“Se as cidades não aumentarem a arborização, se tornarão insuportáveis”, diz especialista

Na edição deste final de semana e em matéria já disponível no Portal Gaz, a Gazeta do Sul mostrou que termômetros marcam uma redução de temperatura em locais com sombra de árvores. Na avaliação do botânico e paisagista Ricardo Cardim, a diferença de temperatura auferida nas áreas centrais de Santa Cruz é corroborada por diversos trabalhos científicos que abordam o mesmo tema. “Isso já é inquestionável”, defende.

De acordo com o especialista, que há cerca de 15 anos atua na revitalização da biodiversidade em São Paulo, capital, todas as cidades brasileiras deveriam ter um Túnel Verde como o de Santa Cruz. A estrutura protege os pedestres ao reduzir a temperatura, contribuindo em períodos de ilhas de calor. Também contribui em eventos climáticos extremos, diminuindo as enchentes, ao segurar a chuva na copa e levando-a para o lençol freático.

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Para isso, são necessárias árvores de grande porte, para fazer sombra não só na calçada, mas também no asfalto. Segundo ele, é imprescindível que sejam espécies de porte maior. “Para uma pessoa leiga poder saber se a arborização é correta ou não, o primeiro sinal é se ela faz sombra nessas áreas. Ou seja, ela tem uma copa ampla, que cria uma proteção ampla, dentro do que a gente chama de Túnel Verde. Isso é desejável em todas as cidades brasileiras.”

Mas, afinal, por que mais cidades não possuem túneis verdes? Na avaliação de Cardim, embora tecnicamente seja “totalmente viável”, basta vontade política. “E não há vontade política”, afirma, em entrevista exclusiva à Gazeta do Sul.

Para o especialista, consagrado por projetos de grande complexidade em nível nacional e internacional, apesar dos inúmeros benefícios proporcionados pela implementação de árvores, as cidades brasileiras, de forma geral, parecem vê-las apenas como um mero enfeite. Cardim defende que tal ideia equivocada seja abandonada, uma vez que a ciência atesta que a vegetação é “imprescindível para a vida dos habitantes no ambiente artificial”. 

A impressão é de que atualmente, conforme o botânico, estamos plantando muito menos árvores do que os nossos antepassados. “Tanto que as árvores grandes que a gente tem na cidade são herança desses nossos avós. O que é um contrassenso. Na época deles é que não se tinha emergência ambiental, não tinha ciência, e no entanto eles plantavam árvores maiores do que as nossas de hoje.”

E, quando se planta, acaba não se cuidando delas. O que resulta em seu adoecimento e uma série de problemas, até que caiam ou levem a acidentes trágicos. Isso, por consequência, leva a comunidade a criar uma má vontade em relação à arborização.

Gestão das árvores

Cardim destaca a necessidade de os municípios administrarem a sua vegetação. Cita o exemplo de Berlim, na Alemanha, que monitora planta por planta para saber quais precisam ser substituídas.

“Quando você substitui essa árvore, você não vai colocar uma muda pequena. Você coloca uma muda grande, que já traz resultados muito rápidos, e de uma espécie que cresce bastante e faz sombra generosa. É isso que tem que ser feito. Mas isso está longe das cidades brasileiras, infelizmente”, avalia.

O botânico reforça a necessidade de os municípios contarem com equipes especializadas para cuidar das suas árvores. “Se você não cuida de seres vivos, eles adoecem ou morrem. Não há mais dúvidas de que já estamos passando pelas mudanças climáticas. Se não cuidarmos e aumentarmos a arborização das cidades, elas se tornarão insuportáveis para viver em poucos anos”, alerta.

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