como afirma a psicanalista e professora Ana Suy, “Homens já costumam falar sobre dinheiro, mas entre mulheres é novidade”.

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Outra questão que costuma estar presente nas relações de casais é a distribuição dos recursos e investimentos pois se trata de decidir o que cada membro do casal considera prioridade. Um projeto de vida mescla duas culturas. Pode haver conflito para se decidir o quanto pagar por uma escola para os filhos. Ou, então, um acreditar que o dinheiro deve ser usado no momento presente e o outro prefere pensar no futuro. Muitas mulheres, ao revisarem seus relacionamentos, percebem que foram enganadas, que sofreram violência patrimonial, o que deixa um saldo de humilhação, vergonha, medo e raiva.

Há quem vê no Dia Internacional da Mulher uma invencionice, moderna e artificial, um movimento feminista e fartamente explorado pelo comércio. Entretanto, sob o contexto histórico do Brasil, a luta da mulher – e de homens que entenderam e abraçaram a causa –, é um reconhecimento e uma reafirmação das conquistas civilizatórias, em que todos somos beneficiários. Não há nada de errado no presente tradicional de flores, bombons e maquiagem, pelo Dia Internacional da Mulher. A maioria das mulheres certamente gosta desses mimos. Mas, as homenagens não devem ater-se a esses presentes.

Nesta data especial, em que se fala tanto nas conquistas das mulheres e, também, de questões não resolvidas, a influenciadora Nathalia Rodrigues, mais conhecida como Nath Finanças, diz que a independência financeira, no caso das mulheres, é o caminho para elas fugirem de relações abusivas. A educação financeira é uma ferramenta que pode ajudar as mulheres nesse objetivo para garantir a sua independência e integridade física.

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