Cheque: o fim de um meio de pagamento

No Brasil, o cheque passou a ser utilizado em 1845, após a fundação do Banco Comercial da Bahia, mas só foi estabelecido por lei 48 anos depois. Desde então, foi crescendo o seu uso; nos anos 1970, os grandes bancos, existentes na época, começaram a fazer campanhas para aumentar suas bases de clientes, o que, obviamente aumentou a circulação do cheque. Foi um dos principais meios de pagamento do Brasil.

Nesses dias, em conversa aleatória numa academia, a instrutora de 25 anos, talvez expressando um desconhecimento muito comum, principalmente entre jovens de até 30 anos, queria entender o caminho que o cheque faz, desde a sua emissão, passando pelo debito na conta do titular até o valor entrar na conta ou vir em espécie nas mãos do favorecido. Mas, para muitos de nós, com um pouco mais de idade, isso não seria dúvida; já tivemos nosso talão de cheques, de um ou até de mais bancos e sabemos como era a dinâmica.

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Por muitos anos, dispor de um talão de cheques era sinal de status, decorrente de um bom relacionamento com bancos. Quando era o cheque-ouro do Banco do Brasil, então, era a glória! O banco realizava convênios com lojistas, garantindo-lhes o valor do cheque até determinado limite, recebido de clientes para pagamento de compras, independente de o emissor dispor de saldo.

Por exemplo, ao comprar uma TV por R$ 4 mil, no preço de hoje, se a garantia individual do cheque era de R$ 1 mil, o cliente teria que emitir quatro cheques de R$ 1 mil cada um. Depois de algum tempo, por quebra de contrato e de confiança, a modalidade perdeu força e o cheque-ouro caiu na vala dos cheques comuns.

Como forma de pagamento, o cheque oferecia benefícios. O maior deles, não precisar carregar grande quantidade de dinheiro, principalmente quando envolvesse uma transação de maior valor. Outro benefício era fazer pagamentos parcelados, facilitando a vida de pessoas sem acesso ao crédito. Hoje, muitos comerciantes ainda preferem receber pagamentos de valores maiores em cheques para evitar as taxas das maquininhas dos cartões, desde, é claro, que confiem no cliente.Em recente transação de carro, o lojista preferiu receber o saldo da venda em cheques pré-datados, em vez de parcelar no cartão de crédito, para não pagar a taxa de maquininha.

O cheque permite também ser usado pelos comerciantes para programar pagamentos sem comprometer o limite pessoal do cartão de crédito. É o caso, por exemplo, do lojista que compra mercadorias para a próxima estação, com vencimento em data futura de alguns meses.

Há alguns anos, com o início da concorrência mais acirrada entre os bancos, a redução de custos é preocupação permanente entre as instituições financeiras. Os bancos tradicionais já conseguiram eliminar custos com impressão, transporte, conferências, etc, atribuindo ao cliente a emissão de suas folhas de cheques nos terminais eletrônicos. Mas, ainda ocorrem custos com o processamento do cheque, principalmente com mão de obra para conferir a assinatura e a importância por extenso, em cheques de determinado valor, o que fintechs e bancos digitais não tem porque simplesmente não oferecem esse produto em seu portfólio.

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Os bancos também enfrentavam desafios para lidar com cheques roubados, falsificados e clonados que, além de gerarem custos e, junto aos cheques devolvidos por falta de fundos, às vezes até de funcionários da própria instituição, contribuíram para a queda da confiança desse meio de pagamento.

Nos últimos anos, além dos problemas autodestrutivos, citados anteriormente, com a chegada dos meios de pagamentos mais modernos, como os cartões, o TED (Transferência Eletrônica Disponível), o DOC (Documento de Ordem de Crédito) e, em 2022, o PIX, os cheques perderam espaço. Conforme mostrou recentemente a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), o volume de transações com cheques caiu 95%, nos últimos 30 anos e, mais acentuadamente, nos últimos dez anos.

Apesar da expressiva redução, algumas empresas e consumidores ainda utilizam cheques como alternativa financeira. Mas, o foco das instituições está na digitalização e na redução de custos e no impacto ambiental, com eliminação dos cheques, responsáveis por grande consumo de papel. Enfim, o cheque, outrora símbolo de status e credibilidade, caminha para a sua extinção. É mais uma ferramenta, como telex, fax e tantas outras, com a qual pessoas de mais idade conviveram boa parte de suas vidas e que passam a ser itens de museus.

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