Lady Gaga frustra expectativas em disco com boas referências, mas nostálgico demais


Primeiros singles de ‘Mayhem’ indicavam caminho grandioso, mas cantora que virá ao Brasil em maio é um pouco menos Mother Monster do que alguns imaginavam; leia análise do g1. Lady Gaga acabou se colocando em uma armadilha ao escolher “Disease” e “Abracadabra” como os dois primeiros singles solo de seu novo álbum, “Mayhem”. Expectativas foram criadas, especialmente entre os que nunca superaram o auge da cantora.
A segunda música, um pop dançante tão monumental quanto “Bad Romance”, chegou ao ponto de conquistar a honraria máxima da música no Brasil: ganhou a versão em forró “Abracachaça”, sucesso no carnaval deste ano.
No entanto, o trabalho completo, divulgado nesta sexta-feira (7), traz consigo uma notícia:
A Lady Gaga que virá ao Brasil em maio, para um show gratuito na Praia de Copacabana, é um pouco menos Mother Monster do que alguns imaginavam.
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Lady Gaga no Grammy 2025
Matt Winkelmeyer / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP
Considerando as prévias, o que a maioria estava esperando eram hinos grandiosos, refrãos exagerados e uma atmosfera teatral. Fãs já se preparavam para chafurdar na graxa de um som industrial bem sujo. O próprio nome indicava: “mayhem” quer dizer caos, em inglês. Não havia outra alternativa senão um disco caótico, conectado ao que há de mais antenado na música, mas sem deixar de lado o passado no dark pop.
Sétimo álbum de Gaga (considerando apenas os trabalhos solo de estúdio, com músicas inéditas), “Mayhem” marca o retorno da cantora ao estilo que foi responsável por sua ascensão, a partir do disco “The Fame”, de 2008, relançado no ano seguinte como “The Fame Monster”.
Com seus primeiros trabalhos, a artista de Nova York (EUA) esmagou o minimalismo com saltos plataforma, inaugurando uma era de excessos, em que a ambição se tornou lei na produção da música pop. Como personalidade da mídia, virou a “celebridade perfeita” — como ela mesma menciona agora, neste novo álbum –, aparecendo no Grammy dentro de um ovo e indo ao VMA num vestido feito de carne.
Lady Gaga usou vestido feito de carne no MTV Video Music Awards (VMA) de 2010
Mark Ralston/AFP
Mas, entre 2014 e 2024, Gaga se dispersou em incursões pelo jazz, country, folk e em trabalhos no cinema. No ano passado, seu bom desempenho em “Coringa: Delírio a Dois” não foi o suficiente para salvar o filme de um fiasco. “Harlequin”, álbum que ela lançou como complemento do longa, foi o que vendeu menos em toda a sua carreira.
Blondie a Michael
No “Mayhem”, ela traz, sim, o dark pop de volta, porém numa embalagem diferente.
Ao longo de 14 faixas, a cantora se entrega de corpo e alma a referências dos anos 1970 e 80, que vão do power pop punk da banda Blondie (“Zombieboy” é divertida) ao vocal dançante de Michael Jackson (ele ficaria orgulhoso ouvindo “Shadow of a man”).
É uma escolha interessante, que faz do “Mayhem” uma experiência cheia de groove. Junte a sensualidade de Prince, o brilho de David Bowie e o desespero de Gaga e encontre “Killah” (com o DJ francês Gesaffelstein), a melhor música do disco.
“Vanish into you” é construída com a tensão de algumas das faixas mais legais do “Born this way”, álbum de 2011. Com a levada funk e um refrão gritado, que certamente funcionará muito bem ao vivo, Gaga encontra o tom certo entre Bowie e Chappell Roan.
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Em outros momentos, porém, o conceito do novo disco se torna nostálgico demais, sem identidade.
“How bad do u want me” é inspirada em “Only you”, clássico de 1982 da dupla britânica Yazoo. Mas tem sintetizadores criando uma batida genérica que poderia ser de qualquer pop do início dos anos 80. E, estranhamente, parece muito uma música de Taylor Swift.
O vocal meloso de “How bad do u want me” parece deslocado, da mesma forma que a balada “Blade of grass” (que poderia estar na trilha sonora de “Nasce uma estrela”, filme protagonizado por Gaga em 2018) parece servir apenas para introduzir o megahit “Die with a smile”. Lançada em agosto de 2024, a colaboração da cantora com Bruno Mars é há 28 semanas a música mais ouvida do mundo no Spotify.
“The beast” mais uma vez evoca Michael Jackson e desperdiça um “tique-taque” hipnotizante em um arranjo suave demais, e a letra de “LoveDrug” repete uma receita muito parecida com a de “Disease”: amor, droga, remédio, veneno… A riqueza de metáforas nunca foi um trunfo de Lady Gaga.
“Mayhem” não é um álbum ruim. Longe disso: as boas referências criam pontos fortes. Mas talvez seja discreto demais para um momento em que muita gente estava sedenta por Gaga em sua versão mais exagerada, disruptiva e ousada. Agora, ela parece um monstrinho mais inofensivo.
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