O berço de artistas que eternizaram o amor

Quando pensamos em viver um grande romance, a Itália logo surge como o cenário ideal. Seja pela musicalidade da língua, onde as palavras se transformam em verdadeiras melodias; pelas canções viscerais que transformam o cotidiano em poesia, ou pelos filmes repletos de personagens intensos e apaixonados. A Itália é o berço de grandes artistas e escritores que eternizaram o amor em suas obras. E, mais do que isso, é também a terra de São Valentim, o padroeiro dos namorados, celebrado em 14 de fevereiro.

São Valentim viveu no século 3, na Roma Antiga, e desafiou as regras do imperador Cláudio II, que proibira os casamentos para manter seus soldados focados no exército. Valentim realmente foi um defensor do amor: desafiou as regras do imperador e continuou a realizar cerimônias em segredo entre os casais apaixonados até ser preso e executado em 14 de fevereiro de 273. Porém, o seu gesto não foi esquecido: séculos depois, em 496, o Papa Gelásio I o proclamou santo.

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A celebração do Dia de São Valentim tem suas raízes em diversas lendas que o associam ao amor e à reconciliação. Uma das histórias mais conhecidas conta que ele ajudou um casal em conflito a se reconciliar ao lhes entregar uma rosa, incentivando-os a segurá-la juntos – gesto que teria dado origem à tradição das rosas vermelhas na data. Outra versão diz que ele abençoava casais enamorados enquanto pombas voavam ao redor, inspirando a expressão italiana “piccioncini”, traduzida como “pombinhos apaixonados”. Seu legado atravessou séculos, e sua história continua a inspirar casais ao redor do mundo.

Em Turim, um dos lugares mais românticos e simbólicos para celebrar esse amor é o Parco del Valentino. Situado às margens do Rio Pó, o parque é um dos principais marcos da cidade. Com seus 550 mil metros quadrados, funciona como um “Central Park” de Turim, oferecendo uma vasta área verde em meio à paisagem urbana. Não se sabe exatamente a origem do nome do parque, mas conta-se que no local existia uma capela dedicada a São Valentim. Hoje, o Parco del Valentino combina história, arte e muito romantismo.

Entre os pontos mais icônicos do parque destaca-se o Castelo do Valentino, uma antiga residência da família Saboia que atualmente abriga a Faculdade de Arquitetura da Universidade de Turim. Há também uma vila medieval construída no século 19 para a Exposição Universal de Turim de 1884, um evento que celebrou o progresso industrial e cultural da Itália. O parque ainda abriga o Jardim Botânico de Turim, a famosa “Fontana dei 12 mesi” e é palco de diversos eventos culturais e festivais ao longo do ano, desde feiras literárias até apresentações musicais ao ar livre. Se você visitar Turim, não deixe de conhecer e “fare una passeggiata”, como dizem os italianos, para absorver toda essa atmosfera especial.

Uma das canções mais emblemáticas da cultura popular piemontesa é Piemontesina Bella. Essa música nostálgica fala sobre os romances que floresciam entre universitários durante seus anos de estudo em Turim, muitos deles vividos no Parco del Valentino. Com o fim da graduação, no entanto, muitos casais seguiam caminhos diferentes, deixando para trás amores impossíveis. Nos anos 1920 e 1930, o parque tornou-se um refúgio para casais apaixonados que buscavam privacidade em uma época em que relacionamentos eram frequentemente supervisionados pelas famílias e pela sociedade. Passear pelo parque era uma rara oportunidade para os “pombinhos” desfrutarem de momentos compartilhados sem olhares curiosos.

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O projeto ITALEA, uma iniciativa do Ministério do Turismo da Itália que ajuda brasileiros a se reconectarem com suas raízes italianas, e a Scuola Leonardo da Vinci, especializada no ensino da língua italiana, me convidaram para interpretar essa canção e compartilhar sua história nas redes sociais (Instagram e YouTube @beadummer). Foi uma experiência emocionante poder dar voz a uma música que carrega tanta história e significado.

Enquanto caminhava pelo Parco del Valentino, senti como se estivesse entrando em um conto de fadas. Encontrei uma escultura peculiar: um sapo com uma coroa na cabeça, em frente ao seu castelo – talvez esperando por um beijo para voltar a ser príncipe. O parque é repleto de detalhes encantadores, com flores, lagos e esculturas, que criam uma atmosfera mágica. Entre essas obras de arte destacam-se as criações do artista e jardineiro Rodolfo Marasciulo, como “I Lampioni Innamorati”, uma escultura delicada que representa dois postes de luz sentados em um banco, inclinando-se um para o outro, como se estivessem se abraçando.

A arte no Parco del Valentino convida à imaginação, à brincadeira e ao resgate da criança que existe dentro de cada um de nós. Talvez seja exatamente isso que o amor nos desperta: a pureza e a leveza de quem vê o mundo com encantamento. O amor é o sentimento mais nobre e transformador, capaz de dar sentido à nossa existência. Com certeza, São Valentim adoraria passear por esse parque, que mantém vivos seu nome e sua essência romântica.

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